Modelos de sete lugares estão cada vez mais frequentes no mercado brasileiro. Porém, quais levam os dois passageiros extras com conforto?

Texto: Rafael Poci Déa

Fotos: Renan Senra

Quando estreou no Brasil, em 2001, o Chevrolet Zafira possibilitou maior praticidade ao oferecer lugar para até sete passageiros. Na sequência também surfaram na mesma onda os modelos Fiat Doblò, Nissan Grand Livina, Dodge Journey e Citroën Grand C4 Picasso, só para citar. Atualmente, essa versatilidade para as grandes famílias segue bem difundida entre os SUVs, crossovers e MPV (Multi Purpose Vehicle ou veículo de uso múltiplo) à venda em nosso mercado.

Seria uma jogada de marketing ou realmente é possível acomodar confortavelmente dois adultos na terceira fileira extra de bancos? Para sanar essa dúvida, selecionamos dez carros para serem avaliados por Luiz Cláudio Lacerda, ortopedista com 1,80 m de altura, cirurgião de coluna vertebral e professor da Faculdade de Medicina Santa Marcelina.

Com muito em comum e preços entre R$ 80.000 e R$ 400.000, convocamos para esse tira-teima Audi Q7 Ambition 3.0 V6 TDI, os Chevrolet Spin LTZ 1.8 e Trailblazer 2.8 CTDI, Land Rover Discovery HSE 3.0 TDV6, o chinês Lifan X80 VIP 2.0 TSI, Mercedes-Benz GLS 350d, Peugeot 5008 Griffe 1.6 THP, Toyota SW4 SRV 2.7, Volkswagen Tiguan Comfortline Allspace 1.4 TSI e o híbrido Volvo XC90 Inscription T8. Ou seja, escolhemos opções para todos os gostos e, principalmente, bolsos.

 

 

Chevrolet Spin LTZ 1.8

O mais acessível desta lista é o Chevrolet Spin, cuja reestilização veio neste ano atribuindo um caráter mais dinâmico, além da opção de sete lugares para a versão Activ. Segundo a fabricante, do lançamento em 2012 para cá, o Spin acumula mais de 200.000 unidades comercializadas no mercado nacional fazendo-o um sucesso entre as famílias e os frotistas.

A gama é composta pelas versões LS (R$ 67.290), LT (R$ 71.690), LTZ (R$ 82.590), Activ5 (R$ 84.690) e Activ7 (R$ 88.190). Mudado totalmente por fora, o MPV (Multi Purpose Vehicle ou veículo de uso múltiplo) agora exibe um visual mais horizontalizado e semelhante ao dos modelos Onix, Prisma e Cobalt. A terceira fileira extra de bancos está disponível nas configurações LTZ e Activ7.

Lá atrás, de acordo com as nossas medições aparecem 920 mm de distância do assento ao teto, 480 mm de comprimento do assento e 190 mm de espaço para as pernas. “O acesso é realizado em duas etapas e os dois ocupantes viajam com o quadril bem dobrado e em posição quase agachada, o que cansará em viagens longas. Também não dá para mudar a posição da perna, enquanto ombros e cotovelos ficam levemente encolhidos”, explica Luiz Cláudio Lacerda. Também lhe chamou a atenção os avisos de segurança para os pés e as mãos devido às fixações ficarem expostas quando a segunda fileira está erguida.

Lifan X80 VIP

Quem deseja mais espaço e pode desembolsar uma quantia maior tem no Lifan X80 VIP uma opção. Ele custa R$ 132.777, sendo o chinês mais caro à venda em nosso mercado. Para justificar, possui uma interessante lista de equipamentos de série, com quadro de instrumentos totalmente digital, teto solar elétrico, partida sem chave, rodas de 19”, bancos dianteiros (motorista e passageiro) reguláveis eletricamente e central multimídia com tela tátil de 8”.  

O motor 2.0 turbo TSI (mesma nomenclatura utilizada pela Volkswagen) entrega 184 cv de potência e 28,6 kgfm de torque entre 1.600 e 3.600 rpm. Uma boa sacada está na segunda fileira de bancos que corre sobre trilhos e foi alvo de elogios do nosso especialista.

No entanto, como aconteceu em outros carros da nossa análise, o acesso não é dos melhores. “Quem possui problemas de joelho ou de quadril não conseguirá entrar. Afinal, é preciso dobrar muito o corpo para acessar os últimos lugares”, diz. Uma vez acomodado na terceira fileira surgiram outras reclamações. “O encosto projeta o passageiro para a frente, de modo que um adulto só aguentaria uma viagem curta. Joelhos e quadril ficam bem dobrados. Somente um passageiro de 1,60 m e 60 kg viajaria tranquilamente na última fileira do Lifan”, completa Lacerda. A densidade das espumas também não agradou, mas um ponto positivo foi o bom espaço para os pés, cabeça e o encosto de cabeça amplamente regulável.

Volkswagen Tiguan Comfortline Allspace

O novíssimo Volkswagen Tiguan estreou no primeiro semestre deste ano e passou a ser construído sobre a moderna plataforma modular MQB (a mesma empregada no Golf e no Passat, por exemplo). A antiga geração do utilitário esportivo da VW utilizava a base PQ35 do Golf de quinta geração. Inteiramente repaginado, tem versões 250 TSI (R$ 128.990), Comfortline 250 TSI (R$ 149.990) e a empolgante R-Line 350 TSI (R$ 184.990) de 220 cv de potência e 35,7 kgfm de torque a partir de baixos 1.600 rpm. Estas duas últimas estão disponíveis com os dois bancos sobressalentes.

As medidas aferidas pela Revista CARRO são de 850 mm do assento ao teto, 350 mm de comprimento do assento e 210 mm de espaço para as pernas. “Igual acontece no Lifan, no carro da Volkswagen o encosto do banco projeta o ocupante para frente. O corpo vai muito inclinado e em posição mais dobrada comparado ao Chevrolet Spin. E a cada buraco, teoricamente, seria possível bater a cabeça contra o teto”, conta o especialista. A área reduzida gerou incômodo pelo espaço reduzido para os pés e a impossibilidade de mudar a posição das pernas. “Um espaço até razoável para crianças, mas nem pense em colocar uma pessoa idosa na última fileira de bancos do Tiguan”, explica.

Peugeot 5008 Griffe 1.6 THP

Concorrente do Volkswagen Tiguan Allspace, o também novato Peugeot 5008 está à venda nas configurações Griffe (R$ 175.990) e Griffe Pack (R$ 181.990). Entre os itens de destaque desta última estão o controlador de velocidade adaptativo e o detector de fadiga. Montado sobre a plataforma modular EMP2, que compartilha com o Citroën Gran C4 Picasso, é quase 20 cm maior comparado ao irmão 3008. É justamente essa diferença de proporções que resultou no espaço para até sete ocupantes.

Não só belo, como também divertido ao volante graças ao motor 1.6 turbo THP de 165 cv de potência e 24,5 kgfm de torque, o 5008 não mostrou a mesma eficiência quanto à área dedicada aos ocupantes que viajam lá atrás. “Não cabem os pés nem as pernas, além de o encosto e o assento do banco serem desconfortáveis. Isso coopera para que a viagem não seja agradável”, explica Lacerda.

Com medidas internas de 880 mm (altura do assento ao teto), 360 mm (comprimento do assento) e 230 mm (distância para as pernas), a vida a bordo para adultos ainda se complica devido ao desenho do banco. “Essa terceira fileira é somente para crianças, porém, sem muita área disponível para apoiar os braços. O quadril e os joelhos são as partes do corpo que mais sofrem no carro da Peugeot. Outro ponto a ser abordado está na tarefa de sair do habitáculo. É necessário arquear muito o corpo”, finaliza.

Chevrolet Trailblazer 2.8 CTDI

De um Chevrolet para o outro, a conversa muda de tom sensivelmente no Trailblazer. Ele é vendido na versão LTZ, com motores V6 3.6 a gasolina (R$ 188.890) ou 2.8 CTDI a diesel (R$ 229.890). Um utilitário esportivo imponente, que oferece uma carroceria de 4.887 mm de comprimento, 1.844 mm de altura, 1.902 mm de largura e 2.845 mm de entre-eixos. Curiosamente, a distância de 920 mm do assento ao teto é a mesma do Spin, porém, o Trailblazer possui 488 mm de comprimento do assento e 250 mm de distância para as pernas.

O vão livre para o solo é de 190 mm, mas o estribo ajuda na entrada ao habitáculo. “O acesso é descomplicado, mas para sair do carro requer uma certa ginástica. Nada que incomode”, explica. Um ponto de elogio está no bom espaço para a cabeça.

Entretanto, uma das principais reclamações do especialista é a posição dobrada em que o corpo viaja, assim como acontece no Spin, e a falta de espaço para os pés. Além disso, os ferros de fixação dos bancos requerem muito cuidado. “Em adultos, dependendo da força aplicada para abaixar o banco, pode ocorrer uma fratura ou a quebra de ossos no pé. Já em crianças, o caso se agrava e pode haver esmagamento ou até amputação do dedinho”, diz o ortopedista.

Toyota SW4 SRV 2.7

Arquirival do Trailblazer, o Toyota SW4 também oferece dimensões generosas e é comercializado nas versões de sete lugares SRV 2.7 (R$ 182.370) e as diesel SRX (R$ 259.560) ou Diamond (R$ 270.374). Só para comparar com a Trailblazer, o SUV da Toyota mede 4.795 mm de comprimento, 1.835 mm de altura, 1.855 mm de largura e 2.745 mm de entre-eixos.

Já o vão livre do solo de 279 mm é superior aos 190 mm do Trailblazer. “Igual acontece no carro da Chevrolet, o estribo ajuda na entrada, principalmente para as pessoas de estatura baixa ou mediana”, comenta Lacerda. Ao passar pelo crivo da nossa fita métrica, o espaço na última fi leira de bancos do SW4 é menor, com 850 mm de altura do assento ao teto, 190 mm de comprimento do assento e espaço para pernas ligeiramente maior de 260 mm.

Ao se acomodar nos bancos extras, segundo o especialista, o ocupante encontrará uma posição mais confortável para o quadril e uma boa inclinação para as costas comparado ao Chevrolet. Apesar dos elogios, falta espaço para os joelhos e a cabeça pode raspar no teto devido ao desenho da carroceria. Entretanto, as práticas saídas do ar condicionado no teto cooperam no bem estar de quem viaja lá atrás.

Audi Q7 Ambition 3.0 V6 TDI

O Audi Q7 (R$ 424.900 + R$ 11.000 pelo pacote de sete lugares) oferece uma alta dose de conforto e uma grande quantidade de itens de segurança ativa e passiva. A versão avaliada pela CARRO estava equipada com propulsor V6 3.0 a diesel com injeção de combustível do tipo common rail e câmbio automático de oito marchas. Esse conjunto mecânico oferece 258 cv de potência de 3.250 a 4.250 rpm e 61,17 kgfm de torque entre 1.250 e 2.750 rpm. Embora seja um motor movido a diesel, ele passou por alterações para se adequar às leis de emissões brasileiras. Não é um SUV barato, pois custa mais de R$ 400.000. No entanto, ele traz um recheado pacote de série e opcionais interessantes, como o sistema de esterçamento das rodas traseiras (opcional em pacote de R$ 27.000). Em situações de baixa velocidade ou manobras de estacionamento, as rodas traseiras esterçam em sentido oposto ao das dianteiras.

Já em velocidades mais altas, ambos os eixos viram para o mesmo lado permitindo mais agilidade na condução. Com 5.052 mm de comprimento, 1.741 mm de altura, 1.968 mm de largura e 2.994 mm de entre-eixos transmite um habitáculo para lá de confortável. Ou seja, é uma sala de estar ambulante. Lá atrás na última fileira aparecem medidas de 860 mm de altura entre o assento do banco até o teto, 420 mm de comprimento do assento e 180 mm de distância para as pernas. “A segunda fileira corrediça ajuda muito na hora de entrar na cabine. Aqui atrás, o assento do banco, o encosto para cabeça e o apoio para os braços são muito confortáveis, embora o joelho e o quadril fiquem muito dobrados. Já para sair do carro foi preciso arquear mais o corpo”, diz o especialista.

Volvo XC90 T8 Inscription

Outro exemplar na faixa dos R$ 400.000 é o sueco Volvo XC90 Inscription T8 (R$ 399.950). É o único híbrido da nossa avaliaçao de ergonomia. Essa configuração associa motor a combustão 2.0 turbo a gasolina de 324 cv de potência e 40,8 kgfm de torque a um propulsor elétrico de 88 cv e 24,5 kgfm montado no eixo traseiro. Esse sistema híbrido, segundo nossos ensaios, permitiu percorrer 18,2 km com apenas um litro de gasolina e, na estrada, cravou notáveis 14 km/l – vale lembrar que, em carros híbridos, o uso rodoviário consome mais por utilizar muito o motor a combustão. Estão disponíveis os modos de condução: Pure (elétrico, que liga o motor a combustão somente nas situações de demanda), Power (mais  esempenho), Hybrid (uso cotidiano), AWD e Off-Road (pisos com baixa aderência).

A linha 2018 do SUV chegou com a novidade dos sete lugares e a cabine esbanja muito luxo e requinte. Um detalhe que requer (muita) atenção é a alavanca de câmbio em cristal Orrefors esculpida artesanalmente. Absolutamente impecável por dentro, o XC90 traz revestimentos em couro, madeira e alumínio, sistema de áudio da renomada Bowers & Wilkins com 1.400 W de potência, bancos dianteiros com ajustes laterais, lombar e de apoio para as pernas, quadro de instrumentos em LCD e multimídia com tela de 12,3”.

O sueco possui dimensões de 4.950 mm decomprimento, 2.008 mm de largura, 1.776 mm de altura e 2.984 mm de entre-eixos. “É o melhor de todos os carros, pois oferece um bom espaço para os pés, uma posição confortável para o quadril, assim como os bancos são muito bem desenhados e o apoio para os braços é exemplar. Eu aguentaria uma viagem longa sentado na última fileira de bancos. Contudo, a entrada ao habitáculo é um pouco difícil”, explica Lacerda.

Mercedes-Benz GLS 350d

O transatlântico Mercedes-Benz GLS 350d (R$ 505.900) é construído sobre a plataforma do sedã Classe S. Grande, ele é o maior SUV da fabricante e, no passado, era conhecido pela nomenclatura GL. As dimensões avantajadas são de 5.130 mm de comprimento, 1.850 mm de altura, 1.934 mm de largura e 3.075 mm de entre-eixos. Como não poderia ser diferente, o Mercedes-Benz impressiona

pelo tamanho da cabine. Lá na fileira do fundão, as nossas medições comprovaram 960 mm de altura do assento ao teto, 460 mm de comprimento do assento e 200 mm de distância para as pernas. “Tanto para sair quanto para entrar no habitáculo, o carro não requer contorcionismos. Embora a posição das pernas seja um pouco apertada, o quadril e o joelho fi cam bem ergonômicos. É um dos bancos mais confortáveis desta avaliação, além de oferecer bons apoios laterais”, comenta. E no GLS até pessoas de alta estatura viajam e desfrutam de uma boa dose de conforto. “O corpo vai em posição ereta e o espaço para a cabeça é excelente, principalmente pela altura da carroceria. Eu encararia uma longa viagem tranquilamente neste carro”, observa Lacerda.

O GLS é um SUV feito para encarar as estradas. Portanto, oferece um motor V6 3.0 turbo-diesel de 258 cv e 63,2 kgfm de torque. Ou seja, é mais torcudo se comparado ao Audi Q7. O câmbio é automático de nove marchas. A tração integral permite ao “jipão” de robustos 2.455 kg acelerar de zero a 100 km/h em 7s8.

Land Rover Discovery HSE 3.0 TDV6

O Land Rover Discovery 4 virou apenas Discovery na nova geração. Parece coincidência, mas igual ao Q7 e ao GLS, ele também vem equipado com motor V6 3.0 turbodiesel de 258 cv, enquanto o torque é de 61,2 kgfm. Totalmente diferente ao antigo Discovery 4, o SUV esbanja 4.970 mm de comprimento, 2.073 mm de largura, 1.852 mm de altura e 2.923 mm de entre-eixos. O visual “quadradão” foi substituído pelas linhas mais arredondadas e passou a se assemelhar ao dos modelos Evoque, Discovery Sport e Velar.

Na última fileira de bancos, a altura do assento até o teto é de 930 mm, enquanto o comprimento do assento aferido foi de 470 mm e a distância para os pés de 260 mm. “O encosto para a cabeça oferece um ajuste bem amplo”, diz Lacerda. A suspensão a ar possui uma altura de acesso, que garante maior facilidade para entrar ou sair da cabine. “A posição do quadril e do joelho são mais naturais e há espaço para movimentar as pernas com facilidade durante um trajeto mais longo”, ressalta. No Discovery, a posição dos pés é boa, assim como o apoio para as costas é bastante ergonômico. Entretanto, nem tudo são flores no Land Rover. “O acesso à terceira fileira é ruim, com espaço de entrada reduzido, exigindo um certo malabarismo”, completa o ortopedista.

Conclusão

No caso de uma colisão, os pontos mais importantes a serem observados são a altura do encosto de cabeça e o espaço para as pernas, que podem determinar se as lesões serão de natureza leve ou grave. Ou seja, mais do que conforto, estamos falando de segurança. Entre todos os carros avaliados, os melhores, segundo o especialista são o Mercedes-Benz GLS 350d, o Land Rover Discovery e o Volvo XC90. Na faixa de preço mais baixa, o Chevrolet Spin se destacou por também apresentar um dos melhores acessos à terceira fileira de bancos.

Nesta avaliação não participaram os seguinte veículos: BMW X5, Citroën C4 Grand Picasso, Dodge Journey e Durango, Fiat Doblò, Hyundai Santa Fé, Kia Sorento, Land Rover Discovery Sport, Mitsubishi Outlander, Pajero Sport e Pajero Full, porque os respectivos
fabricantes e importadores não tinham os modelos para empréstimo.

Nota do Editor

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