Todo mundo sabe o que é recall, faz parte do mundo automobilístico e até de outros meios de locomoção, como o avião, podendo envolver qualquer produto industrializado.

Recall é palavra da língua inglesa que é verbo (to recall) e substantivo. Tem sentido de lembrar ou lembrança de algo, respectivamente, mas significa também chamar de volta um produto (um carro) para algum reparo necessário após constatação de falha de alguma peça ou componente, ou de montagem.

Muitos estranham por que utilizar um termo em inglês. Primeiro, é uma palavra curta, fácil de pronunciar e que não deixa dúvida do que se trata. Mas complica ao se tentar encontrar palavra equivalente no nosso idioma. É comum se ler ‘chamamento’, “convocação” ou “fazer recall”. Fato é que existe termo em português correspondente a recall: o substantivo revocação e o verbo revocar. Estão em linha com a forma original em inglês e vem do latim revocatio. Mas, convenhamos, é difícil mudar um hábito lingüístico. Fiquemos com o consagrado recall, atende bem ao propósito.

Entrando no foco do tema da coluna, o recall começou efetivamente nos Estados Unidos nos anos 1960, quando os direitos do consumidor afloraram e se tomaram lei, juntamente com processos contra fabricantes por defeito no produto, em especial aquele capaz de afetar a segurança.

No Brasil, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor resultou, lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, de sentido amplo, que serviu para regulamentar o recall. Este é obrigatório quando se trata de defeito que possa pôr a segurança em risco e há todo um procedimento a ser seguido pelo fabricante, começando pelo aviso nos meios de comunicação explicando o motivo do recall e dando a devida orientação ao consumidor. Hoje todos os fabricantes têm nas suas páginas na internet avisos de recall, em que basta introduzir o número de chassi no campo apropriado para obter informações de recall.

Nesse ponto tudo bem, todos os proprietários, por direito, são atendidos da melhor forma e sem custo. Por isso o título desta coluna.

Mas a pergunta é: será mesmo recall um mal necessário? Será que o dono do veículo tem mesmo que se sujeitar ao incômodo de precisar levar o veículo a uma concessionária, fora o dissabor de saber que seu carro, muitas vezes recém-adquirido, tem um problema de segurança? Não deveria ser assim.

Os fabricantes têm a responsabilidade elo que produzem, e o fazem obrigatoriamente sempre que um produto apresenta um defeito de peça ou de montagem que ameace a segurança do usuário. Mas será que os fabricantes envidam todos os esforços para evitar que seus produtos apresentem defeito? A impressão que dá é que não, embora em grande parte das vezes o problema seja de uma peça ou componente adquirido de fabricante de autopeças.

Independente de ser peça de fabricação própria ou adquirida de fornecedor, a responsabilidade é exclusiva do fabricante do veículo. Houve um tempo em que uma grande fabricante anunciava um recall e se um fornecedor estivesse envolvido, este era citado na chamada para o recall. A intenção era nítida, se isentar de culpa pelo defeito. Felizmente esse mau hábito acabou nessa fabricante.

É importante levar em conta que hoje, mais do que nunca, é substancial a quantidade de peças adquiridas de fornecedores utilizadas na fabricação de um carro. Não poderia ser diferente. O tempo da chamada produção verticalizada — todas as peças feitas sob o mesmo teto — acabou há muitas décadas.

Não pretendo e não posso ensinar a fabricar automóvel, mas noto que muitos recalls não existiriam se houvesse mais empenho e cuidado nos processos e controle da produção, especialmente na fase de montagem do veículo. Tomando esse cuidado perfeitamente possível, junto com garantias do fornecedor de que peças e componentes por ele produzidas tenham absoluta higidez, acredito que o número de recalls diminua significativamente.

 


Bob Sharp
Bob Sharp
 é jornalista, foi piloto de competição e teve três passagens pela indústria automobilística. É também o editor-técnico da CARRO e mais um apaixonado por automóveis. Você concorda, discorda ou quer esclarecer algum assunto com o nosso colunista? Envie sua mensagem para: bob@revistacarro.com.br.logo Renault

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