A Chrysler do Brasil carimbou a história automobilística do país com dois modelos que levam na bagagem as glórias e as lutas da marca em meio a um mercado acirrado

As marcas estadunidenses sempre tiveram um olhar mais aguçado para o Brasil e um tanto visionário. Com o Grupo Chrysler não foi diferente. A companhia marcou a vida de alguns brasileiros com seus modelos Chrysler, Dodge, DeSoto e Plymouth. Entre esses entusiastas está José Eduardo Juliani Raito, um verdadeiro patriota automobilístico.

Disposto a colecionar o maior número possível de veículos de fabricação nacional, Eduardo teve o prazer de fazer parte da história da Chrysler do Brasil. Em junho deste ano recebeu uma home­nagem da FCA Fiat Chrysler Automobiles América Latina por seu Dodge Dart 1979 no 6º Encontro Brasileiro de Autos Antigos de Águas de Lindóia. Enquanto seu veículo faz aniversário de 40 anos, o modelo comemora 50 anos no Brasil.

Aos 63 anos, Eduardo viveu basicamente em paralelo com a trajetória da marca norte-america­na no Brasil. A Chrysler nasceu em 1925 tendo como maior intuito bater a famosa GM e seu Ca­dillac, que nos anos 30 já era vista como uma das principais marcas de luxo do setor. A fabricante estadunidense almejava muito e não poupou in­vestimentos para se tornar grande. Após alguns anos, a marca Jeep passava para as mãos da Chrysler com a compra da American Motors Cor­poration.

No Brasil, a Chrysler absorveu, em 1967, a Simca do Brasil. Em um primeiro momento a em­presa buscou melhorar a mecânica dos modelos da Simca, mas os planos de Victor G.Pike, res­ponsável pela vinda da Chrysler no país, eram muito maiores.

O primeiro fruto das expectativas de G.Pike nasceu em 1969 em um veículo da divisão Dodge, o Dart. O muscle car tinha um motor V-8 capaz de entregar 215 cv na versão Charger R/T. A fabrica­ção nacional do Dart queria alçar voo em cima de grandes concorrentes, como por exemplo o mar­cante Chevrolet Opala de 6 cilindros, além do seu arquirrival Ford Galaxie.

Um dos fatores interessantes do Dart é que ele realmente tinha coração valente, já que seu motor era o mesmo utilizado nos caminhões da Chrysler, mostrando que a briga pela preferência do brasi­leiro merecia muita força, literalmente.

Porém, seu motor se tornou um ‘calcanhar de Aquiles’ já que o consumo era alto de mais, fazendo em média 5 quilômetros por litro. Outro detalhe intrigante do modelo é a inovação estética em comparação com os concorrentes, pois o vi­dro traseiro era em formato côncavo.

Voltando ao Dodge Dart do Eduardo, o veículo já está na garagem do colecionador há 14 anos. “Quando me propus a ter uma coleção de car­ros de fabricação nacional o primeiro que adqui­ri foi um Opala Caravan e em seguida já chegou o Dart”, comenta. O paulistano não parou por aí com modelos da Chrysler, sendo que possui tam­bém um Dodge Polara.

Além de complementar a coleção do Eduardo, o Dodge Polara foi um encaixe perfeito na lacuna que a Chrysler tinha em veículos pequenos-mé­dios no Brasil nos anos 70. O modelo era basea­do no Hillman Avenger GT, inglês, adaptado para o mercado nacional.

Apresentado ao público em 1972, no Salão do Automóvel, chamado de Dodge 1800, com motor de 78 cv, logo, o Dodginho (seu apelido carinho­so) passou por algumas falhas, pois o lançamento foi feito às pressas. Para o embate com o Chevro­let Chevette, seu concorrente direto, a aposta do Chrysler deixava muito a desejar.

Um fato marcante para a história automobi­lística na qual o Dodge Polara foi pioneiro não é bem um ponto que a FCA gosta de lembrar, pois nos primeiros anos de lançamento eram tantos os problemas para se acertar no Dodge 1800 que o modelo foi o primeiro veiculo nacional a ter que realizar um recall.

Mas a história mudou de tom em 1976 quan­do o veículo ganhou oficialmente o nome de Do­dge Polara e teve seu desempenho aumentado com o motor passando a gerar 82 cv.

Um fator importante para a Chrysler e para o Dodge Polara aconteceu em 1979. Neste ano o braço brasileiro da empresa foi adquirido pela alemã Volkswagen, que passou a oferecer o mo­delo com a opção de câmbio automático de 4 marchas. Segundo Eduardo, um dos diferencia­dores do seu veículo é justamente esse: “Além de ter poucas unidades automáticas do Dodge Pola­ra por ai, ele foi o primeiro carro médio com essa configuração no país”, explica.

Na época, a Volkswagen realizou uma mudan­ça um tanto quanto inusitada quando adquiriiu a marca norte-americana: substituiu apenas o em­blema dos modelos da Chrysler, fazendo com que muitos achassem que “estavam vendo coisas” ao visualizar modelos Chrysler com um VW em seu capô. Na Argentina alguns destes Polara com lo­go VW ainda circulam.

Esquisitices à parte, o Dodge Dart e Polara mar­caram a indústria automobilística brasileira em vá­rios ângulos, apesar dos percalços que a Chrysler teve que passar para isso acontecer. Hoje, a marca integra o grupo FCA, grande potência industrial em todo o mundo, além de ter seus dois lugares impor­tantíssimos carimbados na garagem do Eduardo.

Fotos: Saulo Mazzoni

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