O que vou fazer a seguir não é muito apreciado sob o ponto de vista jornalístico, mas, mesmo assim, peço licença para narrar um fato ocorrido comigo há aproximadamente cinco anos, durante uma viagem à China, quando conheci alguns executivos da Chery por lá.

Na época, um novo automóvel foi apresentado, o Fulwin 2, do qual um dos representantes da marca me antecipou: “Nós temos muita esperança com este carro no Brasil. Ele deverá ser bem aceito por lá.”

Pois bem, acabou levando mais tempo do que o previsto, mas eis que a tal novidade finalmente chegou ao nosso país rebatizado de Celer e trazendo uma notícia melhor ainda: ele será o responsável por inaugurar a fábrica que a marca está construindo em Jacareí, no interior de São Paulo, com capacidade para produzir até 150.000 carros por ano, operando em três turnos.

Agora vamos aos fatos. O Celer desembarca importado da China nas opções hatch e sedã, que custarão, respectivamente, R$ 29.990 e R$ 30.990 em caráter promocional até dezembro. O motor é comum a ambas, no caso, o 1.5 16V flex com 108 cv e 14 mkgf de torque a gasolina. Até a conclusão desta edição, a Chery não possuia os dados oficiais com etanol, mas de acordo com Mauricio Buzzito, gerente de serviços e pós-vendas da fabricante, a potência “deverá ficar em torno de 112 ou 113 cv”. 

Na hora de acelerar, o Celer se mostrou um carro condizente com o que traz sob o capô. Para se ter ideia, comparando seus números de teste com  alguns concorrentes diretos na faixa de preço, ele foi ligeiramente melhor do que o Fiat Palio Attractive 1.4, mas não anda junto com o VW Gol 1.6.

Apesar de não decepcionar nesse aspecto, o Celer poderia surpreender não fosse um problema: seu peso elevado. Basta dizer que ele tem quase 200 kg a mais do que os já citados Palio e Gol. E, justiça seja feita, o Celer é maior no porte, mas não o suficiente para servir como argumento.

Além de afetar o desempenho, o peso prejudicou o consumo. Com etanol, a média na cidade de 6,8 km/litro não foi tão ruim, mas atingir apenas 10 km/litro em rodovia não é nada bom.Outro item que precisa ser revisto com prioridade no Celer é o sistema de freios. Seu pedal funciona como um “liga/desliga”, por isso falta ao conjunto atuar de forma mais progressiva em resposta a cada solicitação do motorista.

Em nossos testes, o Celer registrou um fading dentro do tolerado, porém os resultados de frenagem mostraram-se aquém do esperado, sendo que ele precisou de 43,6 m para parar vindo a 100 km/h. Mesmo considerando que ele tem ABS, é nítido que ele precisa de um retrabalho na potência de frenagem.

Em relação aos chineses que já rodam por aqui, o Celer mostra que a Chery está interpretando melhor o gosto dos brasileiros para o acerto da suspensão. Ela é ligeiramente mais dura do que o encontrado até então, uma pena é que a forte oscilação transversal do carro ainda persista. Basta encontrar uma curva mais fechada pelo caminho que você vai notar.

A sensação geral que o Celer transmite, contudo, é boa. Durante a semana em que ele esteve conosco não notamos ruídos incômodos ou quaisquer falhas mecânicas.

Voltando para a suspensão, ela trabalhou sempre de forma suave, sem problemas de fim de curso ou algo que possa depor contra. Destaque para o câmbio, que conta com engates precisos, só carecendo de mais suavidade.

De acordo com a Chery, em relação ao projeto original do Fulwin 2, foram realizadas 147 alterações no hatch e outras 150 no sedã para as unidades destinadas ao Brasil. O modelo chinês contava com algumas soluções bem exóticas, como uma série de luzes-espia na parte superior do painel logo a frente de motorista e passageiro. Com isso em mente, podemos dizer que o Celer conta com um interior mais “clean”, além da troca da tonalidade, que substitui as cores claras, mais preferidas entre os chineses, por plásticos escuros.

Não se notam falhas gritantes de montagem, porém os revestimentos utilizados na cabine aparentam uma simplicidade extrema, algo que nem as maçanetas internas cromadas conseguem disfarçar.

O porta-malas de 380 litros do hatch (450 litros no sedã) é muito bom considerando a média da categoria. Curioso é notar por dentro do Celer a inspiração em algumas marcas mais tradicionais. O controle rotativo para acendimento dos faróis, por exemplo, lembra, não só pelo formato, como também pela posição onde está instalado, o padrão adotado pela VW. 

A expectativa da Chery é comercializar neste ano cerca de 900 Celer por mês. Se ela conseguirá? A resposta é difícil, uma vez que ele está inserido na faixa mais competitiva do mercado. A diferença de preço para modelos bem estabelecidos no mercado, como Gol e Palio com o mesmo nível de equipamentos do Celer, pode superar R$ 5.000, o que lhe serve de argumento. Caberá ao chinês a dura tarefa de conquistar esses clientes.

Ele ficará mais barato quando sair da fábrica paulista? “Nós vamos trabalhar para baixar o preço, porém o ‘custo Brasil’ com a produção local talvez não nos dará uma margem muito grande para isso”, adianta Luis Curi, CEO e vice-presidente da Chery no Brasil. De qualquer modo, agora instalados no país, fica claro que eles não estão aqui a passeio.

Média final: 6,6

O Celer apresenta falhas que incomodam, mas é a prova de que os chineses estão evoluindo e não tardará para que seus carros alcancem o padrão internacional de qualidade. Para fazer sucesso por aqui ele deveria ser mais barato. – César Tizo

Seu bolso

Preço (carro testado): R$ 29.990
Desvalorização (1 ano): 10,4% 
Garantia: 3 anos (total) 
Financiamento (taxa mensal): 0,99% 
Parcela (50% de entrada + saldo em 36x): R$ 605 
IPVA (4%): R$ 1.199 
1ª revisão: R$ 504 
Versão básica: R$ 29.990

Nossas medições

Aceleração 0-100 km/h: 12s8
Retomada 60-120 km/h em 4ª:17s8
Frenagem 80 a 0 km/h (m): 27,1
Consumo cidade (km/l): 6,8
Consumo estrada (km/l): 10
Ruído a 120 km/h em 5ª (dB): 70,3

Dados da fabricante

Motor 4 cilindros, dianteiro, transversal, flex; Cilindrada 1.496 cm3; Potência 108 cv (gasolina) a 6 000 rpm; Torque 14 mkgf (gasolina) a 3 000 rpm; Câmbio manual, 5 marchas; Tração dianteira; Comprimento 4,13 m; Largura 1,68 m; Altura 1,49 m; Entre-eixos 2,52 m; Porta-malas 380 l; Peso 1.200 kg.