Quase R$ 10 mil separam o novato Renault Sandero R.S. do já veterano Fiat Punto T-Jet. Apesar da distância em grana, as propostas são parecidas: serem opção esportiva “acessível” a um público que deve normalmente se contentar com as versões “esportivadas” (visuais, não dinâmicas) de modelos populares. Nessa disputa, venceu o mais rápido e polivalente, que conseguiu entregar emoção num pacote mais versátil para o dia-a-dia.
Recém-chegado ao mercado, o Sandero R.S. é o primeiro carro com a assinatura da Renault Sport (divisão de performance da marca) fabricado fora da Europa. Apesar da pompa desse título, não se tratou de uma revolução. Basicamente, o trem-de-força que o equipa é emprestado do SUV Duster, calibrado para gerar 150 cv de potência e 20,9 kgfm de torque (etanol). Estruturalmente, ele está mais baixo, as molas dianteiras foram endurecidas e o eixo de torção traseiro ficou menos flexível. Tudo na comparação com o Sandero “civil”.
Com o novo “coração”, a razão peso/potência do hatch passa a ser de bons 7,7 kg/cv.
Como o motor é aspirado, a relação de marchas do Sandero R.S. foi encurtada na primeira e segunda, para atribuir mais força nas arrancadas e retomadas. O modelo ainda se beneficia da sexta marcha, que, de acordo com a fabricante, não é mera overdrive, pois deixa mais espertas as relações entre as outras cinco.
Ainda assim, sua evolução é mais linear, e é só a partir das 4.500 rotações (já com torque máximo e chegando ao pico de potência, às 5.750 rpm) que o Sandero revela sua vocação para acelerar.
SUPERIORIDADE NA PISTA
O Fiat Punto T-Jet é mais direto na entrega de emoção. Obviamente, isso se deve a ser sobrealimentado. O propulsor 1.4 com turbo produz 152 cv de potência a 5.500 rpm, mas o torque de 21,1 kgfm já é oferecido pouco acima das 2.000 rpm. Ao volante, o prazer ao dirigir, especialmente em condições urbanas, é maior no Punto. Na pista de testes, porém, quem se deu melhor foi o Sandero R.S.
Na prova de aceleração de 0 a 100 km/h, por exemplo, o Renault foi 0s15 mais rápido que o Punto (8s71 contra 8s86). Nas retomadas, a supremacia se manteve, sobretudo dos 60 km/h aos 120 km/h em 4ª marcha: o Sandero R.S. cumpriu em 9s54, enquanto o concorrente demorou 2s16 a mais.
Nos testes de frenagem, o Renault aplicou uma verdadeira lavada sobre o Fiat. A somatória das provas de 80-0, 100-0 e 120-0 km/h revelou uma diferença de 27,47 metros entre o Sandero e o Punto.
A fadiga dos freios também é menos sentida no Sandero: a distância entre a melhor e a pior frenagem de 100 a zero km/h, com o carro carregado, foi de 2,34 m, contra 3,5 m do Punto.
Desequlibrando a balança em favor do Punto, contudo, estão as opções de comportamento do motor e sensibilidade do acelerador. Ele conta com um recurso chamado D.N.A., sigla bem sacada que designa as opções Dinâmico, Neutro e Autonomia para deixar o carro mais esperto às respostas do acelerador ou atento à eficiência energética, com direito a indicador de troca de marchas.
O Sandero também indica as marchas para um consumo melhor (ambos procuram manter as rotações entre 1.500 e 2.000), mas a opção Sport de condução do R.S. não proporciona uma alteração relevante nas respostas do carro.
DEFEITOS SIMILARES
Quanto a dirigibilidade e postura ao volante, Sandero e Punto têm problemas. Os bancos de ambos são esportivos, exclusivos de suas versões, e imitam o formato “concha”. No caso do Renault, no entanto, o encaixe do motorista poderia ser mais ergonômico, e as abas laterais das pernas atrapalham o acesso aos ajustes de altura. Falta regulagem de profundidade do volante, e isso atrapalha na busca de uma posição de dirigir ideal.
O Punto leva vantagem com seu banco mais confortável para o motorista, volante com pegada mais firme e acabamento mais moderno e jovem, transmitindo também sensação de maior qualidade na comparação com o Sandero R.S.
Os dois carros possuem conjunto de pedais convencionais (embora com acabamento em alumínio) e manopla do câmbio com engates muito longos, características que prejudicam a condução mais esportiva. Em defesa deles, pode-se lembrar da necessidade de torná-los mais amigáveis para o uso cotidiano, sem modificar muito a receita esportiva.
O Punto T-Jet, contudo, extrapola e oferece uma direção com assistência excessiva, diminuindo sua precisão em relação ao Sandero. Apesar de o acerto de suspensão de ambos ser parecido (entre um mais duro, para dar mais conectividade ao motorista, e um com o mínimo de conforto para absorver as imperfeições da via), no Punto o controle do condutor sobre o carro é limitado devido à direção.
MAIS PONTOS PARA O SANDERO
Em matéria de versatilidade, o Sandero R.S. prova-se novamente superior ao Punto. A começar pelo espaço interno: a soma das medidas internas do R.S. é 17 cm maior que no T-Jet. A distância entre-eixos também é mais generosa, em 8 cm (veja fichas mais abaixo).
Na prática, os bancos traseiros do Sandero oferecem espaço e conforto significativamente maiores que no Punto, onde pernas e cabeça (para aqueles que medem a partir de 1,78 m) ficam apertados. O volume do bagageiro é outro quesito a favor do Renault: são 320 litros contra 275 litros do concorrente.
A versão mais esportiva do Sandero R.S. parte de R$ 58.880. Já o Punto T-Jet é consideravelmente mais caro, a R$ 68.150. Embora completos de série, o Renault traz recursos de segurança essenciais para um carro com pretensões esportivas, que a Fiat peca em não incorporar ao Punto.
Ambos contam com o que é obrigatório em suas faixas de preços: trio elétrico, piloto automático, ar-condicionado (no Punto é digital e automático, no Sandero é apenas automático), central multimídia (a do R.S. é maior, com tela de 7’’) e sensor de estacionamento. Mas é só no Sandero que você vai encontrar controles de tração e estabilidade.
VEREDICTO
Diferentemente do Punto, o Renault Sandero R.S. consegue aliar qualidades importantes à convivência diária com a empolgação que se espera de um carro minimamente esportivo. O desempenho superior comprovado na pista e o abismo de preço que separa os dois modelos tornam óbvia a escolha pelo novato da marca francesa.
NOSSAS MEDIÇÕES | Renault Sandero R.S. | Fiat Punto T-Jet |
Aceleração: | ||
0-60 km/h: | 3s91 | 4s08 |
0-80 km/h: | 5s97 | 5s99 |
0-100 km/h: | 8s71 | 8s86 |
0-120 km/h: | 12s28 | 12s24 |
Retomadas: | ||
40 a 100 km/h: | 7s30 | 8s9 |
60 a 120 km/h: | 9s54 | 11s7 |
80 a 120 km/h: | 6s68 | 7s6 |
Frenagem: | ||
60-0 km/h: | 14,20 m | 15,9 m |
80-0 km/h: | 23,62 m | 27,9 m |
100-0 km/h: | 35,03 m | 42,8 |
Consumo: | ||
Cidade: | 6,9 km/l (etanol) | 8,6 km/l (gasolina) |
Estrada: | 9,1 km/l (etanol) | 11,3 km/l (gasolina) |
PECO: | 7,8 km/l (etanol) | 9,8 km/l (gasolina) |
Quanto ao Fiat Punto T-Jet, se esteticamente é mais bem-resolvido, como produto está claro que precisa de uma renovação. É inegável que proporciona diversão ao volante, mas a falta de recursos de segurança, o alto preço e espaço interno limitado restringem seu poder de atração frente à nova concorrência.
DADOS DE FÁBRICA | Renault Sandero R.S. | Fiat Punto T-Jet |
Motor: | Diant., trans., 4L, flex, 16V | Diant., trans., 4L, turbo, 16V |
Cilindrada: | 1.998 cm³ | 1.368 cm³ |
Potência: | 150 cv a 5.750 rpm | 152 cv a 5.500 rpm |
Torque: | 20,9 kgfm a 4.000 rpm | 21,1 kgfm a 2.250 rpm |
Transmissão: | Manual, 6 marchas | Manual, 5 marchas |
Suspensões (d/t): | McPherson/eixo de torção | McPherson/eixo de torção |
Dimensões (CxLxA): | 4,06 m/1,73 m/1,49 m | 4,06 m/1,72 m/1,50 m |
Entre-eixos: | 2,59 m | 2,51 m |
Peso: | 1.161 kg | 1.263 kg |
Porta-malas: | 320 litros | 275 litros |