Texto: Fernando Lalli
Fotos: Renan Senra

Com o mesmo projeto de câmbio do Mustang GT, Chevrolet Camaro SS supera o arquirrival nos testes da Revista CARRO

Parece até roteiro de filme. Em 1964, surge o Mustang, fenômeno de vendas até então sem precedentes no mercado automobilístico americano. Três anos depois, a General Motors revela o Camaro, minuciosamente desenhado desde a primeira linha para derrotar o oponente da Ford.

Ambos atravessam décadas e décadas de transformações da indústria automobilística, vivendo o apogeu, o ocaso e o renascimento dos motores V8 de alto desempenho, tendências (às vezes duvidosas) de design, disputando palmo a palmo corações e mentes dos apaixonados por carros esportivos. Tudo isso para, após mais de 50 anos de intensa rivalidade, dividirem o mesmo câmbio – e ainda por cima, automático de 10 marchas, para desespero dos admiradores mais xiitas dos muscle cars.

Tecnicamente, Chevrolet Camaro SS Coupé e Ford Mustang GT não têm exatamente o mesmo câmbio, mas sim o mesmo projeto desenvolvido em parceria entre Ford e General Motors nos Estados Unidos. Quase toda a parte física que compõe a caixa de câmbio em si é comum a ambos, porém, cada empresa ficou responsável por seu próprio software de gerenciamento eletrônico.

A GM afirma que o foco no novo câmbio foi aumentar o conforto e a eficiência em regimes de rodagem na vida real, fora de track days e afins. Conduzindo o novo Camaro SS por ruas e rodovias, é difícil notar qualquer mudança significativa no comportamento do trem de força em seus diferentes modos de condução. Vale ressaltar que mesmo a configuração mais dócil, chamada de “Passeio”, é bastante divertida de se usar no dia a dia: não anestesia excessivamente as respostas ao acelerador nem deixa a direção leve demais.

Já o modo “Pista” é exatamente o oposto e dá a impressão de não deixar assistência nenhuma para o volante. Mas, fique tranquilo, mesmo nesse modo mais radical os controles de estabilidade e tração, e o sistema de vetorização de torque para as rodas, sempre estarão lá para controlar os subesterços. A não ser que você opte por desligá-los por sua conta e risco.

Vingança no cronômetro

O motor 6.2 V8 LT1 é o mesmo da versão anterior, capaz de desenvolver 461 cv de potência a 6.000 rpm e 62,9 kgfm de torque a 4.400 rpm. Apesar da injeção direta, de bloco e cabeçotes em alumínio, dos pistões refrigerados a jato de óleo, da bomba de óleo pilotada (fornece óleo sob demanda) e do sistema de desativação de até 4 cilindros para economizar combustível, este motor ainda preserva características como as duas válvulas por cilindro, comando no bloco e varetas. Contudo, mesmo esse comando de válvulas old school tem fase variável.

Na combinação com o novo câmbio, esse V8 ficou um pouco menos sedento por gasolina. Em nossa aferição de consumo, se comparado à versão com câmbio automático de 8 marchas, o esportivo da GM melhorou sua média de 7,8 km/l (6,0 km/l na cidade e 10,2 km/l em rodovia) para 8,4 km/l (5,7 km/l em percurso urbano e 11,7 km/l no rodoviário).

Sensivelmente melhor que o Mustang GT de 466 cv avaliado pela Revista CARRO (média de 6,8 km/l). A nova relação de marchas também melhorou os tempos de retomada do Camaro SS medidos pela CARRO na pista de testes da ZF em Limeira (SP).

A nova versão foi cerca de 0s4 mais rápida tanto na prova de 40 a 100 km/h (de 3s95 para 3s49) quanto na de 60 a 120 km/h (de 4s23 para 3s75) e diminuiu ótimos 0s8 no tempo da prova de 80 a 120 km/h (de 3s45 para 2s62). Já na aceleração de zero a 100 km/h, reduziu sua marca anterior em um décimo: de 4s95 para 4s83.

Em uma hipotética drag race de 400 metros em nossos testes contra seu histórico oponente, o Camaro SS venceria o Mustang GT: o esportivo da Chevrolet fez 12s81 contra 13s05 de seu rival da Ford – mas lembre-se: se quiser usar e abusar da potência que eles oferecem, procure o autódromo mais próximo.

A nova configuração do sistema de transmissão ainda permitiu ao Camaro SS emparelhar-se com seu eterno adversário em outros dois recursos de pista que só o Mustang GT trazia para cá: controle de largada (mesmo sistema do Camaro ZL1) e sistema de aquecimento de pneus traseiros, o famoso modo “burnout”. Tudo para conter o sucesso de seu eterno adversário, que fechou 2018 como o modelo esportivo mais vendido do Brasil. A história parece familiar, não?

Referências a seguir

A renovação do visual deixa ligeiramente de lado a busca da identidade com a primeira geração do Camaro e aponta para as tendências da marca nos próximos anos, como o uso reduzido de cromados, assinatura dos faróis em LED dianteiros com DRL e para-choques mais musculosos. Para melhorar o arrefecimento do motor, a reestilização traz um detalhe curioso: a gravata-borboleta da Chevrolet na dianteira parece ser preta como nos modelos Midnight, mas na verdade é vazada: ajuda a captar até 3.000 litros de ar por minuto para arrefecer o motor.

As novas rodas de 20 polegadas são diferentes tanto na cor quanto no desenho para as variantes cupê (cinza) e conversível (pretas) e deixam antever as pinças de freios de competição da Brembo, com quatro pistões cada. Os pneus seguem Goodyear Eagle F1 Asymmetric 3, desenvolvidos especialmente para o esportivo da GM, nas medidas 245/40ZR20 (dianteiros) e 275/35ZR20 (traseiros), do tipo run flat.

Outra tendência antecipada pelo Camaro SS é a estreia do sistema MyLink de terceira geração, de nova interface e conectividade com celulares aprimorada. Pelo sistema, agora é possível comandar as funções do ar-condicionado e, no caso do esportivo, das 24 opções de cores de iluminação interna. Para quem reclamava da visibilidade na versão anterior, duas melhorias: os retrovisores externos ligeiramente maiores e o retrovisor interno que projeta a imagem da câmera de ré.

O ótimo pacote de série ainda traz um completo painel de instrumentos digital, head-up display, sistema de som com alto-falantes Bose, bancos dianteiros com climatização e ajustes elétricos com memória para o do motorista, ar-condicionado de duas zonas, partida remota da ignição e volante com aquecimento. Preço? Apenas entre o final de janeiro e começo de fevereiro de 2019, quando a primeira leva de novos Camaros chegará às concessionárias brasileiras. Mas pode apostar que não será muito diferente dos R$ 315.900 praticados atualmente por um certo rival…

Veja a tabela de teste com os números de pista do Chevrolet Camaro SS Coupé:

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