Juntamos o Porsche Panamera 4 E-Hybrid e o Renault Kwid para um teste diferente. Afinal, qual deles gasta menos combustível?

Semelhantes apenas pelas quatro rodas, Renault Kwid e Porsche Panamera 4 E–Hybrid estão tão distantes como a Terra está de Netuno (5 bilhões de quilômetros). Seja pelos preços ou pelas tecnologias de propulsão. Não ficamos loucos tampouco comparamos o incomparável, afinal, pela Média PECO (Programa de Economia de Combustível aferida entre 55% cidade e 45% estrada), eles são os mais econômicos de suas categorias. Para tirar a prova e constatar qual deles vai mais longe sem gastar muito combustível fizemos um bate-volta de São Paulo ao Rio de Janeiro.

Bem diferentes
O motor a combustão
do Porsche
(dir) é um
V6 2.9 biturbo
com propulsor
elétrico, enquanto o
do Renault (esq.) é um tricilíndrico 1.0

 

Uma viagem de 895 km de distância entre ida e volta que se iniciou às 6h30 de uma quinta-feira de junho. E nosso ponto de partida ocorreu no primeiro posto de combustível da Rodovia Ayrton Senna após um café da manhã reforçado para aguentar os 434,4 km até a “cidade maravilhosa”.

Comigo, o nosso editor de testes Leonardo Barboza e o fotógrafo Saulo Mazzoni. Antes de iniciar essa jornada, os tanques do Renault (38 litros) e do Porsche (80 litros) foram completados com gasolina aditivada, os pneus foram calibrados seguindo as especificações das fabricantes e os computadores de bordo foram zerados.

Foi dada a largada

Hora de cair na estrada para enfim iniciarmos nosso teste de consumo. Mantendo uma distância segura do veículo à frente, a velocidade máxima estipulada foi de 120 km/h, conforme limite máximo da rodovia, e a cada praça de pedágio invertíamos a posição dos carros por conta da incidência do vento.

A bordo do Kwid, o “SUV dos compactos”, como o marketing da Renault o batizou, a sensação era de estar ao volante de um carro honesto. Vale lembrar que, após o lançamento, passou por três campanhas de recall: sistema de freios, suporte do motor e de combustível.

É um projeto indiano e barato feito para as massas, mas que recebeu aperfeiçoamentos estruturais para figurar no mercado nacional. O Kwid é oferecido nas versões Life (R$ 32.490), Zen, (R$ 36.990) e Intense (R$ 41.490). Todas elas trazem motor tricilíndrico 1.0 SCe de construção simples com 66 cv (G)/70 cv (E) de potência e 9,4 (G)/9,8 kgfm (E) de torque.

O câmbio manual de cinco marchas possui engates precisos. Esse conjunto transmite agilidade no trânsito e possibilita realizar ultrapassagens seguras desde que planejadas com antecedência. O motor trabalha cheio grande parte do tempo exigindo mínimas reduções de marchas. Outro ponto positivo está no peso de 786 kg, que garante uma relação peso-potência de 11,9 kg/cv.

Fizemos uma rápida parada em Queluz. Uma cidade entre as divisas estaduais do Rio de Janeiro, Minas Gerais e distante 238,6 km de São Paulo. Até o momento o computador de bordo do Renault aferia 19 km/l de consumo médio. As fotos foram realizadas com os dois carros ligados para descartar qualquer chance de haver uma alteração em nossa medição. Imagens clicadas e de volta à estrada até… Sermos parados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Nem todos os dias vemos um Porsche Panamera híbrido rodando por aí. Documentos averiguados, um exame de bafômetro realizado por nosso editor de testes e seguimos nosso caminho. Chegávamos à Serra das Araras com suas curvas fechadas e descidas íngremes. Neste ponto, o Kwid já cobrava o preço de sua ergonomia – a coluna de direção e o banco do motorista não ajustáveis em altura cansam o motorista depois de algum tempo dirigindo. As suspensões macias e confortáveis não fazem do Kwid exímio nas curvas e é possível sentir a carroceria rolando, mesmo em velocidade de 50 km/h. Além disso, ele peca no isolamento acústico e percebe-se nitidamente os ruídos do trabalho da suspensão e do vento. Entretanto, os freios ainda são o calcanhar de Aquiles do compacto. Borrachudos, é necessária uma pressão a mais no pedal do freio para diminuir a velocidade. A viagem seguiu até ingressarmos no Rio de Janeiro e chegar ao Parque do Flamengo, com o Morro do Corcovado ao fundo.

A curiosidade de todos era grande para verificar quanto o Panamera híbrido havia consumido depois de 6h45min dirigido por Leonardo Barboza. Mais que os 13,1 km/l de consumo médio, nos chamou a atenção os 196 km percorridos sem emitir nenhuma quantidade de poluentes. No Kwid, o consumo melhorou para 19,2 km/l e o computador de bordo registrou 82,6 km sem gastar uma gota de gasolina aditivada.

A volta para São Paulo

Sem ser pejorativo, mas saindo da água para o vinho, retornei à capital a bordo do Porsche. O Panamera 4 E-Hybrid custa R$ 529.000 – quase uma frota de 13 Renault Kwid – e pode chegar a R$ 1.242.000 na configuração Turbo S E-Hybrid Executive. A família de híbridos da fabricante de Sttutgart se completa pela variante Panamera Sport Turismo e pelo utilitário esportivo Cayenne.

 

Com a bateria quase cheia o Porsche fez 17,5 km/l. O Kwid tem indicador de direção ecológica

 

 

A engenharia alemã empregou ao Porsche um motor V6 2.9 biturbo associado ao propulsor elétrico. Só a unidade movida a gasolina entrega 330 cv de potência e 45,9 kgfm de torque, enquanto o motor movido a eletricidade soma mais 136 cv e 40,8 kgfm. Combinados aparecem um total de 462 cv e 71,4 kgfm. E não para por aí! Os dois turbocompressores estão instalados dentro do “V” do bloco de seis cilindros.

Dessa forma, contribuem na leveza do conjunto assim como, na diminuição do tamanho dos coletores de escapamento e no menor turbolag (aquele atraso antes de o turbo encher). O comando de válvula é variável na admissão e no escape para beneficiar a potência em baixas rotações. O desempenho seduz, principalmente para um carro de mais de duas toneladas.

O Panamera 4 E-Hybrid arranca com muita progressividade e vigor. Embora esteja preocupado com as baixas emissões e consumo, não deixa de transmitir todo o DNA da Porsche. Assim como o Taycan (antes chamado de Mission-E), o primeiro esportivo totalmente elétrico da marca, a recarga do Panamera pode ser feita na rede doméstica de 220 V entre 4 e 8 horas. Com a bateria completa é possível andar até 50 km de distância e chegar a 136 km/h de velocidade máxima só utilizando a eletricidade. Aliás, o propulsor elétrico vai instalado antes do câmbio de dupla embreagem PDK (Porsche Doppelkupplung) de oito marchas – a velocidade máxima é atingida em sexta, só para citar. Para ajudar no processo de alimentar a bateria, ao frear ou tirar o pé do pedal do acelerador o sistema regenera a energia para o conjunto de baterias. Um botão no console central permite carregar a bateria em movimento utilizando o motor a combustão.  Grande, com mais de 5 metros de comprimento, o Panamera impressiona pela agilidade nas mudanças de trajetória. A nova suspensão pneumática estreou no Cayenne, enquanto a tração é integral. Guardadas as devidas proporções, essa nova geração do Panamera está mais 911 do que nunca!

 

Interior do Porsche

Ao adotar uma postura de condução ecológica, o silêncio é absoluto e o único barulho é o da rolagem dos pneus no asfalto. Entretanto, ao pressionar o pedal do acelerador, dependendo da situação ou da quantidade de energia na bateria, entra em ação o V6 2.9 com dois turbos. Aí a conversa muda de figura, amigo leitor. O ronco grave fica mais audível ao pressionar um botão no console central.

E não é só isso, pois um seletor giratório no volante permite escolher entre os programas E-Power, Sport, Sport+ e Hybrid. No centro desse comando está o botão Sport Response, que ao ser acionado configura o carro por 20 segundos para entregar o máximo de desempenho. É preciso ficar esperto com toda essa tecnologia, pois não podemos nos esquecer da real proposta desse Porsche. Embora o trajeto de retorno ofereça mais trechos de subida e um tráfego maior de carros e de caminhões à nossa frente, o Panamera híbrido não deixou a peteca cair com médias de 12,6 km/l.

A nossa última parada no caminho de casa ocorreu na Rodovia Dutra, no município de Barra Mansa (RJ), onde completamos pela segunda vez os tanques dos carros. O Kwid já acusava ¼, enquanto o tanque do Porsche marcava um pouco menos de meio tanque. Ou seja, nenhum entrou na reserva. Após mais de 13 horas e 895 km percorridos em um dia, concluímos o nosso super teste de consumo em frente ao Estádio do Pacaembú.

Ao final da jornada, o Kwid cravou média de 18,7 km/l, enquanto no Panamera foi de 13,1 km/l – em alguns trechos cravou 17,1 km/l. Ou seja, o Kwid foi mais longe consumindo menos combustível – e menos dinheiro. Mas é o preço a ser pago pelo Panamera ser mais pesado e mais potente. Além disso, na estrada, o sistema elétrico não consegue dar conta sozinho, tornando essa vantagem do sistema híbrido quase inexistente nessas condições. Mas ele foi bem mais confortável em nossa viagem de SP ao RJ.

 

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