Surgem os primeiros sinais mais claros de que a criação da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) foi um movimento empresarial bem-sucedido. Em junho, as vendas de carros do grupo na Europa cresceram mais do que o mercado: 17,7% ante 14,8%, na comparação com o mesmo mês de 2014. Foi o melhor resultado do grupo desde 2010.

O grupo experimentou crescimento em todos os países mais importantes do bloco, como Alemanha, França, Espanha e a própria Itália, onde obteve avanço de 20,1%. A participação da FCA no mercado europeu é de 6,2%.

O segmento dos compactos é dominado pela FCA há 30 meses consecutivos, com os Fiat 500 e Panda respondendo, juntos, por 27,7% das vendas. E o Jeep Renegade emplacou 5.400 unidades em junho, número considerado muito bom para uma marca antes irrelevante na Europa.

Como poucos outros carros, o Lancia Ypsilon tem... personalidade

Mas talvez o maior símbolo do acerto da FCA seja o desempenho da marca Lancia, pouco lembrada no Brasil, e que na Europa recebeu a missão de adaptar os modelos Chrysler ao mercado local (o sedã hiper-americano 300 C, por exemplo, virou Thema). Foram cerca de 6.400 emplacamentos em junho (0,5% de participação), acumulando 36 mil carros no ano (também 0,5% do mercado).

No mês passado, quase todos os Lancia emplacados no Velho Continente — cerca de 6.000 — foram unidades do compacto Ypsilon, que cresceu 4,7% no geral e 35,8% na Itália. CARRO ONLINE resolveu conhecer melhor o modelo, cujo nome é grafado por extenso (Ypsilon, e não apenas Y) e que usa a mesma plataforma do 500.

Talvez o carro mais parecido com o Ypsilon seja o antigo Citroën C3
FEIO, MAS BONITO
Foi uma grata surpresa, até porque, ao primeiro olhar, o Ypsilon causa estranheza: parece um Citroën C3 antigo, com grade frontal e conjunto óptico relativamente baixos e pequenos, e conjunto de luzes traseiro vertical e estreito. Basta um pouquinho de convivência, porém, para simpatizar com o jeito invocado do carrinho. É um “feio bonito”, digamos assim.

O posicionamento da alavanca de câmbio denuncia o parentesco com o 500, com quem o Ypsilon divide plataforma e linha de montagem na Polônia desde 2011: fica elevada acima dos assentos dianteiros, bem à mão do motorista. Curiosamente, o painel de instrumentos é centralizado, mas não tem qualquer outra característica especial (a tela do computador de bordo é a mesma dos Fiat Punto e Bravo brasileiros).

Painel do Ypsilon é no centro e usa peças conhecidas de carros da Fiat
O fato de medir apenas 3,84 metros de comprimento (2,39 m de entre-eixos) é estratégico para o Ypsilon: vagas de estacionamento nas ruas italianas (e na Europa em geral) tendem a ser apertadas e disputadas a tapa; aqui é contraproducente dirigir algo maior do que um hatch médio. Mas é moleza estacionar este Lancia, e entrar e sair dele ficou mais fácil nesta nova geração, que oferece quatro portas com maçanetas traseiras disfarçadas nas colunas C (o 500 prossegue com apenas duas).

A unidade que dirigimos era manual, dotada do motor EVO 2, de 1,2 litro e oito válvulas, a gasolina, capaz de gerar 69 cavalos, parte de uma interessante gama que também inclui opções a gás metano/gasolina, GLP/gasolina e diesel. O propulsor é mais do que suficiente para mover o Ypsilon com naturalidade; em velocidades de cruzeiro próximas de 100 km/h (atingidas sem dificuldade), o giro fica pouco abaixo das 3.000 rpm. Só não se recomenda passar muito disso na estrada, já que o carro é relativamente alto (1,51 metro) e leve (965 kg). Ventos de frente e lateral tendem a chacoalhar o carrinho.

O consumo médio, segundo dados de fábrica, pode (ou deveria) ficar perto dos 20 km/l. Dirigindo sob um calor de 34 graus, com o ar-condicionado bombando e em circuito misto (urbano/estrada), obtivemos 14 km/l. 

Os preços oficiais do Lancia Ypsilon partem de 13.200 euros (versão Elefantino, de entrada) e chegam a 16.500 euros (versão Elle, com itens para agradar le ragazze, como revestimento em couro alcântara). O 500 começa em 13.600.

O Lancia testado trazia de série um acessório Mopar (marca pertencente à FCA) muito interessante: um GPS e multimídia acoplável à coluna A, onde aproveita a fiação do controle do retrovisor
NINGUÉM É BOBO
O sucesso do Lancia Ypsilon, que este ano completa 30 anos de mercado (contados a partir do antecessor, o Y10, de 1985) e que em tese nem precisaria existir, já que tem um “irmão” muito mais famoso, mostra que Sergio Marchionne, o folclórico chefão que controla a FCA por trás da fumaça de seus cigarros, não tem nada de tolo — como insistem alguns de seus muitos críticos. Qualquer outro CEO já teria fechado a Lancia.

Dica: quem viajar à Itália e desejar alugar um carro provavelmente encontrará, no cardápio de opções econômicas (todas com preços absurdos, diga-se: três dias de carro custam mais que três dias de hotel bom em Roma), 500, Panda e Ypsilon. Nem hesite: vá de Lancia.

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