De um lado, o aspirado automático e líder do segmento, do outro o turbo manual, lutando por seu espaço no mercado

Daqui a poucas gerações, o câmbio ma­nual vai virar item de museu automobi­lístico. Ele está cada vez mais raro nos principais mercados do mundo, como o europeu e o norte-americano. No Brasil o processo é mais lento, porém, aos poucos o câmbio manual sai de cena. Mas não tem co­mo negar que a sensação de guiar um carro com câmbio manual é muito mais performática, exige mais habilidade e atenção de quem está atrás do volante.

Automático ou manual? Na comparação de “câmbio manual x câmbio automático”, são muitos prós e contras para os dois lados.

Em linhas gerais, o câmbio manual, mais leve, é indicado para quem quer melhor con­trole sobre o desempenho do carro, tendo maior comando nas trocas de marchas, que são mais ágeis e adequadas ao percurso de acordo com o estilo de condução. Para quem gosta de acelerar, dar a famosa “esticadinha”, o manual é recomendando, além de propor­cionar economia tanto em gasto de combustível quanto em reparos.

Em compensação, o manual é, sem dúvida, muito mais cansativo, principalmente na cida­de, e mais ainda em trechos com trânsito con­gestionado ao exigir muito do braço direito e da perna esquerda, gerando um desgaste físi­co maior para o motorista.

Já o câmbio automático – incluindo tam­bém os automatizados e o CVT – é totalmente voltado para a comodidade do motorista e mui­to mais prático para quem está dirigindo, pois não precisa se preocupar com as trocas de marchas e pode deixar o pé esquerdo descan­sando.

Obviamente, ele exige menos esforço do motorista e é muito menos cansativo para o trânsito das grandes cidades. Porém, ele reduz o desempenho e faz o consumo de combustí­vel aumentar. Apesar de as trocas de marcha serem automáticas, há modelos de carros em que se pode efetuar trocas manuais sequenciais pelas aletas junto ao volante, as famosas borboletas, ou pela própria alavanca seletora do câmbio.

Resumindo, as principais diferenças entre os dois câmbios são essas. Para as vermos na prática, colocamos dois rivais da mesma faixa de preço frente a frente neste compara­tivo. De um lado, o aspirado 1.8 flex do Jeep Renegade Sport, com câmbio automático de 6 marchas, que custa R$ 85.990, do outro, o motor turbo do Volkswagen T-Cross 1.0 200 TSI, com câmbio manual de 6 marchas, que custa R$ 84.990.

Motor VW T-Cross

Para contextualizar o duelo mercadológi­co, temos o Renegade, já consolidado, e o T-Cross, um novato que ainda busca pelo seu espaço, já que foi lançado no final de março.

Produzido em Goiana (PE), o Renegade foi o primeiro modelo, depois da fusão Fiat-Chrys­ler, a ser fabricado no Brasil. Lançado em mar­ço de 2015, o Renegade fechou aquele ano com 39.187 emplacamentos, sendo o segundo SUV mais vendido do país, atrás somente do Honda HR-V que emplacou 51.155.

Motor Jeep Renegade

De 2015 até aqui, o utilitário fechou todos os anos com vendas superiores a 38 mil unida­des; tendo seu auge em 2016, quando empla­cou 51.563 modelos. O modelo da Jeep nunca

foi líder de mercado entre os SUVs, porém, es­te ano, fechou o primeiro quadrimestre no topo do segmento, com 21.383 emplacamentos; o Compass – SUV mais vendido do País em 2017 e 2018 – está em segundo no ranking, com 17.884 vendas, fazendo a dobradinha da Jeep. Até o fechamento do primeiro quadrimestre, o T-Cross vendeu 2009 unidades.

Automático aspirado x turbo manual

Começando pelo Renegade, as medidas são: 4.232 mm de comprimento, 1.798 mm de lar­gura, 1.658 mm de altura e entre-eixos de 2.570 mm. Já o T-Cross conta com 4.199 mm de comprimento, 1.760 mm de largura, 1.598 mm de altura e entre-eixos de 2.651 mm.

O motor do Renegade Sport 1.8 entrega 139 cv de potência a 5.750 rpm e 19,3 kgfm de torque a 3.750 rpm. O modelo vem com rodas de liga leve de 17 polegadas e pneus 215/60R17. Já o T-Cross 1.0 200 TSI dispõe 128 cv de potência a 5.500 rpm e 20,4 kgfm de torque a 2.000 rpm, rodas de liga leve de 16 polegadas e pneus 205/60R16. Os números de consumo foram registrados com etanol.

A relação peso-torque e peso-potência do Renegade é de 10,4 kg/cv e 75,4 kg/kgfm, já que o peso em ordem de macha do veículo é 1.448 kg. A relação do T-Cross é de 9,5 kg/cv e 59,6 kg/kgfm, pois seu peso é de 1.215 kg. O que isso resultou? Em uma diferença enorme de desempenho entre eles.

Em nossos testes, realizados na pista da ZF, em Limeira (SP), na aceleração de 0 a 100 km/h o T-Cross precisou de 9s8 para atingir a marca, enquanto o Renegade demorou 12s9. Em todas as marcas de aceleração o Volkswa­gen mostrou grande vantagem sobre o Jeep. Para ficar mais claro, na marca de 0 a 160 km/h a diferença foi de mais de 13 segundos, com 27s5 e 40s6, respectivamente. Em trechos de serra com subidas íngremes o T-Cross teve um desempenho melhor do que o esperado. Já o Renegade demora mais para embalar.

Em retomadas a diferença foi bem menor, mas o motor turbo ainda levou vantagem em todas. De 40 a 100 km/h, por exemplo, o T-Cross levou 8s8, já o Renegade demorou 10s0. Nos testes de frenagem, o Renegade le­vou vantagem — mínima — em apenas uma medição, a de 40 km/h até parada total, feita em 6,7 m, enquanto o T-Cross fez o mesmo percorrendo 6,8 m. Daí em diante a vantagem é do SUV alemão, como no 100 km/h a zero, que registrou 38,7 contra 43,4, respectiva­mente.

Ambos trazem assistência elétrica na dire­ção, ajuste de altura e profundidade do volante, o que passa muito conforto ao motorista, mas a pegada do volante do Renegade é mais fir­me; embora isso seja questão de gosto. Os en­gates do T-Cross são rápidos e suaves, como de costume nos câmbios manuais da Volkswa­gen; já as trocas automáticas do Renegade ge­ram certos trancos, que podem ser evitados com mudanças sequenciais pela alavanca.

Em relação ao consumo (etanol), o T-Cross foi mais econômico, registrando média de 8,8 km/l em trechos urbanos e 12,1 km/l em rodo­viários. Já seu rival fez, respectivamente, 6,5 km/l e 8,8 km/l.

Beleza interior

Em ação, os números não foram surpresa, isso já era esperado. Mas como desempenho não é tu­do em um carro, vamos para a parte de conforto e equipamentos. Aí o cenário muda.

Interior Jeep Renegade

Por dentro, o Renegade é mais sofisticado, traz painel emborrachado, plásticos de boa qualidade, detalhes cromados, descansa-bra­ços macios revestidos com tecido, tela da cen­tral multimídia de 5 polegadas e com câmera de ré incorporada. O SUV não tem detalhe em couro, mas é muito confortável e não deixa a desejar na decoração interior.

O T-Cross possui uma tela maior na central multimídia, de 6,5 polegadas, mas todo o inte­rior em plástico, que mesmo tendo boa quali­dade, transmite uma imagem de um carro com preço inferior aos R$ 84.990 cobrados.

Interior VW T-Cross

De série, os dois têm como destaque: as­sistente de partida em rampa, controle eletrô­nico de estabilidade e tração, banco do moto­rista com ajuste de altura, engates Isofix para bancos infantis e seis airbags — além do du­plo frontal obrigatório, traz mais dois laterais e dois de cortina.

Fotos: Saulo Mazzoni

Veja a tabela de teste com os números de pista do Jeep Renegade Sport 1.8 AT x VW T-Cross 200TSI MT:

* No quadro de pontuação da ‘Análise de Mercado’ a pontuação do Jeep Renegade está “43,5”, mas o correto é “59,5”, conforme mostra a tabela ao lado do quadro.

 

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