Quem já não teve essa experiência? Namorar dentro do carro faz parte da história de muita gente – e de muitos casais, é claro. A ponto dessa prática romântica de encontros ter se tornado um hábito internacional, suscitando romances, filmes e até casamentos. Nos Estados Unidos, onde o automóvel é um bem cultural, existem associações de pessoas que namoram no carro e há estudos de psicólogos sobre as fantasias que envolvem esse tipo de prática amorosa.
Celina e Marcos, que preferem não dar o nome completo, nunca buscaram explicações para esse fetiche, mas são adeptos confessos da modalidade, embora estejam casados há quase 20 anos. “Às vezes, a gente sai para jantar e na volta acontece dentro do carro”, conta Marcos. “Até mesmo na garagem de casa”. Celina fica embaraçada com o assunto e se limita a dizer “não sei explicar direito”.
“É uma sensação diferente, tem aquele clima de proibido, excitante”, diz Marcos. Dentista de 52 anos, ele conta, sem que sua mulher ouça, que comprou um Toyota Corolla recentemente para ter mais conforto nesses momentos íntimos: “Ela não reconhece, mas também sabe que foi por isso”, afirma, garantindo que Celina é quem mais gosta desses namoros automotivos.
Celina, fisioterapeuta de 42 anos, faz uma inconfidência: “Nossa primeira vez foi dentro do carro, em 1988. Naquela época os motéis eram caros. A gente ficava sempre dentro do carro, conversando, namorando, até que uma hora aconteceu. Foi lindo, muito romântico”. Marcos concorda, mas faz uma restrição: “Eu tinha uma Brasília, caramba! Foi muito desconfortável”, diz, do alto de seu 1,80 m.
Essa prática, hoje institucionalizada, começou nos Estados Unidos, na década de 1920, quando os carros ficaram maiores, mais espaçosos e confortáveis. Se antes era uma solução para encontros clandestinos, hoje, com a liberdade sexual, os motivos que levam ao namoro sobre rodas parecem ser outros. “São fantasias”, explica a psicóloga Camila Hoffshtein. “Alguns casais gostam do proibido e outros, de namorar em público.”
É o caso da estudante de letras Aline, 24 anos. Ela reconhece e assume: “Namorar em público é mais excitante. Mas não é possível na rua ou nos parques. No carro é mais seguro”, diz. Grávida e casada há três meses com o designer gráfico Fábio Camaro, 38 anos, ela conta que, quando eram namorados, permaneciam por longo tempo dentro do carro, na frente da casa dela, se despedindo. Até que um dia foram bem mais longe. “Justamente nesse momento, meu pai apareceu e nos deu um flagrante”, conta. “Foi constrangedor. A gente não sabia o que fazer”, lembra Fábio. Episódio superado, o namoro virou casamento, mas até hoje eles dão umas “fugidinhas” dentro do carro. “Não tem nada melhor”, garante Aline. “Eu gosto também. Mas é proibido, né?”, diz Fábio.
Nem todo mundo sabe, mas a lei considera essa prática como “atentado ao pudor” e nem sempre é tolerada. Por isso, começa a aparecer uma evolução dos antigos drive-in. Se antes eram cinemas para assistir a filmes a bordo – e, claro, namorar – hoje já assumem sua função principal. São garagens privativas, equipadas com lavabo, sofá, hidromassagem, televisão, som e até serviço de “quarto”. Substituem plenamente os motéis, além de oferecerem o prazer de namorar dentro do carro por preços módicos.
“Se o carro está desconfortável, é só ir para o sofá. E quem gosta muito do carro, pode apreciá-lo enquanto namora dentro da jacuzzi, por exemplo”, diz Carlos Miguel, que frequenta um drive-in em Brasília (DF). Carlos não é o único: ele garante que as mulheres gostam da ideia e que já superaram a má impressão que os antigos drive-in causavam. “Eram lugares com fama ruim, desconfortáveis e desagradáveis. Agora é muito diferente. Não tem nada melhor do que namorar no carro”, garante.
Essa fantasia parece encontrar adeptos fervorosos. O americano Alan Pziek que o diga: depois de ser pego várias vezes namorando com sua mulher no carro, resolveu o problema construindo na sua casa uma garagem especialmente preparada para seus momentos íntimos. O detalhe é que o carro em que namoram é de mentira, feito de madeira e papel machê. E, para completar o ambiente, a cama em que dormem é construída dentro da carenagem de um Corvette.
Bons carros para ele e ela
Uma lista dos melhores carros para intimidades a dois:
Volkswagen Kombi
O design nada sexy não inspira romantismo. Mas essa é uma impressão que se tem por fora. Por dentro, o teto alto e o espaço amplo permitem muito conforto.
Volkswagen Fusca
O Fusca não tem espaço e não pode competir com outros modelos confortáveis. Mas tem história – e até se imaginam quantos jovens foram concebidos dentro daquele espaço exíguo. Quanto maior a dificuldade, mais gratificante…
Renault Twingo
É um modelo pequeno e econômico, mas também pode transformar-se numa cama de casal: basta rebater os bancos.
Dodge Charger
Na década de 1970, foi muito usado para encontros amorosos e o espaço confortável que oferece garantiu sua fama de ninho do amor até hoje.
Honda Fit
Considerado sexy por seu design e interior. Dizem que as mulheres gostam dele porque parece um brinquedo, com acessórios no painel e bancos envolventes.
Fiat Idea
Apesar de não ser exatamente espaçoso, combina o design moderno e atraente com bancos que rebatem e dão conforto.
Entre quatro portas…
Veja os motivos pelos quais os carros propiciam um ambiente romântico
1. Dentro do carro a intimidade é maior do que em qualquer ambiente doméstico. Há maior proximidade entre as pessoas e sempre surge a possibilidade de “toques involuntários”.
2. Apesar do espaço limitado, é possível namorar de várias formas dentro do automóvel. É só deixar a criatividade rolar…
3. O carro é um espaço íntimo dos casais. Nele, romances começam e também acabam. Dificilmente existe um ambiente que seja tão usado para esse fim.
4. Carros são sensuais. Pelo design, pela velocidade, pela história e por tudo isso junto.
5. Para mulheres e homens, o ambiente do carro é um espaço identificado, reconhecido. Ninguém estranha, se sente inseguro ou desconfortável dentro dele.