O motor é o mesmo, mas Golf é mais racional que A3

O Grupo Volkswagen talvez seja o conglomerado automotivo que mais sabe aproveitar a flexibilidade de seus meios de produção. Prova disso é a plataforma modular MQB da companhia, que deve dar origem a nada menos que metade de todos os veículos produzidos por todas as marcas pertencentes ao grupo (isto é, cerca de 5 milhões de carros) até 2018. Dentre os modelos que compartilham a plataforma estão os hatches médios Volkwagen Golf e Audi A3.

Além de respeitarem a uniformidade da distância do eixo frontal aos pedais (que caracteriza os carros da plataforma), os dois são impulsionados pelo mesmo motor 1.4 turbo, a gasolina, porém com calibragens e siglas diferentes.

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Para o Golf ele se chama TSI (de “turbo stratified injection”) e gera 140 cv de potência e 25,5 kgfm de torque. No Audi, ganha uma letra, o F de “fuel”, e vira TFSI, entregando 122 cv e 20,4 kgfm. A transmissão é a mesma, de dupla embreagem de sete velocidades.

A diferença de desempenho entre os dois só é constatada na pista de testes, ou seja, em situações extremas. Na aceleração de 0 a 100 km/h, por exemplo, o Golf leva uma vantagem de menos de um segundo. Na retomada de 60 a 120 km/h, o Volks também leva a melhor, mas, novamente, por pouco: ele é 1s27 mais ágil. Em contrapartida, no teste de fading (a fadiga dos freios) o A3 teve diferença de apenas 1,37 m entre a melhor e a pior frenagem (já no Golf a distância foi de 7,6 m).

A sétima geração do Golf também trouxe evolução extremamente significativa na construção de sua cabine. A começar pelo acabamento, o hatch da Volks mostra estilo até mais requintado que o A3, que não é conhecido pelo refinamento dentro da gama da Audi. As peças utilizadas nos dois modelos transmitem as mesmas sensações de qualidade e durabilidade.

Ao volante, a posição de dirigir de ambos privilegia a condução mais voltada à esportividade. Os ajustes dos bancos são elétricos no Golf e manuais no A3. Na hora de guiar, ambos oferecem comportamento dinâmico exemplar, com centro de gravidade baixo e direção precisa – mas o Audi consegue aliar melhor a conectividade com o asfalto ao conforto (no “irmão” há maior incidência de batidas secas do amortecedor no assoalho).

NO BOLSO
Com tantas semelhanças, fica difícil achar uma justificativa racional para aceitar gastar os R$ 7.000 a mais cobrados pela Audi para a versão de entrada do A3 Sportback (que não tem nome e custa R$ 96.990), na comparação com a top de linha do Golf (a Highline, por R$ 89.900; a GTI tem outro motor). Basicamente, o A3 é mais caro porque é importado da Europa e porque tem grife. O Golf vem do México, que possui acordo comercial com o Brasil, e por isso não paga taxas.

Mesmo que se aceite pagar o “premium” de R$ 7.000, o quadro fica muito desfavorável para o A3 ao se considerar os gastos com o pós-venda. O custo de suas três primeiras revisões (até os 30.000 km), por exemplo, é  400% mais caro que as do Golf – e os serviços são basicamente os mesmos. O total para o Audi é de R$ 4.077, enquanto que com o Golf o desembolso é de R$ 765.

O pacote básico de manutenção também evidencia a disparidade entre os dois. Um simples filtro de ar da Audi sai por R$ 161. O mesmo item do Golf custa R$ 59. O jogo de pastilhas de freio dianteiras do hatch da Volks custa quase a metade do A3 (R$ 450 contra R$ 814). O filtro de óleo segue o mesmo padrão: R$ 33, do Golf, e R$ 95, do A3. Só o conjunto de velas de ignição que é mais parelho, com uma diferença de apenas R$ 54 (R$ 500 do Golf e R$ 554 do A3).

O gasto com seguro é outro problema. A cotação do Audi chega a ser 70% mais cara que a do Golf, que já não é barata (são R$ 4.379 para o Volks e R$ 7.401 para o A3, segundo a corretora Solid Seguros).

RECHEIO
O A3 Sportback 1.4 também fica devendo em equipamentos na comparação ao VW. Para citar alguns exemplos, a configuração Highline do Golf já conta com sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, sete airbags (no Audi são cinco), ar-condicionado de duas zonas, controle de tração e estabilidade (no A3 só há o último), central multimídia com tela de 5,8″ com comandos no volante, sistema keyless de acesso ao veículo e piloto automático.

O A3 Sportback com motor 1.4 TFSI tem uma segunda versão, a Attraction, a R$ 105.990. Há outras duas opções, mas com motor 1.8 turbo.

Na ponta do lápis, portanto, o A3 cobra caro pela entrada no universo premium. Com melhor custo-benefício e mesma estrutura, o Golf Highline 1.4 é a opção mais racional para quem busca um hatch médio refinado, versátil e com desempenho empolgante.