Hyundai HB20 Sport

Que o mercado é rei, acho que ninguém duvida. Grande parte dos consumidores está partindo para carros com câmbio automático. Por isso, nada mais natural que fabricantes de automóveis, de modo geral, venham suprimindo de suas linhas de modelos versões de câmbio manual. Mas será que preferência do mercado justifica a guinada que a indústria automobilística aqui instalada deu ao oferecer cada vez menos as versões de câmbio manual? Em minha opinião, as fabricantes que estão nessa linha estão erradas, e muito.

Se voltarmos 35 anos no tempo, poucos queriam câmbio automático, mesmo assim as fabricantes os tinham no seu leque de versões de um modelo. Chegou a haver Chevrolet Chevette e Dodge Polara com câmbio automático em pleno reinado do câmbio manual. Então isso quer dizer que, pensando inversamente, fica claro que produzir um modelo com automático e manual não constitui problema maior.

A desculpa que escuto de executivos da indústria quando argüidos a esse respeito é poucos hoje fazerem questão de câmbio manual e que por isso não vale mais a pena tê-lo em produção. E associado a esse fator há o de sair caro homologar um carro que vai vender pouco — caso, absurdamente caro mesmo, coisa de R$ 1 milhão para cada versão. O mesmo modelo com dois câmbios paga duas homologações junto ao Denatran.

Muitos devem se lembrar que da mesma linha de montagem da General Motors em São Caetano do Sul saía Omega, Vectra, Kadett e Corsa, até com mistura de motores e câmbios. Na Volkswagen houve um tempo em que havia dois tipos de câmbio manual de quatro marchas a escolher, o mesmo com a GM na linha Opala com motor de quatro e de seis cilindros, e o câmbio Gamma, de quatro marchas, que tinha a última marcha multiplicada em vez da habitual direta (1:1)..

É evidente ser inquestionável poder-se ter diferentes modelos na linha de produção. Se olharmos a variedade de modelos de grandes fabricantes europeus, em que até motor Diesel entra nessa mistura toda, fica patente que é perfeitamente possível termos um quadro muito parecido aqui, já que a indústria automobilística atual emprega os mesmos princípios e métodos no mundo inteiro.

A carência de mais modelos com versão de câmbio manual tem todo jeito de imposição das fabricantes, e isso inclui modelos que importam.

Em que pese os câmbios automáticos atuais serem incomparavelmente melhores do que os de 30 ou mesmo 20 anos atrás, os manuais também evoluíram em precisão de funcionamento, combinado com embreagens de acionamento cada vez mais leve, o que de certo modo faz cair por terra o conceito de automático para o trânsito anda e para é mais cômodo — de fato é, mas a diferença não é mais tão grande.

Que fique claro que não sou contra o câmbio automático, mas assim como quem o apreciava foi alvo de atenção 35 anos atrás, quem gosta de câmbio manual não é consumidor de segunda categoria e merece ser respeitado, como a General Motors fez com o novo Onix, disponível com os dois tipos de câmbio. .

Se os concessionários preferem não ter carros com câmbio manual no estoque por “encalharem”,  é só pedir à fabricante a versão que o cliente deseja mediante o pagamento de um sinal. Com os métodos de produção e a logística atuais é um procedimento que nunca foi tão viável.

O que não pode é um cliente perguntar numa concessionária Volkswagen se há Jetta GLI manual e ouvir do vendedor “O sr. vai se sujeitar a  passar marchas num carro desse?

Alguma coisa está errada e precisa ser mudado…


Bob Sharp
Bob Sharp
 é jornalista, foi piloto de competição e teve três passagens pela indústria automobilística. É também o editor-técnico da CARRO e mais um apaixonado por automóveis. Você concorda, discorda ou quer esclarecer algum assunto com o nosso colunista? Envie sua mensagem para: bob@revistacarro.com.br.logo Renault

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