O executivo Matthias Müller, 62 anos, que estava no comando da Porsche, foi nomeado nesta sexta-feira (25) o novo CEO (presidente) do Grupo Volkswagen, substituindo Martin Winterkorn, que se demitiu devido ao escândalo que já está sendo chamado de dieselgate, referência à fraude nas medições de poluentes dos carros a diesel da Volks.

Müller vai acumular a chefia da Porsche com sua nova (e delicada) função enquanto não for apontado um sucessor para ele à frente da marca premium de Stuttgart.

Funcionário efetivo do Grupo Volkswagen desde 1978, formado em ciências da computação, o executivo alemão disse, num comunicado divulgado nesta sexta, que sua “tarefa mais urgente é reconquistar a confiança no grupo, sem deixar nada escondido sob o tapete e com a máxima transparência”.

“A Volkswagen vai fazer tudo que puder para desenvolver e implementar os mais estritos padrões de adequação e governança da indústria”, completou Müller. “A Volks tem tudo para emergir da crise mais forte do que antes”.

Emblema de motor diesel no novo Fusca; fraude nas emissões aconteceu também na Alemanha e pode envolver outras fabricantes
Houve outras mudanças. Winfried Vahland, da Skoda, divisão da Volks na República Tcheca, foi designado para supervisionar, a partir de novembro, uma nova unidade de negócios que cuidará da América do Norte (México, Estados Unidos e Canadá). Já Michael Horn, chefão da operação americana da Volks, será mantido no cargo — segundo o Automotive News, ele tem muito apoio entre os concessionários do país.

A crise que atinge a Volkswagen começou quando a empresa admitiu, nesta semana, que um software instalado em carros a diesel nos EUA alterava parâmetros do motor nos testes de emissão de poluentes, fazendo com que a quantidade de óxidos de nitrogênio expelida após a queima do combustível fosse menor que do uso real, e portanto adequada aos níveis exigidos pelo governo americano.

Em outras palavras, a Volks trapaceou na “inspeção veicular”.

A fraude da Volks é a parte obscura da ofensiva para convencer o consumidor americano das vantagens do diesel, que há anos é propagandeado na Europa como um combustível fóssil mais limpo que a gasolina, especialmente quando associado ao uso de sobrealimentação (turbo) no motor — o que garantiria, além de eficiência, uma dose de diversão para o motorista. Quase 25% dos Volks vendidos nos EUA são movidos a diesel.

O TAMANHO DA FRAUDE
Estima-se que cerca de 500 mil carros da Volks vendidos nos EUA tenham sido “mexidos”. A Volks já admitiu que 11 milhões de carros em todo o mundo foram fraudados (a filial do Brasil não responde às questões sobre a picape Amarok, único modelo a diesel da marca vendido aqui).

O governo da Califórnia, um dos mais “verdes” dos EUA, anunciou que vai mover ações legais contra a Volks. O prejuízo do grupo alemão com multas é estimado na casa das dezenas de bilhões de dólares.  

Nesta sexta, o ministro dos Transportes da Alemanha, Alexander Dobrindt, disse que cerca de 2,8 milhões de veículos vendidos pelo Grupo Volkswagen no país também tiveram seus testes de emissões manipulados. Seriam carros equipados com motores diesel 1.6 e 2.0. É possível que unidades de 1,2 litro também tenham sido fraudadas.

A Comissão Européia pediu que todos os estados-membros investiguem se carros de seus mercados foram fraudados. França e Itália já fazem testes. Há fortes suspeitas que outras fabricantes européias, várias delas com carros a diesel no foco de seus portfólios, também tenham enganado autoridades na hora de medir poluentes.

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