Você está acostumado com o ótimo padrão dos carros premium, só que agora, pelos mais variados motivos, precisa de um automóvel com espaço interno mais generoso. Partir para um SUV parece ser a solução mais lógica, mas não são todos que gostam da posição de dirigir elevada, nem da maior altura em relação ao solo de um modelo desse tipo. Se esse é o seu caso, as escolhas começam a ficar cada vez mais limitadas. Ao menos se ainda restassem algumas station wagon, a situação poderia ser melhor.
Mas nem tudo está perdido. Pensando em explorar um nicho bem peculiar do mercado, a BMW resolveu estender sua proposta Gran Turismo, inaugurada na Série 5, também para a Série 3.
O objetivo da marca com o Série 3 GT é “oferecer mais versatilidade em relação ao sedã, mas sem comprometer a esportividade”. Se o estilo da carroceria causa estranheza à primeira vista, não se pode negar que o Série 3 GT ficou mais proporcional que o Série 5 GT. A fórmula parece ter sido feita para ele.
Com 40 litros a mais no porta-malas em relação ao sedã (520 litros contra 480 litros) e um acesso fácil, não há do que reclamar em termos de aproveitamento. Com os bancos rebatidos é possível acomodar 1.600 litros de bagagem no Série 3 GT.
Com ganho de 11 cm no entre-eixos e pouco mais de 9 cm na altura em relação ao três-volumes tradicional, o 328i GT é excelente no espaço interno. Só não é possível dizer que ele acomoda cinco adultos com conforto, devido ao túnel central elevado (um “ônus” da tração traseira), porém, mesmo os passageiros mais altos não terão do que reclamar até no banco traseiro. Logo, no que diz respeito à versatilidade, a BMW executou com louvor a ideia do projeto.
Só que ao volante o 328i GT tem uma peculiaridade. Ele é um modelo tão equilibrado quanto qualquer outro BMW, porém, na comparação com o 328i Sedan, ele parece mais “pesado”, com reações ligeiramente mais lentas. Nesse ponto, se ajuda a melhorar o espaço interno, o entre-eixos maior cobra a conta. A balança também não favorece o GT, uma vez que ele tem 145 kg a mais que o sedã (1.595 kg vs. 1.450 kg).
Veja só como isso repercute nos números de desempenho. Os dois 328i foram próximos nas provas, mas com uma leve vantagem para o sedã. Na prova de 0 a 100 km/h, por exemplo, ele precisou de 6s4 contra 6s7 do GT. Na retomada de 60 km/h a 120 km/h a diferença foi ligeiramente maior, com 5s5 para o sedã e 6s8 para o GT. Um ponto que nos chamou a atenção, contudo, foi a diferença no consumo de combustível. As marcas de 9,2 km/l em ciclo urbano e 15,2 km/l em estrada do sedã subiram para 7,5 km/l e 12,7 km/l no Gran Turismo.
A dupla formada pelo motor 2.0 bitubo de 245 cv e o câmbio automático de 8 marchas continua impecável, uma das referências no segmento. As respostas sempre rápidas — é difícil notar qualquer lag do turbo — e a agilidade com que a as marchas são trocadas, tornam o 328i GT um carro muito instigante. Selecionando o modo Sport ele fica ainda mais arisco. Um verdadeiro esportivo, assim como ocorre no sedã. A suspensão, que conta com estrutura de baixo peso, trabalha muito bem no GT, conferindo um comportamento neutro e estável.
Esse tipo de comprometimento entre prazer ao volante e bom desempenho é raramente encontrado em modelos que oferecem um interior tão interessante como o do Série 3 GT. Claro que, como você já conferiu, é necessário fazer um pequeno sacrifício em comportamento dinâmico na comparação com o sedã.
E a BMW deixa seus clientes bem livres para fazer essa escolha, uma vez que o GT é apenas R$ 8.000 mais caro. Considerando que as duas opções estão situadas na faixa de R$ 200.000, a diferença está longe de ser proibitiva.
O acabamento interno tem ótimo padrão, incluindo revestimento de couro e teto solar panorâmico. Com amplificador, equalizador e 9 alto-falantes, o sistema de áudio do 328i GT impressiona pela qualidade. Apesar de não contar com a assinatura de nenhuma grife famosa por trás do projeto, ele é capaz de reproduzir de funk a ópera com muita clareza. Destaque também para a excelente vedação acústica conseguida pela BMW a bordo do modelo.
O 328i GT também conta com uma central multimídia completa, incluindo navegador, tela de 8,8” e sensor de estacionamento com câmera de ré. Um detalhe interessante é que ela pode ser operada de duas formas, por meio do seletor rotativo, tanto girando a peça como deslizando os dedos em sua face superior, tecnologia chamada de iDrive Touch Controller. Completam a lista de itens de série os bancos dianteiros com acionamento elétrico, ar-condicionado automático digital e os detalhes de aço escovado no painel.
Uma ausência sentida é a da regulagem elétrica do volante de direção, item que deveria constar em um BMW desse nível, ainda mais considerando-se que o 328i é a versão mais cara do GT. A tampa traseira, em compensação, possui acionamento elétrico e basta ativar uma tecla na chave ou na própria estrutura da porta para acioná-la, o que garante uma dose extra de conveniência.
Se você gostou do que leu até agora, saiba que o Série 3 GT também chega ao Brasil em uma versão mais acessível, a 320i GT, por R$ 159.950, ou R$ 45.000 a menos que o 328i GT. Além da menor potência — no 320i o mesmo 2.0 biturbo entrega 184 cv — os dois se diferenciam, basicamente, pelas rodas maiores no 328i GT, com aro 19”, e pela suspensão esportiva da linha M. Resta saber se a BMW também oferecerá o mesmo 2.0 flex do 320i sedã no Gran Turismo, que o tornaria muito interessante.
Não custa recordar que a BMW deixou de importar o Série 5 GT por não haver uma procura considerável pelo modelo. Resta, portanto, aguardar a reação do mercado à mesma proposta agora na Série 3, mais compacta e racional em relação ao “primo”. É um produto interessante, mas que tem no sedã um “concorrente” e tanto.
Conclusão: 8,5
O 328i GT é a opção para quem quer se sentir a bordo de um sedã alemão de luxo, mas precisa de mais espaço interno e porta-malas. Se esse é o seu caso, ele vale o investimento. Caso contrário o Série 3 convencional é um boa pedida.
Seu bolso
Preço (carro testado): R$ 204.950
Desvalorização (1 ano): 10,8%
Garantia: 2 anos
IPVA (4%): R$ 8.198
Versão básica: R$ 204.950
Nossas medições
Aceleração 0-100 km/h: 6s7
Retomada 60-120 km/h em Drive: 6s8
Frenagem 80 km/h a 0 (m): 23,7
Consumo cidade (km/l): 7,5
Consumo estrada (km/l): 12,7
Ruído a 120 km/h em Drive (dB): 63,5
Dados da fabricante
Motor 4 cilindros, dianteiro, longitudinal, turbo, gasolina; Cilindrada 1.997 cm3; Potência 245 cv a 5.000 rpm; Torque 35,6 mkgf a 1.250 rpm; Câmbio automático, 8 marchas; Tração traseira; Comprimento 4,82 m; Largura 1,82 m; Altura 1,50 m; Entre-eixos: 2,92 m; Porta–malas 520 litros; Peso 1.595 kg.
