O campeonato TCR (Touring Car Racer, ou carros de turismo de corrida, em tradução livre) é um novo torneio, criado no ano passado, que tem como objetivo oferecer uma competição de carros de alto desempenho, mas sem a participação direta das fabricantes, que apenas fornecem seus veículos a equipes particulares. O contrário do que ocorre no DTM alemão ou no WTCC, o Campeonato Mundial de Carros de Turismo.
Explicação dada, agora explico que estamos no circuito curto do autódromo de Hockenheim, a bordo do Opel Astra TCR, com o qual a marca alemã – integrante do grupo GM – disputa a Série Internacional TCR deste ano, ao lado de máquinas de Alfa Romeo, Ford, Peugeot, Renault, Subaru e Volkswagen, entre outras.
Já estou a bordo, em uma volta rápida, e ao chegar ao trecho do tobogã, as rodas dianteiras travam, seguidas de luzes vermelhas piscando de maneira intermitente no quadro de instrumentos. Não há ABS, ou melhor, o sistema só atua nas rodas traseiras. Então alivio o pedal e as rodas giram novamente, a tempo de contornar a curva com segurança. Joachim Winkelhock, ex-piloto alemão e atual embaixador da Opel nas pistas, vem conversar comigo e me passa algumas dicas, antes de eu prosseguir com a avaliação.
Para quem não está acostumado, é preciso dizer que não é tão simples conduzir um carro de competição. É preciso “recalibrar” o cérebro, já que um bólido de 330 cv, equipado com pneus lisos e de 18” na traseira possui comportamento totalmente distinto de um automóvel de rua.
Outro detalhe importante: apesar da manhã ensolarada no autódromo, é preciso fazer com que os pneus atinjam a temperatura ideal.
Para o piloto, o Astra TCR oferece ergonomia excelente. A posição de pilotagem é baixa, para ajudar a baixar o centro de gravidade do carro, mas o banco e o sistema de direção utilizados permitem que motoristas de qualquer estatura, e não apenas os profissionais, se acomodem ali e tenham acesso às principais informações, principalmente à luz indicadora de troca de marchas, equipamento muito importante para poder extrair o máximo do motor 2.0 turbo.
O 4-cilindros superquadrado (com pistões de diâmetro maior que o curso) trabalha de maneira aparentemente folgada, emitindo um ronco grave e rouco. Em conjunto com alguns cliques e claques produzidos pelo câmbio sequencial de seis marchas, ele cria uma verdadeira trilha sonora, capaz de encantar até o mais frio e racional aficionado por velocidade.
Então é hora de falar sobre valores. Para disputar uma temporada completa na Alemanha (o TCR possui séries em diversos países), o custo estimado é de 120.000 euros. Parece muito? Para quem não está habituado é mesmo. Mas, ao lembrar que se trata de uma categoria com carros construídos profissionalmente, com desempenho e nível de segurança elevadíssimo, o valor está entre os mais acessíveis.
Não é à toa que já existem diversas equipes interessadas em adquirir o novo Astra. A Opel, porém, ainda tem algum trabalho a realizar. “Só recebemos liberação para o novo projeto no fim do ano passado e então iniciamos o desenvolvimento”, explica Jörg Schrott, chefe da divisão de competições da Opel.
Na cabine não há nada mais a melhorar. O volante revestido de Alcantara é perfeito, e, além dele, existe apenas um grande painel preto e o quadro de instrumentos, posicionado bem à frente do piloto. Pedais e apoio para os pés estão na posição perfeita! Para auxiliar, a direção conta com assistência elétrica.
De volta à pista, a suspensão com amortecedores Bilstein proporcionam excelente estabilidade – desde que o piloto não ultrapasse os limites do carro, obviamente –, permitindo explorar o potencial do Astra TCR. Avanço pelo traçado ganhando confiança e, a cada redução de marcha, a já citada sinfonia do conjunto mecânico ecoa pela cabine do hatch.
Me aproximo novamente do trecho do tobogã e, desta vez, recordo as palavras de Winkelhock. Venho a aproximadamente 210 km/h e inicio a frenagem com um pouco mais de antecedência, evito o travamento das rodas dianteiras e contorno a curva com elegância. Sucesso!
Nesse momento, recordo da explicação na qual os engenheiros da Opel afirmaram que esse Astra possui suspensão totalmente ajustável, mas a aerodinâmica conta apenas com saia frontal e aerofólio traseiro reguláveis, para reduzir custos. Fico imaginando, então, se o carro contasse com mais recursos que aprimorassem a estabilidade. Os recursos são restritos para todos os carros que disputam o TCR.
Minha experiência chega ao fim, é hora de retornar aos boxes. Cumpro a operação a contragosto, já que o clima a bordo do Astra é inebriante, algo como uma droga da qual você vai se tornando dependente a cada nova volta. Antes, porém, passo mais uma vez pelo tobogã e percebo que as marcas do meu primeiro travamento de freios estão ali, intactas. Sorrio discretamente dentro do capacete, imaginando que, ao menos por algum tempo, terei deixado um registro em Hockenheim.