Todo motor a combustão precisa de um motor elétrico para começar a girar. Saiba como funciona o motor de arranque e como evitar problemas

Quem já tem mais de 30 anos se lembra de desenhos animados como Pica-Pau e Pernalonga, nos quais os personagens andavam em calhambeques e, para fazer esses veículos “pegarem”, giravam uma manivela externa. Essa manivela também existia na vida real, e era conectada diretamente ao virabrequim.

Em veículos urbanos de concepção moderna, essa manivela foi substituída por um motor elétrico, que todos nós chamamos de motor de partida ou motor de arranque. O motor de partida transforma a energia elétrica que recebe da bateria em energia mecânica para girar o motor a combustão e vencer a resistência ao movimento – causada pela compressão dos cilindros, atrito (que é ainda maior com o motor frio) e o peso das peças internas, como pistões, bielas e virabrequim.

“Assim como toda máquina, o motor a combustão necessita de um impulso inicial para deixar a condição de repouso”, explica o professor de engenharia da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), Fernando Landulfo. “Nos motores de combustão interna convencionais, ao se dar a partida, aciona-se o comutador de partida ou, nos modelos mais sofisticados, um controlador eletrônico. Esse elemento energiza um solenoide chamado de automático de partida, que promove o engrenamento entre um pinhão (impulsor ou bêndix), que recebe o torque de um robusto motor elétrico, com a cremalheira existente no volante do motor de combustão”.

Segundo Landulfo, quando o pinhão está totalmente avançado, um contato elétrico permite a energização do motor elétrico, que movimenta o pinhão e, consequentemente, o motor a combustão. “Quando este entra em regime, o condutor solta a chave e libera o comutador de partida. Assim, o solenoide e o motor elétrico são desernegizados.

Pela ação de uma mola, o pinhão retorna à posição original e o motor gira livre”, aponta o especialista, que também é consultor técnico das revistas CARRO e O Mecânico. “Nos modelos mais sofisticados, o controlador eletrônico mantém o motor de partida acionado até que receba um sinal de rotação indicando que o motor de combustão entrou em regime”.

Feito para durar

Há pouco a se fazer de manutenção, já que se trata de um conjunto de alta durabilidade, mesmo nos veículos com stop-start. As principais recomendações para evitar problemas são duas. A primeira é manter a bateria em ordem. A outra é ter cuidado na hora de dar a partida e não esquecer de voltar chave à posição inicial quando houver acionamento manual. Passar mais de 10 segundos forçando o segundo estágio da chave na ignição pode gerar muito calor e provocar superaquecimento e até a queima do induzido e das bobinas do solenoide. Se falhar, aguarde 30 segundos entre as tentativas.

Em dias frios, caso haja demora na ignição, não insista, principalmente após a terceira tentativa. Evite também empurrar o veículo: fazer o carro pegar no tranco pode causar avarias mecânicas, principalmente, em carros com injeção eletrônica ou com câmbio automático. Em motores com correia dentada, ela pode pular e tirar o motor do ponto.

Um erro gravíssimo é acionar a chave quando o motor já está ligado. “Ao tentar acionar o motor de partida com o motor de combustão ligado, o pinhão será empurrado contra a cremalheira em movimento. O choque entre os dentes pode danificar gravemente ambas as peças”, alerta o professor Landulfo.

Se o motor não pega ao dar a partida, o problema pode estar ou não no componente. Nesses casos, é necessário examinar bateria, sistema de ignição (bobina, cabos e velas) e problemas na linha de alimentação de combustível do veículo. Vale destacar que é preciso também ficar atento aos ruídos anormais durante a partida, ao funcionamento de todas as luzes de alerta no painel e no correto funcionamento dos sistemas de som e ar-condicionado.

Ao contrário de outros componentes de desgaste do veículo, o motor de partida pode ser recondicionado. Mas apesar de “ecologicamente correto” nesse sentido, é um componente que caminha rapidamente para a extinção, como a antiga manivela dos calhambeques: hoje os veículos híbridos, por exemplo, usam a própria porção eletrificada do trem de força para colocar o motor a combustão em movimento

Share This