Em meio à crise que derrubou em quase 20% o mercado automotivo no ano passado, a Hyundai teve bons motivos para celebrar. Seu compacto HB20 foi o segundo automóvel de passeio mais vendido do país e a companhia abocanhou o quarto lugar entre as maiores fabricantes no ano (à frente da japonesa Toyota e da tradicional Ford), com 197.850 unidades emplacadas em 2016. Para este ano, os sul-coreanos já trataram de entrar no segmento mais “queridinho” do mercado com o Creta e estão de olho nos SUVs médios com a terceira geração do Tucson, numa prova de que querem ainda mais dos que os 9,96% de participação de mercado que obtiveram ano passado.
Contudo, nem todos os carros da marca são ou têm potencial para serem verdadeiras estrelas por aqui. Exemplo disso é o Elantra. O sedã médio foi atualizado no apagar das luzes do ano passado, mas foi ofuscado pelos utilitários citados acima. E se globalmente faz sucesso, no Brasil ele teve apenas 936 unidades vendidas em 2016, muito distante do topo ocupado pelo Corolla. E mesmo que consideremos o líder do segmento uma exceção, com seus 64.738 emplacamentos no período, o Elantra está bem longe dos segundo e terceiro colocados, Honda Civic (20.857 unidades) e Chevrolet Cruze (12.064), dois modelos que mudaram de geração recentemente.
Ou seja, a vida do Elantra não é nada fácil. E embora sua versão de entrada custe a partir de R$ 84.900 e esteja entre as mais acessíveis do segmento, o pacote de equipamentos de série não surpreende, já que não inclui itens como faróis de neblina, câmera de ré, central multimídia, assistente de partida em rampa e luzes diurnas, todos presentes no Cruze e no Civic, por exemplo — mas que custam R$ 91.790 e R$ 94.900, respectivamente, nas versões equivalentes à do Elantra.
No caso da configuração Top do Hyundai, a mais sofisticada e avaliada aqui, é o preço que não ajuda, pois partindo de R$ 114.990 ele vem muito mais recheado (como veremos adiante), só que, mesmo assim, ainda fica devendo sistemas de assistência ao condutor, como controlador de cruzeiro adaptativo e monitor de mudança de faixa, recursos já condizentes com modelos dessa faixa de preço.
ELEGÂNCIA NAS LINHAS
Entre as novidades que a Hyundai incorporou ao novo Elantra está uma remodelação mais notável. As linhas exageradamente fluidas do modelo anterior deram lugar a uma abordagem mais elegante, especialmente na dianteira. A grade hexagonal está mais destacada pelo contorno cromado, agora em peça única, com filamentos prateados e o emblema da marca centralizado acima. Os faróis têm formato mais horizontal e os de neblina são envoltos por um “L” que dá mais amplitude à largura do carro.
Os para-lamas estão menos encorpados, bem como os vincos laterais que seguem pelas portas. Atrás, as lanternas também perderam a curvatura anterior em favor de um design mais retilíneo, fazendo jus ao “amadurecimento” do Elantra.
Por dentro, ele repete a conhecida receita dos modelos importados da Hyundai: há muito plástico rígidos no painel e no console central, o que prejudica a impressão de qualidade, mas o encaixe das peças é benfeito (como se espera em um veículo dessa categoria). A funcionalidade pode ser percebida em detalhes como o espaço à frente da alavanca do câmbio, ideal para acomodar o celular (existe uma saída USB ali para conectar um carregador). Faltam, porém, mais porta-objetos para evitar deixar gadgets à vista.
As medidas internas da cabine somam 5,92 m. O número absoluto é menor que o de outros concorrentes e o espaço para a cabeça dos passageiros de trás (sobretudo os que tem mais de 1,75 m) é limitado, mas para as pernas é bom.
MENOS POTÊNCIA, POUCO MAIS DE AUTONOMIA
Além do visual, a outra novidade relevante na linha 2017 do sedã sul-coreano está sob o capô. Apesar de ter mantido o conjunto de motor 2.0 acoplado ao câmbio automático de seis marchas, o Elantra perdeu 11 cv, caindo de 178 cv para 167 cv (e 20,6 kgfm de torque). O motivo foi tornar o modelo mais eficiente, melhorando o consumo de combustível e, por tabela, diminuindo as emissões.
Na prática, em nossos testes, a economia de combustível foi sutil, menos de 4% na média ponderada entre cidade e estrada, obtendo 8 km/l com etanol (eram 7,7 km/l no anterior). Com isso, a autonomia do Elantra passou de 431 km para 448 km.
Mas a melhor notícia é que essa melhora na eficiência não prejudicou de maneira sensível o desempenho do sedã. A aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 9s6, enquanto o anterior a cumpria em 9s21. O comportamento do veículo também não está muito diferente. O motor apresenta certa aspereza ao rodar na cidade, especialmente acima das 3.000 rpm, quando o ruído invade mais a cabine. Porém, é justamente a partir dessa faixa de rotação que ele embala de verdade, pois abaixo disso o conjunto parece “sofrer” um pouco para impulsionar o carro.
A caixa automática até tenta extrair o máximo do motor 2.0, mas por vezes demora a “entender” as necessidades do motorista por meio do pedal esquerdo, esticando um pouco além do necessário algumas marchas em situações pontuais (como aclives ou descidas).
Outra característica que poderia ser aprimorada no sedã é a sensibilidade dos freios. Um tanto “borrachudo”, o pedal exige adaptação por parte do motorista. Na pista de testes, o novo Elantra se saiu bem na hora de parar vindo a 100 km/h, marcando 37,69 m. Já no teste de fading o carro deixou a desejar, com 11 m entre a melhor e a pior frenagem (também vindo a 100 km/h).
VERSÃO COMPLETA
Como já foi mencionado, a versão avaliada pela CARRO foi a Top, que parte de R$ 114.990. De série, ela conta com sete airbags, controle de estabilidade, alerta de ponto cego, luzes diurnas de LED, faróis de xenônio, ar-condicionado de duas zonas, câmera de ré, central multimídia com tela tátil e seis alto-falantes, computador de bordo com tela colorida, sensor de chuva, teto solar, sensor de estacionamento traseiro e seletor de modos de condução (Normal, Sport e Eco).
Pelo preço que pede pelo modelo, a Hyundai poderia oferecer mais sistemas de assistência ao condutor e uma central multimídia mais moderna, igualando-se aos seus concorrentes nessa faixa de preço.
NOSSAS MEDIÇÕES | Hyundai Elantra Top 2.0 |
Aceleração | |
0-80 km/h | 6s53 |
0-100 km/h | 9s60 |
0-120 km/h | 12s94 |
Retomadas | |
40-100 km/h em Drive | 7s46 |
60-120 km/h em Drive | 8s76 |
80-120 km/h em Drive | 6s54 |
Frenagens | |
80-0 km/h | 24,22 m |
100-0 km/h | 40,34 m |
120-0 km/h | 57,25 m |
Consumo (etanol) | |
Urbano | 5,7 km/l |
Rodoviário | 11 km/l |
Peco | 8,0 km/l |
O Hyundai Elantra não é o melhor produto da marca sul-coreana, tampouco do segmento, mas caso o visual bem resolvido dele conquiste você, é melhor aproveitar o preço mais atraente da versão de entrada. Você vai perder muitos itens de conforto e conveniência (além dos cinco airbags extras, estes sim, relevantes), mas vai contar com um carro confortável para guiar, de comportamento confiável e satisfatoriamente funcional, com todos os equipamentos que você precisa para desfrutar de um sedã.
DADOS DE FÁBRICA | Hyundai Elantra Top 2.0 |
Motor | Dianteiro, transversal, 4 cil. em linha, 16V |
Cilindrada | 1998 cm³ |
Potência | 157 (G) / 167 (E) cv a 6.200 rpm |
Torque | 19,2 (G) / 20,6 (E) kgfm a 4.700 rpm |
Câmbio | Automático, 6 marchas |
Suspensão | McPherson/eixo de torção |
Peso vazio | 1.260 kg |
Porta-malas | 407 l |
Tanque de combustível | 56 l |
Pneus (veículo testado) | Hankook Kinergy Eco 205/60 R15 |
Dimensões (comp./larg./alt.) | 4.570 mm/ 1.800 mm/ 1.465 mm |
Entre-eixos | 2.700 mm |