Há pouco mais de uma década, o conforto de um carro com ar-condicionado era, quase sempre, restrito a veículos luxuosos. Porém, nos últimos anos o cenário se transformou, impulsionado por diversos fatores. O aumento da renda da população e a chegada de marcas estrangeiras — que oferecem o equipamento já de série a um preço competitivo — modificaram o padrão de exigência dos consumidores. A isso, soma-se a crescente violência, que deu um novo papel ao acessório, o da segurança.
De acordo com estimativas de fornecedores, entre 70% e 80% dos carros que saem da fábrica já contam com esse equipamento. ‘”Foi uma mudança significativa, pois há quinze anos o percentual era apenas de 30% a 40%”, comenta Amaury Oliveira, diretor de engenharia e marketing da Delphi Soluções em Produtos e Serviços, empresa que fabrica mais de 1,5 milhão de compressores de ar-condicionado por ano. “Agora, a demanda por esse acessório movimenta tanto o mercado de componentes originais, quanto o de peças e o de serviços de reparo”, acrescenta Estevam Barna, gerente de Marketing de Produto da Magneti Marelli/Cofap Autopeças, que atua na venda de peças de reposição e máquinas para oficinas reparadoras.
Jaime de Mattos, instrutor técnico da Denso Brasil na unidade de Santa Bárbara do Oeste, SP, fabricante de autopeças e componentes automotivos, também lembra que é muito mais vantajoso adquirir o carro já com esse item do que fazer a instalação posterior. “Conforme o modelo, o valor pode dobrar ou triplicar”.
Os sistemas de ar-condicionado também ampliaram as zonas de conforto. A opção mais simples é a manual/analógica, na qual o usuário escolhe a escala de temperatura por meio dos botões giratórios. O mercado ainda dispõe de versões mais sofisticadas, como a automática, na qual o motorista escolhe sua temperatura ideal e o sistema a mantém sem necessidade de ajustes.
A partir da categoria média, os carros costumam ser equipados com modelos Dual Zone — em que é possível ajustar a temperatura para atender o gosto de motorista e passageiro — e outros ainda mais sofisticados, presentes em modelos luxuosos, que regulam a temperatura não só na parte frontal, mas também na traseira do veículo.
Melhor desempenho
A popularização do ar-condicionado também chegou com sucesso aos veículos de todas as categorias, incluindo aqueles com motores menores. Os sistemas de refrigeração também evoluíram, diminuindo as perdas de potência e o gasto de combustível. Tais situações, somadas ao preço, antes desestimulavam o consumidor e criavam uma série de mitos. Há 15 anos, por exemplo, calculava-se que havia uma perda de potência do motor com a utilização do ar entre 10 cv e 15 cv e um aumento no consumo de combustível entre 15% e 20%. “Hoje, o ar-condicionado absorve entre 5 cv e 6 cv e reduz de 7% a 8% o consumo de combustível”, esclarece Eliel Marcelino, engenheiro de aplicação para sistemas de climatização da Visteon.
A tendência aponta não só para números ainda mais atraentes, mas também para uma maior variedade de melhorias nos equipamentos. Hoje, o sistema como um todo é desenvolvido para minimizar tais perdas — que dependem da potência, do tamanho do veículo, da ocupação e da cabine, entre outros fatores. “O mercado conta com compressores mais ‘inteligentes’ que atuam conforme situações específicas sem a necessidade de fazer uso de sua potência máxima”, completa Oliveira, da Delphi. E, em veículos com motores mais potentes, “se há perda, ela é insignificante”, acrescenta Mattos, da Denso.
Marcos Campos, gerente de desenvolvimento de produtos de climatização da Visteon, também explica que as demandas dos mercados americano e europeu para atender à política de redução de emissões vêm impulsionando as novidades que incluem o desenvolvimento de sistemas para os veículos híbridos e elétricos e muitos aprimoramentos, nem sempre visíveis, mas perceptíveis para quem dirige.
A empresa, por exemplo, desenvolveu os conectores MSF (Metal Seal Fittings), componente que impede o escape do gás refrigerante pelos dutos do sistema, evitando a perda de eficiência na refrigeração e a eliminação do gás na atmosfera, o que contribui para o efeito estufa. “Além da questão ambiental, eles ampliam a vida útil do ar-condicionado, fazendo com que a manutenção ocorra em um intervalo de tempo maior que em sistemas convencionais”, explica Marcos Campos. O componente faz parte de diversos veículos na Europa, na Ásia e nas Américas do Norte e do Sul. No mercado nacional, está presente na nova geração do Ford EcoSport.
Gás na medida
Se o ar não refrigera, uma das causas pode ser o vazamento do gás refrigerante, por desgaste dos materiais. Após uma avaliação, tanto a recarga, quanto a troca ou a limpeza (para remover a umidade) só devem ser realizadas em oficinas especializadas.
Fora isso, não existe necessidade de troca periódica do gás. “Se houver, devem ser seguidas à risca o tipo e as quantidades de gás especificadas no manual do proprietário, de acordo com as capacidades volumétricas do sistema”, recomenda Mattos, da Denso. Até 1995, o gás utilizado era o R12, que causava danos à camada de ozônio. Atualmente, os sistemas operam com o R134a, que não contém cloro na composição e, portanto, é menos agressivo ao ambiente.
Limpeza obrigatória
A recomendação das fabricantes de automóveis quanto à manutenção do sistema de ar-condicionado — especialmente a higienização e a troca do filtro — depende do veículo, não só para garantir a eficiência do equipamento, mas também para minimizar os riscos de doenças respiratórias relacionadas à exposição de microrganismos que podem se alojar nos componentes do aparelho. “Mais do que isso, o tipo de utilização do veículo e sua exposição a condições adversas, como em estradas com muita poeira, terra ou ruas poluídas, exigem cuidados extras em períodos inferiores ao recomendado”, explica Barna, da Magnetti Marelli.
Nestes casos, não basta apenas trocar o filtro: a higienização deve incluir a limpeza de todos os componentes, dutos e serpentinas, incluindo o filtro de cabine — se ele existir. Embora não haja uma regra, a maioria dos modelos é equipada com este tipo de filtro (ainda conhecido como antipólen), porém alguns projetos não contam com este dispositivo que ajuda a reter odores e poeiras provenientes do exterior. Em resumo: existem carros sem ar-condicionado com filtro de cabine e modelos com ar-condicionado que não o possuem.
Se o sistema não atingir a temperatura desejada, exalar algum tipo de odor proveniente de umidade ou de fungos, ou apresentar diminuição do fluxo de ar, ruídos e barulhos, é sinal de que é hora da limpeza ou da manutenção. “Primeiramente, é preciso fazer a avaliação em uma oficina especializada”, observa Amaury Oliveira, da Delphi. “A higienização completa demora horas e consiste em desmontar, lavar e recolocar os componentes, só podendo ser feita em locais especializados. A limpeza química ajuda, mas não resolve o problema”.
Cuidados a tomar
1- O carro ficou muito tempo exposto ao sol?
Primeiro abra os vidros para expulsar o ar quente e renovar o ambiente. Acione o recirculador, feche os vidros e ligue o ar-condicionado até atingir a temperatura desejada. O ritual pode parecer bobagem, mas evita a demora na refrigeração e garante mais eficiência ao sistema.
2- Em carros em que o ar-condicionado não possui o controle automático, faça a reciclagem manual do ar a cada 15 minutos ou 20 minutos de uso para evitar a saturação do ambiente.
3- Ligue o ar-condicionado em épocas mais frias pelo menos uma vez por semana (não só para garantir uma temperatura mais agradável na cabine ou desembaçar os vidros): o procedimento ajuda a lubrificar o sistema e a proteger as conexões do ressecamento.
4- Desligue o equipamento pouco tempo antes de desativar o motor e acione a ventilação ao máximo para evitar choques térmicos e evaporar toda a umidade das peças, ajudando a diminuir a proliferação de microrganismos.
5- Não dê partida no motor ou acelere demais com o ar-condicionado ligado para não sobrecarregar o sistema.