Quando cheguei à redação e o chefe falou que eu iria avaliar a Brutale 1090RR ABS, da MV Agusta, pensei que não ia conseguir domar a fera. Momento de tensão. Mas, como missão dada é missão cumprida, separamos o macacão e todos os equipamentos de proteção. Sinceramente, com toda a imponência (sim, se alguma moto merece o adjetivo “imponente”, esta moto é da MV Agusta) e desempenho desta moto, uma esportiva nata —que só falta carenagem para entrar na pista — nem cogitamos sair para a avaliação com jaqueta e calça de cordura.

Saímos “vestidos a caráter” para acelerar com esta bela naked. Vale ressaltar que é uma motocicleta para quem já tem alguma experiência com motos de alta cilindrada, com alguns cursos de pilotagem no currículo. Por isso, tenha muito respeito pela moto antes de querer se exibir por aí sem a devida capacidade de controlá-la. Assim como uma Ferrari, ela dá show por onde passa com a sua beleza excepcional, fruto da mente do genial designer Massimo Tamburini, que visa criar obras de arte sobre rodas.

Saímos sentido às estradas, e, na congestionada capital paulista, vimos que ela não gosta de andar devagar. Em 20 minutos no trânsito, o pouco esterço do guidão nos deixou “presos” ali, e a temperatura do motor esquentou muito a pedaleira, que deixou a sola da bota “fervendo”, algo que incomodou. Chegando na rodovia, ficamos bem à vontade, desenvolvemos velocidades mais altas, e o motor (e pedaleira) logo voltou à temperatura normal. A estrada é onde ela deve estar sempre, e quanto mais quilômetros, melhor. O ronco do motor é lindo, ela responde de imediato às solicitações do acelerador, o câmbio é impecável, freia muito bem, mesmo com ABS desligado, graças aos ótimos pneus, permitindo alguns abusos.

No trecho sinuoso que percorremos até a cidade de Itu, interior de São Paulo, foi possível ver como a ciclística é aprimorada, permite mudanças rápidas de direção, e seus ângulos de inclinação são enormes, dignos de superesportivas de competição. Com DNA de competição, agrada pela boa posição de pilotagem, com bom nível de conforto. É possível ajustar esta MV (Meccanica Verghera) praticamente inteira para o seu gosto. Tem regulagens de manetes, de pedaleiras, do pedais de câmbio e freio traseiro, do amortecedor de direção (que ajusta a resistência do sistema ao estilo do piloto), da suspensão dianteira Marzocchi (pré-carga, retorno e compressão) e da suspensão traseira Sachs (pré-carga, retorno e compressão em alta e baixa velocidades). Sem contar os ajustes do controle de tração (em 8 níveis) e do freio ABS.

Obviamente é preciso tempo, a leitura do manual do proprietário de ponta a ponta e paciência (além de muito uso) para chegar à melhor configuração para você. Depois disso, é só diversão! Com a mesma cilindrada, medidas de diâmetro e curso dos pistões, o motor está 10% mais potente, graças a modificações no comando de válvulas — que são radiais — e na injeção eletrônica do motor. A moto agora tem 1 kgf.m a menos de torque, e a potência declarada de 58 cv, pouco menos que a BMW S 1000R com 160 cv.

Como curiosidade, a mais potente naked hoje é a Suzuki B-King, que declara estupendos 184 cv de potência. No dinamômetro, a diferença foi mínima entre os mapas do motor. No modo sport, basicamente o motor responde mais rápido. No modo normal, entra a estratégia anticapotamento (não empina) e a atuação do ABS tem foco maior no antitravamento das rodas, assim as frenagens tornam-se mais eficientes, especialmente aquelas mais bruscas ou emergenciais. Já no modo Race do ABS, não há a ativação da função anticapotamento e a intervenção do ABS é menos agressiva, mas mantendo a funcionalidade e a efetividade do sistema antibloqueio.

Nós gostamos da atuação do modo Race do ABS. Em relação à versão anterior, sem ABS — que avaliamos na edição 170 — ela ganhou mais potência e muita segurança com o ABS. A maior diferença é que está mais “domável”, menos bruta, exigindo (pouco) menos experiência do feliz proprietário. Concluindo, a mais completa das motos da família Brutale atrai muita atenção, seja parada, seja em ação em uma sinuosa estrada, sob o comando de um experiente piloto. Ela está um nível acima de tudo que hoje é oferecido no Brasil na categoria naked.

Se você teve a oportunidade de pilotar a Brutale 1090RR, sem ABS, e com os 144 cv declarados, encontrará nesta nova geração mais desempenho, com um nível de controle impressionante, que conseguiu tornar a moto mais suave, sem tirar nenhuma dose de adrenalina que esta MV oferece a quem está no seu comando. Se você nunca pilotou esta Brutale — ou qualquer MV Agusta —, já tem mais um item para a lista de coisas para fazer antes de partir desta para uma melhor. Para finalizar, tenha certeza de que cedo ou tarde você vai tomar uma multa por excesso de velocidade com ela…

Potência específica – 133,4 cv/litro
Relação peso(seco)/potência – 1,27 kg/cv
Consumo (cidade/estrada) – 12,5 km/l
Autonomia média – 287 km
Capacidade máxima de carga – 193 kg
Distância mínima do solo – 150 mm
Peso seco – 183 kg

Preço R$ 55.400

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