Texto: Rafael Poci Déa
Foto:Saulo Mazzoni

Chevrolet Opala é um dos carros mais importantes da nossa indústria. Uma trajetória apaixonante que ainda toca o coração dos antigomobilistas

Difícil expressar por palavras a paixão por algum modelo clássico. Sejam pelas memórias afetivas ou pela concretização de um sonho do passado. “Na década 1980, alguns amigos tinham carros da Chevrolet. E embora eu pudesse comprar um, não seria viável mantê-lo devido ao preço do combustível. Mas quando cheguei aos 40 anos, em 2008, tomei a iniciativa de realizar este antigo objetivo”, conta Paulo Trujillano, que atua na área de importação.

Durante os últimos dez anos passaram mais de trinta exemplares da linha Chevrolet Opala e Caravan por sua garagem, e entre tantos o preferido é o primeiro a chegar foi o modelo 1971/1972, versão De Luxo, na cor vermelho Grená com o icônico motor 4100 de seis cilindros em linha. O exemplar foi achado na internet em sites de anúncios e, após adquirido, foi inteiramente restaurado. À época, o hodômetro marcava apenas 34.000 km. “O carro era muito íntegro, mas o desmontamos totalmente para realizar os processos de pintura, cromação, anodização e galvanização”, explica. As rodas foram substituídas pelas da versão SS e para atribuir um visual de muscle car, elas passaram do aro 14” para 15”, mantendo o miolo original.

Um charme à parte é o teto de vinil, que estava presente nas versões mais luxuosas Gran Luxo, e Comodoro, só para citar, ou podia ser encomendado na concessionária como acessório. “Ele confere um requinte a mais, mas precisei pesquisar muito antes de achar um produto de qualidade”, diz. O mesmo cuidado dedicado ao exterior é igualmente encontrado no interior.

Todos os revestimentos são originais de fábrica e o único trabalho ocorreu na troca do forro de teto. No momento de retirar o cinzeiro para ser galvanizado, eis uma surpresa: lá estavam os dois cigarros de palha do falecido proprietário que Paulo guardou de recordação.

O toque de esportividade do interior aparece no volante da configuração SS. Para deixar esse Opala no estado da arte, segundo o proprietário, as peças mais complicadas de encontrar hoje em dia são o revestimento superior do painel, as molduras dos piscas, os frisos de inox e os “poleiros de pombos” (barra entre as garras dos para-choques), que apresentam desenho diferente na dianteira e na traseira.

Sob o capô, o motor 4100 de seis cilindros em linha ganhou uma nova pintura. O adesivo na lateral do bloco é uma reprodução fiel, pois o original foi danificado. Tudo é absolutamente original, do jeito que saiu da fábrica. “Prefiro uma mecânica original ao invés da preparada”, conta. Aliás, das abraçadeiras até a borboleta do filtro de ar, há a inscrição GM 309 gravada. Tanto o câmbio manual quanto as suspensões não apresentam dores de cabeça e têm manutenção descomplicada. “Nunca encavalou uma marcha. Basta utilizar as buchas de articulação no padrão de fábrica”, explica.

The Heartbeat of America

O coração bate forte pelo modelo da Chevrolet, que em 2018 completa 50 anos de idade. O Opala nasceu do Opel Rekord C alemão de 1966, com o nome do projeto designado 676, apresentando uma mecânica diferente do “irmão” alemão. Sua apresentação aconteceu no VI Salão do Automóvel de São Paulo, em 19 de novembro de 1968. “Coincidência ou não, neste mês e ano eu também completo 50 anos”, comemora.

A versão De Luxo 1971/1972 serviu de estopim para Paulo se especializar no assunto. O exemplar 1971/1971 De Luxo na tonalidade metálica azul Lemans (código A-12181) é pátina pura, pois nunca passou por processo de restauração e tampouco irá passar futuramente.

Essa história viva aparece, inclusive, na nota fiscal de compra preservada da Mesbla Veículos. Ao contrário do Opala 4100, ele traz um motor de quatro cilindros 2500 com 80 cv de potência líquida e 18 kgfm de torque. Outro destaque está no belíssimo tecido ornamentado nos bancos.

O Opala mais recente é a versão Standard 1979 cupê, com as portas sem molduras e ausência da coluna B. Essa carroceria estreou em setembro de 1971. “Levei um ano e meio de negociação até comprá-lo”, diz. Um ponto alto do cupê de Paulo é o interior monocromático na cor vinho, conhecido por Chateau (uma comemoração pelas 500.000 unidades produzidas do Chevrolet).

Merece atenção ainda o meio teto de vinil Las Vegas, que motivou a alteração nas faixas laterais e, consequentemente, levou a um novo banho de tinta vermelho vinho. “As faixas passaram de prata para creme para combinar com o teto”, explica. Junto vieram as rodas originais com as calotas centrais de inox e os sobrearos.

Embora seja uma versão Standard, foram instalados frisos das caixas de rodas, que eram considerados um acessório de época. Cuidar perfeitamente dos antigos exige muito tempo e dedicação de Paulo. “É um hobby gostoso para sair da rotina, porém, toma tempo.

Sobra pouco para rodar com os carros e até para a família, mesmo aos finais de semana”, conta. Ele só lamenta nunca ter sido proprietário de uma versão SS. “Quem sabe, futuramente”, brinca. Uma bonita história de paixão pelo modelo da Chevrolet, que deveria ser seguida pelas próximas gerações para manter viva a história do Opala.

 

 

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