Ninguém tem dúvida sobre a importância que os pneus têm na segurança ao dirigir, assim como a influência deles no conforto e na economia de combustível. Mesmo assim, ainda existem questões que geram dúvidas — até entre os mais experientes — quando o assunto é manutenção dos pneus.
Para ajudar a resolver esse problema, preparamos uma série de quatro capítulos (a partir desta edição) na qual vamos abordar aspectos como manutenção, tecnologia e segurança dos pneus, assim como uma avaliação completa, inédita no Brasil. Não perca!
1)O pneu tem prazo de validade?
Não se pode estipular um tempo exato para a vida útil dos pneus, embora a borracha sofra oxidação e perca a elasticidade com o passar do tempo. Algumas fabricantes recomendam a substituição dos pneus após dez anos, contados a partir da sua fabricação. Para saber essa data, basta conferir os quatro últimos números do código DOT na lateral do pneu, que se referem à semana e ao ano em que o pneu foi produzido. Importante: esse prazo deve ser respeitado mesmo se o pneu não tiver sido utilizado (caso tenha ficado como estepe, por exemplo).
2) Os sulcos são os principais indicadores de desgaste dos pneus?
Sim, mas não os únicos. Legalmente, a profundidade mínima dos sulcos é de 1,6 mm. Então, se eles estiverem abaixo dessa medida, é preciso trocar os pneus. Mas é preciso medir a profundidade em toda a banda de rodagem, pois a mesma pode apresentar desgaste maior no lado interno, por exemplo. Contudo, não é só o desgaste que leva a substituição dos pneus. Caso a direção esteja “puxando” para um dos lados com o automóvel em movimento, mas a parte mecânica está em ordem, o motivo pode ser alguma deformação dos pneus. Para saber, retire-os e inverta os lados (monte o do lado esquerdo na direita e vice-versa). Se o carro passar a “puxar” para o outro lado, então, é bom trocar os pneus o quanto antes. Outro indício de problema nos pneus é se você percebe vibrações em determinadas velocidades e o balanceamento das rodas está em ordem. Tente descobrir em qual pneu está o defeito e substitua-o pelo estepe. Se a vibração desaparecer, troque o pneu defeituoso. Importante: não o utilize como estepe!
3) Por que os pneus têm que ser trocados sempre aos pares?
Os pneus podem parecer iguais, mas não são. Cada marca e modelo possui características e propriedades distintas. Assim, caso sejam montados no mesmo eixo, podem até alterar o comportamento do automóvel. Em casos extremos, pneus diferentes podem até fazer o carro rodar em uma freada mais forte, colocando os ocupantes em risco. Importante: o mesmo princípio vale para pneus da mesma marca e modelo, mas com níveis de desgaste diferentes (mais novo ao lado de outro mais antigo).
4) No caso de trocar apenas dois pneus do carro, é melhor instalar os novos no eixo dianteiro ou no traseiro?
As fabricantes são unânimes em afirmar que, nesse caso, o melhor é instalar os pneus novos sempre no eixo traseiro, independentemente de o carro possuir tração nas rodas dianteiras ou traseiras. O argumento é que, no caso de uma derrapagem, é mais fácil e intuitivo controlar um carro que sai de frente do que um que desgarra de traseira. O mesmo vale para as frenagens de emergência. Nessas situações, por conta da transferência de peso para as rodas da frente, é preciso que os pneus de trás garantam a aderência e o controle do carro. O mesmo vale em aquaplanagens: se os pneus de trás estiverem mais desgastados, a probabilidade de o carro se desgovernar e derrapar com as rodas de trás é muito maior. Em tempo: a teoria defendida por alguns, de que os pneus dianteiros mais novos poderiam “abrir caminho” em trechos com água para os traseiros só poderia ocorrer se o carro trafegasse em uma linha perfeitamente reta, o que não ocorre na realidade.
5) Não é exagero checar a pressão dos pneus a cada quinze dias? Os pneus perdem pressão com tanta facilidade?
De acordo com as fabricantes, o que provoca a perda da pressão não é a válvula, mas sim a porosidade natural da borracha, assim, não há como evitar que isso ocorra. Da mesma forma, não existe como saber quanta pressão um pneu perde a cada semana ou mês. Assim, é melhor “pecar pelo excesso” e calibrar os pneus a cada 15 dias para evitar problemas.
6) Calibrar os pneus com menos pressão aumenta o conforto ao rodar? Isso pode ser feito com frequência?
Os pneus atuam em conjunto com a suspensão do veículo e, assim, qualquer alteração acaba se refletindo nos pneus e no automóvel. Quando a fabricante do automóvel determina a pressão dos pneus de um determinado carro, também leva em consideração a calibração da suspensão, a fim de buscar o melhor equilíbrio entre todos os fatores, como segurança, conforto, estabilidade, consumo de combustível etc. Resumindo, alterar a pressão dos pneus por conta própria até pode melhorar um aspecto do conjunto, mas certamente vai prejudicar outros.
7) Qual a influência do alinhamento da direção nos pneus?
Um automóvel com a direção desalinhada faz com que os pneus, além de rodarem, se arrastem no piso, gerando desgaste excessivo, além do aumento da temperatura e o desequilíbrio do veículo. E mais: um carro com os ângulos da direção e/ou suspensão alterados perde a aderência nas curvas, passando a “cantar pneus” facilmente nas manobras, além de tender a “puxar” para um dos lados, já que os pneus se arrastam, buscando seguir outra direção. Por fim, o consumo de combustível também aumentará bastante.
8) Como surgem bolhas no pneu? É possível continuar utilizando um pneu assim, ao menos como estepe?
A bolha, normalmente, surge na lateral do pneu, devido a uma ruptura da estrutura por um choque de origem acidental. Este dano é provocado por um impacto do pneu contra um obstáculo (pedra, guia, desnível na pista, objeto estranho sobre a pista ou outro qualquer). Nessa situação, a estrutura interna do pneu sofre uma compressão localizada contra a roda que ocasiona a ruptura dos cabos da estrutura. A partir desse ponto, os danos podem se alastrar, chegando até ao rompimento total da estrutura do pneu. Agora, imagine as consequências desse rompimento em uma curva em alta velocidade. Por isso, as fabricantes condenam o uso — mesmo temporário — de pneus com esse tipo de deformidade.
9) É possível reparar esse problema e recuperar o pneu?
Não, pois o dano é interno e a extensão do problema é grande. O pneu deve ser substituído.
10) Os chamados pneus “verdes” também duram mais?
Não há como garantir que um pneu “verde” tenha vida útil maior que a de um convencional. Mas, partindo-se do princípio que um pneu com baixa resistência ao rolamento também aquece menos, é possível imaginar que, em condições normais e com o proprietário do veículo realizando a manutenção preventiva corretamente, os pneus “ecológicos” podem, sim, durar mais. A Michelin, aliás, garante que consegue oferecer pneus “verdes” que conseguem conciliar desempenho melhor em três itens aparentemente antagônicos: durabilidade, aderência e consumo de combustível.
11) O que é um pneu run flat?
Os pneus chamados de run flat são aqueles que podem rodar sem pressão de ar no interior por um determinado período, geralmente até 80 km à velocidade de 80 km/h, conservando uma dirigibilidade muito próxima de um pneu normal inflado e com total segurança para os ocupantes do veículo. Isso permite que o veículo possa chegar a um local seguro para reparar ou substituir o pneu furado ou cortado. Importante: como não alteram o comportamento do carro significativamente, é necessário que o automóvel possua um sistema de monitoramento da pressão dos pneus, para que o motorista saiba que ocorreu um problema.
12) O que são pneus simétricos e assimétricos? Todo pneu tem sentido de direção?
Existem três tipos de “escultura” de pneus:
Os direcionais, que têm um sentido específico de rotação e visam otimizar a aderência em piso molhado. Esses pneus obrigatoriamente têm o sentido de giro marcado no flanco e não devem ser invertidos para não comprometer a aderência no molhado.
Os assimétricos possuem o lado de montagem determinado e trazem a parte externa e a interna indicadas nas laterais. Esses pneus possuem o lado externo da banda de rodagem mais compacto para melhor aderência nas curvas e o lado interno mais recortado para melhor aderência em piso molhado. Eles podem rodar em qualquer sentido, desde que respeitados os lados interno e externo.
Simétricos. Esses pneus não possuem nenhum tipo de orientação ou sentido de montagem e podem rodar em qualquer sentido, serem invertidos várias vezes, ou montados de um lado ou de outro da roda sem nenhum prejuízo nem para a direção, nem para os pneus.
13) É possível trocar as rodas e os pneus de um carro compacto (165/70 R13), por exemplo, por um jogo com medidas maiores (195/55 R15)? Isso pode ocasionar algum problema?
Todo veículo é projetado com uma determinada relação de transmissão, ou seja, a cada volta que o motor dá quando está trabalhando deve corresponder a uma determinada distância percorrida em uma marcha específica. Para que esta relação se cumpra e as características do veículo se conservem conforme o projeto, é indispensável que os pneus tenham o mesmo diâmetro. Assim, a regra básica para a alteração da dimensão original dos pneus é manter o diâmetro externo, com uma tolerância de 3% (para mais e para menos), determinada pelo Inmetro. É possível montar um pneu de perfil menor em uma roda maior, conservando assim o diâmetro final dentro desta equivalência. Uma alteração deste fator certamente provocaria mudanças no consumo de combustível, na rotação final do motor (que pode gerar maior desgaste do mesmo), modificação no torque ou na força do veículo e também na velocidade final do mesmo. Além disso, até mesmo o hodômetro e o velocímetro marcariam quilometragens e velocidades equivocadas, o que poderia submeter o condutor a risco de sofrer multas por excesso de velocidade, por exemplo.
14) Pneus importados são melhores que os nacionais? Existem modelos trazidos do exterior por fabricantes intaladas no Brasil, certo?
Não é correto avaliar sob essa ótica, pois há pneus importados de todos os tipos, inclusive por fabricantes instaladas no país. O que é necessário é garantir que os produtos comercializados no país, importados ou não, tenham os padrões mínimos de qualidade exigidos pelo Inmetro e respondam aos requisitos de segurança, robustez, durabilidade, menor resistência à rodagem etc.
15) Afinal, por que o pneu tem preço tão elevado no Brasil ?
Entre todos os itens de manutenção de um veículo, o pneu é um dos que apresentam menor valor por quilômetro rodado, sendo um dos produtos mais econômicos na manutenção de um veículo devido à sua alta durabilidade. Somado a isso, o pneu é um dos produtos de maior importância para a segurança dos ocupantes do veículo. Ele é o único ponto de contato do veículo com o solo. Uma máxima do setor diz que “o freio para a roda, mas quem para o carro é o pneu”.
O pneu é composto de mais de cem elementos diferentes entre compostos de borracha, borrachas sintéticas, borracha natural, elementos químicos, cabos têxteis diversos, cabos metálicos, aros metálicos, enfim, uma enorme diversidade de componentes. Além disso, ele é fabricado à mão, o que requer profissionais com qualificação diferenciada. Como se não bastasse, boa parte dos componentes necessários para a produção são importados.
Para se ter ideia, somente em pesquisa e desenvolvimento, a Michelin, uma das gigantes do setor, investe por ano mais de 600 milhões de euros e conta com mais de 6.000 funcionários dedicados apenas ao processo de inovação. Tudo isso, como se sabe, custa muito dinheiro.