O relógio indicava quase 8 horas da manhã, mas lá fora a escuridão era quase total. O termômetro na entrada do Hotel Explorer, em Yellowknife, no norte do Canadá, indica -11 °C, mas a sensação térmica era muito menor. O café forte ajuda a despertar de vez, enquanto Alex Ernst, gerente de testes de carros esportivos da Porsche, passa as instruções finais: “Logo após a partida, não saiam com o carro, esperem que o motor aqueça. Queremos ter certeza de que, nessa condição, o motor não produz alguma vibração ou ruído indesejados.”
Ele se refere ao novo motor de quatro cilindros turbo, a grande novidade dos novos 718 Boxster e 718 Cayman (que terão esse nome numa referência ao sucessor do 550 Spyder nos anos 1950, que contava com motor de quatro cilindros). Nas versões de entrada, o motor boxer de quatro cilindros turbo será capaz de gerar 300 cv, enquanto as configurações S terão 50 cv a mais. Ou seja, será um acréscimo de 30 cv a 40 cv em relação aos modelos atuais. O melhor é que, de acordo com a fabricante, o consumo será muito menor. Ao menos nas medições padronizadas.
Em duplas, nos dirigimos rapidamente aos carros estacionados. Japoneses e chineses acreditam que uma criança gerada no frio do amanhecer será mais saudável. Então, que assim seja com o novo 718 Boxster que nos foi reservado. Afinal, ele terá de suportar uma verdadeira maratona de aproximadamente 3.000 quilômetros sob o frio do Ártico.
No primeiro turno da viagem, minha missão é auxiliar Matthias Hofstetter, gerente de projeto e um dos pais do motor de quatro cilindros – que rompeu a tradição dos Porsche com motores de seis cilindros. “As reações iniciais, mesmo dentro da fábrica, não foram muito positivas, mas havia a necessidade de reduzir as nossas emissões de CO2, não tínhamos muitas alternativas”, lermbra Hofstetter. “Mesmo assim, estou certo de que encontramos uma grande solução”, afirma.
Minha curiosidade a respeito do novo motor aumenta. Então, finalmente Hofstetter gira a chave no contato e o motor turbo – no nosso caso, o 2.5 – ganha vida. Seguindo as instruções do briefing, permanecemos em silêncio por alguns minutos enquanto a temperatura do propulsor subia. Não percebemos nada de anormal, e então partimos.
Depois de alguns quilômetros, Hofstetter finalmente sinaliza satisfeito. “Agora já posso dizer que o carro não tem qualquer problema, mesmo rodando com o motor ainda na fase de aquecimento”, explicou. Mas qual é seu desempenho se comparado com o antigo motor de seis cilindros? “Não é nada parecido, claro, mas acredito que o ronco do novo motor vai agradar até aos mais aficionados. Diria até que lembra um pouco o do antigo 356 Carrera”, conta o engenheiro. Será?
Seguimos a avaliação através do trânsito de Yellowknife, e aproveitei para experimentar o novo sistema multimídia com navegador. Ele é baseado, naturalmente, no novo equipamento usado nos veículos do Grupo Volkswagen, mas não traz muitas semelhanças visuais com os demais. A operação da tela sensível ao toque é muito simples e intuitiva, o que facilita o manuseio. Não há dúvida de que, em termos de conectividade, a Porsche, agora, está no caminho correto.
O Porsche 718 Boxster terá outras novidades em seu interior: o quadro de instrumentos vai ganhar novo desenho, as saídas de ventilação foram modificadas e o volante passa a contar com a tecla que permite selecionar os modos de condução.
HORA DE ACELERAR
Falando no volante, chega, enfim, a minha vez de assumir o comando do carro e a primeira coisa que faço é conferir as opções da suspensão adaptativa. No modo normal, o Boxster se sai relativamente bem na estrada coberta de neve e imperfeições (ainda mais por se tratar de um roadster). Com o seletor no modo esportivo, o carro se torna bem menos confortável, como era de se esperar.
Uma novidade que chama a atenção é o botão Overboost, que entrega potência extra durante até 20s, permitindo realizar ultrapassagens seguras e sem a necessidade de reduzir marchas. O motor causou impressão tão positiva durante a nossa avaliação que acredito que mesmo o fã mais fiel do antigo motor de seis cilindros não vai lamentar a troca após experimentar a novidade. Mesmo no banco do passageiro, é possível perceber que há muito torque disponível. O 2.0 terá cerca de 36 kgfm à disposição, enquanto o 2.5 vai contar com 41 kgfm.
Isso permitirá ao 718 Boxster S acelerar de 0 a 100 km/h em menos de 5s, de acordo com a fabricante. E, por conta dessa potência extra, também foi necessário redimensionar o sistema de freios. Mas, por conta do gelo e da neve na pista, optamos por não testá-los dessa vez.
Por fim, a Porsche garante que o peso dos novos 718 (Boxster e Cayman) permaneceu entre 1.300 kg e 1.400 kg. Prevista para chegar ao mercado europeu em junho, a gama 718 certamente vai dar o que falar. Talvez nem tanto pela “aposentadoria” dos motores de seis cilindros, mas sim pelo avanço dos novos propulsores turbo.