Com o mesmo câmbio automático da Ford Ranger, modelo cearense está mais dócil para uso no dia a dia sem perder desenvoltura no fora-de-estrada. Mas ainda não ganhou airbags

 

Sinônimo de valentia nos terrenos mais difíceis, o Troller T4 é um off-roader à moda antiga e seus clientes, idem. Por isso, mudanças drásticas são encaradas com reserva. No Salão do Automóvel de São Paulo de 2018, a fabricante cearense de propriedade da Ford consultou o público sobre aquilo que faltava ao consagrado modelo. Uma expressiva fatia se concentrou em uma única resposta: câmbio automático. Seria um salto e tanto em comodidade para o uso diário. Mas, e a robustez?

O foco do desenvolvimento do novo Troller TX4 3.2 AT foi torná-lo mais versátil, afinal, quase nenhum dono de um modelo como este o utiliza como o primeiro carro da família. Mas para os fãs mais hardcore, não há motivo para pânico: esta versão preservou aquilo que o T4 manual tem de melhor, mas com evoluções que permitem que ele saia de casa não só para o lazer, mas também para tarefas diárias e viajar por longos trechos asfaltados sem cansar seus ocupantes.

A nova variante deste fora-de-estrada 100% brasileiro traz câmbio automático epicíclico de 6 marchas da família 6R80, a mesma que equipa a picape Ranger e os comerciais F-150 e F-250 – veículos de carga com peso bruto total bem maior que o jipe. Seu motor também tem origem nos utilitários da Ford: o Duratorq 3.2 Diesel gera 200 cv de potência e 47,9 kgfm de torque. Por ser 157 kg mais pesado (2.297 kg contra 2.140 kg do T4), o TX4 teve a suspensão recalibrada em razão do peso extra.

Para atender às exigências de torque máximo em baixas velocidades que a travessia de trilhas e dunas exige, as relações de marcha foram encurtadas e o gerenciamento eletrônico do câmbio foi reprogramado. Assim como na “prima” picape, tem três modos de condução: Drive (D), Sport (S) e manual.

O diferencial mudou: em vez do sistema de deslizamento limitado do T4, o TX4 tem diferencial traseiro com bloqueio mecânico acionado eletricamente por botão no console central (LRD). Voltado para uso em lama e areia, quando ativado, o bloqueio permite dividir o torque em 50/50 para as rodas traseiras. O bloqueio se desliga automaticamente quando o veículo ultrapassa o 40 km/h.

Em test drive oferecido à imprensa no Campo de Testes da Ford em Tatuí. SP, o trem de força agradou pela suavidade no asfalto e pela eficiência fora dele. Em situação de rodovia, o conjunto se comporta de forma linear em acelerações, escalando as marchas sem trancos mesmo nas retomadas fortes que exigem a redução de mais de uma marcha. Um ponto sensível do T4 manual é o consumo, mas a Troller informa que ainda não tem os números oficiais no padrão Inmetro.

Para um veículo de uso tão específico, o Troller TX4 tem uma tocada surpreendentemente dócil. Na condução em velocidades mais altas, para os iniciantes é necessário se acostumar com a direção bastante desmultiplicada, como é característico em veículos especialmente voltados para o fora-de-estrada. Em contrapartida, a suspensão transmite muita segurança na condução.

Os pneus Pirelli Scorpion MTR na medida 245/70R17, desenvolvidos e validados especialmente para o Troller automático, possuem composto voltado para uso misto, mas o desenho da banda de rodagem cheio de gomos não deixa qualquer dúvida da vocação lameira. Mesmo assim, até os 120 km/h, se sente ou ouve praticamente nada em ruídos ou vibrações. Parece que o veículo está usando pneus para uso urbano.

Já no trecho off-road, que durou cerca de 25 minutos, o sistema de transmissão como um todo se mostrou afinado para colocar o torque necessário nas rodas a todo momento. Há três opções de tração: 4×2 (tração traseira), 4×4 High (sem reduzida, que pode ser acionada em movimento a até 120 km/h) e 4×4 Low (com reduzida). Para engatar a opção reduzida é necessário colocar o câmbio em Drive, selecioná-la no botão, passar o câmbio para Neutro até que a luz indicadora no painel pare de piscar e, então, pôr o câmbio em Drive novamente.

Porém, com o diferencial bloqueante e o enorme torque providenciado pelo motor Duratorq, durante todo percurso o TX4 só precisou da reduzida em trechos de área fofa ou lama muito instável com “facões” bastante pronunciados. Em modo Drive, o câmbio é calibrado para “segurar” a marcha e evitar trocas desnecessárias quando a demanda de aceleração aumenta na transposição de obstáculos. Seus ângulos de entrada (53°), saída (50°), de transposição (30°), de inclinação lateral máxima (40°) e rampa (45°) seguem inalterados, assim como a capacidade de travessia de água (800 mm). 

Num primeiro contato, tudo indica que não houve qualquer prejuízo ao modelo com a adoção do câmbio automático. Pelo contrário: além de mais apropriado à condução fora de seu habitat natural, o TX4 parece ser um passo à frente da versão manual em sua especialidade original. A própria Troller afirma que este é o veículo com maior capacidade off-road que já produziu.

Ainda sem airbags

O pacote de equipamentos é satisfatório, mas não foi dessa vez que a Troller adotou airbags. O modelo continua se valendo da exclusão da obrigatoriedade prevista em lei para veículos classificados como fora-de-estrada – embora o modelo não tenha uso exclusivo nessa condição. Por outro lado, ganhou cinto de segurança de 3 pontos para os passageiros traseiros e engates Isofix para bancos infantis.

O acabamento interno do TX4 adota a cor laranja nos adornos das saídas de ar do painel e na costura dos bancos, estes revestidos em vinil. Ele herda do T4 manual a central multimídia JBL com tela de 6,75” e conectividade com Android Auto e Apple CarPlay, além de volante com ajuste de altura, ar-condicionado digital de duas zonas, vidros e espelhos retrovisores externos elétricos, computador de bordo, alarme, bancos traseiros bipartidos, tomada 12 V, preparação para instalação de dispositivos de navegação off-road, abertura e fechamento de portas e vidros com controle remoto, revestimento do assoalho em borracha, portanto lavável, e aviso sonoro de faróis acesos.

A pintura bicolor é exclusiva desta versão, com três opções de pintura (verde, prata e marrom) sempre combinadas ao azul Royal fosco que cobre toda área frontal, capô, snorkel (tomada de ar de admissão elevada), teto, estribos e para-choque traseiro. Os faróis principais possuem lâmpadas superbrancas, enquanto os faróis auxiliares são em LED e submersíveis, além de atingir 2.000 lúmens (80% mais potentes que os anteriores). As lanternas traseiras também são em LED, hermeticamente seladas. Traz ainda teto solar duplo de vidro, bagageiro com barras transversais ajustáveis e antena flexível e removível.

Enquanto a carroceria é confeccionada em compósito especial de alta rigidez, os para-choques e o protetor frontal são feitos de aço galvanizado com espessura de até 4 mm e alojamento para macaco do tipo “high-lift” tanto na dianteira quanto na traseira. Os estribos são em aço, com desenho cortado a laser.

O Troller TX4 já está à venda nas 18 concessionárias da marca no Brasil por R$ 167.530, uma diferença de R$ 25.700 em relação à versão manual. Um degrau consideravelmente grande, mas, aparentemente, transpor obstáculos é o menor dos problemas para um Troller: a fabricante afirma que todos os equipamentos do TX4 que não estão no T4 convencional, se fossem adquiridos separadamente no mercado, somariam em torno de R$ 33.000. Porém, como o modelo aspira mais do que nunca ao uso urbano, prescindir dos airbags é algo que a Ford deveria rever com urgência.

Ficha técnica Troller TX4

DADOS DE FÁBRICA

Motor Ford Duratorq 3.2 L 20V Diesel
Cilindrada 3.198 cm3   
Potência 200 cv a 3.000 rpm
Torque 47,9 kgfm a 1.750-2.500 rpm
Câmbio Automático de 6 velocidades
Suspensão (dianteira / traseira) Eixo rígido com barra estabilizadora e barra panhard, molas helicoidais (ambos os eixos)
Pneus e rodas 245/70R17
Freios (dianteira / traseira) Disco ventilado / Disco rígido
Peso (kg) 2.297
Comprimento (mm) 4.163
Largura (mm) 1.992 (com espelhos)
Altura (mm) 1.936
Entre-eixos (mm) 2.585
Porta-malas (litros) 149
Tanque de combustível (litros) 62
Preço R$ 167.530

 

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