Com a primeira marcha selecionada, acelero fundo e as rodas giram em falso. Não é à toa, afinal são 560 cv à disposição. Engato a segunda, mas o carro segue derrapando. O piso de cascalho e os pneus lisos de competição (slicks) também não ajudam. Em poucos segundos, os LEDs na parte superior do pequeno quadro de instrumentos indicam que o motor atingiu 7.800 rpm e é hora de cambiar novamente.

O Fusca arremessa pedriscos e levanta poeira, criando um ótimo cenário para fotos, mas ruim para quem deseja avançar com rapidez.

O Super-Fusca foi criado pela Volkswagen da América
Terceira marcha e o embate potência vs. tração continua acirrado. Agora estou a 100 km/h e o Besouro avança balançando um pouco a traseira. Então, chega o grampo do único circuito permanente de ralicross da Alemanha que, felizmente, é de asfalto. Os pneus, então, agarram-se ao piso, enquanto piso com força no freio, reduzo a marcha e, na sequência, aciono o freio de mão quase ao mesmo tempo em que esterço o volante rapidamente.

A manobra é mais complicada do que parece, ainda mais por conta da velocidade, mas o Fusca GRC (sigla de Global Rallycross Championship) se mostrou impecável.

DUPLA PERSONALIDADE
Pouquíssimas vezes tive a oportunidade de constatar tamanha diferença entre a aparência inofensiva e o desempenho selvagem e incrivelmente rápido em um carro de corrida. É um caso perfeito de Dr. Jekyll e Mr. Hyde automobilístico. E, como se não bastasse, a inocente pintura branca realça essa impressão.

A história dessa máquina começou quando, em meados de 2014, um pedido interno foi encaminhado à Volkswagen da América. “Nos perguntaram se poderíamos construir um Fusca de competição”, lembra Eduard Weidl, gerente de projetos da Volkswagen Motorsport. “Aceitamos na hora”, conta, sorrindo.

Na prática, os técnicos puderam aproveitar muitos itens usados no Polo WRC, que vem dominando o Mundial de Rali nos últimos anos. A suspensão com 240 mm de curso, por exemplo, enfrenta os obstáculos das pistas de ralicross sem grandes dificuldades e ainda se sai muito bem sobre asfalto. Além disso, a tração integral também é utilizada no ralicross.

Nessa competição, porém, o diferencial central é proibido, e por isso o Fusca GRC utiliza dois diferenciais de deslizamento limitado (um na dianteira e outro atrás). O câmbio é sequencial de seis marchas e o uso de sistemas de auxílio, como controle de estabilidade, é proibido.

Um dos vários voos do Besouro, este em Fort Lauderdale (EUA)

À frente do piloto, sob o capô, está o motor de 2 litros e quatro cilindros, montado em posição transversal. Ele é superalimentado por um turbo de dimensões generosas, que conta com um sistema antilag, graças ao qual o Fusca GRC não enfrenta nenhum problema em rotações mais baixas, já que o torque máximo de 64,3 kgfm está disponível a 5.000 rpm e sua curva é quase plana.

E se acelera rápido, esse Super-Fusca também precisa parar rapidamente. Para isso, ele conta com bem dimensionados discos ventilados na dianteira e na traseira, com 355 mm e 300 mm de diâmetro, respectivamente, além de pinças de alumínio com quatro pistões. As rodas de liga leve têm 17” e usam pneus 240/640 R 17 especiais para competição.

RÁPIDO COMO UMA BALA
E já que falamos em números, surge a pergunta que todos querem fazer: Em quanto tempo o carro acelera de 0 a 100 km/h? Weidl sorri, mas sai pela tangente: “Não estou certo, mas acho que é menos de 2s5”. Impressionante? Então saiba que, de acordo com os números da fabricante, o GRC arranca em 2s2, ou seja, mais rápido até que um Fórmula 1.

A outra questão que não pode faltar é: Por que usar um Fusca? A resposta é mais simples. Como a disputa do GRC se concentra nos Estados Unidos, não faria sentido utilizar o Polo, que não é vendido nesse mercado. Mas também existem motivos estratégicos.

“O Fusca encarna o estilo americano como nenhum outro VW”, explica Clark Campbell, gerente de marketing da VW da América. O visual exclusivo é garantido por itens como a generosa asa traseira, os para-lamas redimensionados e o para-choque e o capô dianteiros. Com 4,28 m de comprimento e 1,81 m de largura, o Fusca GRC é ágil e fácil de controlar nos circuitos travados usados no torneio.

Dados oficiais da fabricante

CONTROLE DO CAOS
A equipe oficial da VW no Global Rallycross Championship, a Andretti, possui dois pilotos: Scott Speed, que correu na F1 em 2006 e 2007 e na Nascar entre 2008 e 2013, e Tanner Foust, famoso por atuar como dublê em diversos filmes e ainda participar da versão americana da série “Top Gear”, onde exibe suas habilidades ao volante. Além disso, foi campeão da categoria em 2011 e 2012.

E é Foust quem melhor define o Fusca GRC: “É um carro pequeno e aparentemente comum, mas é um erro deixar-se levar por essa falsa impressão. Ao volante dessa supermáquina, você sente que pode controlar o caos!”             

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