A Volkswagen demonstrou que quer acabar com a hegemonia folgada da Fiat Strada no segmento das picapes pequenas quando decidiu atribuir ao utilitário um visual diferente dos “primos” Gol e Voyage. Na linha 2017, a Saveiro adquiriu mais personalidade, ficando mais próxima da picape Amarok, além de ter ganhado uma versão exclusivamente voltada para o trabalho, chamada de Robust. 

Embora seja muito cedo para prever qualquer coisa (a nova Saveiro não completou nenhum mês de vendas), o modelo segue numa crescente no mercado, segundo o balanço de março da Fenabrave, entidade que representa os vendedores de veículos. Com 3.040 unidades emplacadas no último mês, a Saveiro acumula 9.230 vendas no primeiro trimestre do ano. Ainda é distante dos 13.934 emplacamentos da Strada, mas pelo menos a Volkswagen só tem a concorrente de Betim (MG) para se preocupar.

Volkswagen Saveiro Trendline CE parte de R$ 52.730

Em terceiro lugar neste segmento, a Chevrolet Montana vai desaparecendo gradualmente do mercado. Em fevereiro deste ano, a picape foi parar nas mãos de apenas 498 consumidores. No mês seguinte, meros 305 se interessaram por ela, somando 1.593 unidades emplacadas desde janeiro. 

É verdade que a Chevrolet já vislumbra a troca de geração da Montana (o que deve ocorrer ainda este ano), portanto deve enxergar este desempenho ínfimo de maneira razoável.

Mesmo em fase final de produção, a Montana não deixa de fazer parte do leque de opções ao consumidor que precisa de uma picapinha para cumprir com a rotina de trabalho e, por quê não, lazer. Pensando nisso, decidimos colocá-la lado a lado com a Saveiro Trendline. 

CRITÉRIO DO PREÇO
Antes que você ache apelativo comparar duas picapes vivendo momentos tão distintos, atente-se ao fato de que com a nova versão Robust da Saveiro, a Volkswagen pôde reposicionar as versões Trendline da sua picape para cima, especialmente a opção com cabine estendida, que custa R$ 52.730. A versão equivalente da Strada (Working), por exemplo, é R$ 5.000 mais barata. Já a Montana, que só é vendida com cabine estendida, na configuração Sport, parte de R$ 53.850, logo, mais próxima da rival da Volks.

Surpreendentemente, caso nossa análise se restringisse apenas ao custo-benefício dos dois modelos, a Montana teria uma vantagem interessante. Isso porque pelo preço que a Chevrolet cobra por ela, a lista de itens de série inclui equipamentos que não são oferecidos nem como opcionais na rival. 

Tanto a Saveiro Trendline CE quanto a Montana Sport oferecem direção hidráulica e vidros e travas elétricas de série nestas versões. No caso da Volks, o conforto para por aí. Já a Montana ainda dispõe de ar-condicionado, retrovisores elétricos, rádio com entrada USB e conexão bluetooth (com um visual bem ultrapassado, diga-se de passagem), sensor crepuscular e até piloto automático. A Saveiro só se sobressai pelos freios a disco nas quatro rodas (os traseiros da Montana são a tambor).

Interior da Saveiro é mais refinado do que o da rival

Como já é de praxe, para equipar melhor a Saveiro, o consumidor da Volkswagen terá que arcar com os custos dos pacotes opcionais. A unidade avaliada neste comparativo, por exemplo, está equipada com Conforto Completo, Módulo Plus e Interatividade Media, que, aí sim, deixam a picape bastante interessante para o convívio diário. Neles estão inclusos ar-condicionado, retrovisores elétricos, rádio com entradas USB, cartão SD Card e bluetooth, suporte para celular, faróis de neblina, capota marítima e sensor de estacionamento traseiro. Para ter tudo isso, no entanto, você terá que desembolsar, no mínimo, R$ 6.000 a mais. 

No pós-venda a comparação fica mais parelha. De acordo com dados da Jato Dynamics, empresa especializada em análise de mercado, a Saveiro desvaloriza 16,8% após um ano, enquanto a Montana 18,4%. As apólices de seguro, também cotadas pelo Jato, revelam uma vantagem maior para a Montana: R$ 4.182 contra R$ 4.962 da Saveiro. Esta diferença pode ser entendida, entre outros aspectos, pelo custo de manutenção menor da Chevrolet.

Considerando um pacote de manutenção que engloba jogo de pastilhas de freio dianteiras, jogo de velas de ignição e filtros de óleo, combustível e ar do motor, o custo para o consumidor da Chevrolet será de R$ 337,10. Já o mesmo conjunto de peças para a Saveiro sai por R$ 610,30. A vantagem só não é mais discrepante, porque os quase R$ 300 mais caros da manutenção da Volkswagen são compensado pelos preços de revisões até os 30.000 km: R$ 1.008 para a Saveiro contra 1.308 para Montana pelos mesmos serviços. 

Caçamba da Saveiro permite acomodar 734 litros de volume

CHOQUE DE GERAÇÕES
Se no papel a Montana ainda parece ter fôlego para atrair consumidores, na prática, a realidade não é tão agradável para ela. A começar pelo visual. Desde que foi lançada no mercado em 2010 baseada no já aposentado Agile, o estilo da Montana passou a ser amplamente criticado. É tão verdade que não é raro encontrar quem a chame pelo nada carinhoso apelido de “Monstrana” por aí. 

Na época o espanto foi agravado sobretudo por conta da comparação com o modelo anterior, claramente mais harmonioso e bonito que o atual. A Saveiro, por outro lado, conseguiu manter uma linha interessante de design em suas últimas reestilizações. Nesta última, como já falamos, ela está mais robusta e alinhada com uma abordagem contemporânea, distinta do visual estagnado no tempo da concorrente. 

Chevrolet Montana Sport custa R$ 53.850

As cabines revelam outro abismo temporal entre as duas picapes. A Montana parece clamar por uma renovação, uma vez que o acabamento interno transmite fragilidade e já não agrada ao olhar, pois ainda se serve de formas redondas das saídas de ar e um console central simples e sóbrio demais. O rádio, conforme observado, só corrobora a sensação de obsolecência da Montana. O painel, com seus grafismos em “bumerange”, além de dificultarem a leitura, forçam uma modernidade que já não condiz com as tendências atuais, tampouco o faz o computador de bordo monocromático em tom azulado. 

Talvez a única vantagem do interior da Montana sobre a Saveiro é a funcionalidade, pois há mais opções para espalhar objetos pelo habitáculo.

O tom preto por toda a cabine da Saveiro é discreto, mas, aliado ao capricho da montagem das peças, cria um ambiente mais elegante ao utilitário. As saídas de ar horizontais ornam bem com o restante igualmente horizontalizado da cabine. 

O console central se benficia por um rádio com visual mais moderno e o painel de instrumentos, embora simples, manteve a funcionalidade e objetividade da linha anterior da gama, o que é um ponto positivo.Os próprios materiais utilizados na Saveiro (majoritariamente plásticos rígidos, assim como na concorrente) têm um toque mais agradável que os da Montana. 

MOTORES ANTIGOS
Ao ligar a ignição das duas picapes, ambas compartilham a mesma crítica: os motores não são novidade. Sob o capô da Montana está o bloco 1.4 de 99 cv e 13 kgfm de torque. A Saveiro roda com o antiquado motor 1.6 8V de 104 cv e 15,6 kgfm. Ambas trabalham com câmbios manuais de cinco marchas.

Cabine da Montana tem design ultrapassado

Como já vem sendo criticada há seis anos, a Montana, durante todos esse tempo, manteve o desempenho aquém do esperado para uma picape. O propulsor demora a embalar na cidade, trabalhando melhor em rotações mais altas, pois na faixa das 2.000 rpm ele exige paciência. A realidade da Saveiro não é tão distante. Apesar de o motor 1.6 se mostrar mais ágil, até mesmo em baixas rotações, o desempenho não empolga, e, assim como a rival, faz você trabalhar bastante com a transmissão (que, nos dois carros, tem engates agradáveis). 

Na nossa pista de testes, a diferença de aceleração de 0 a 100 km/h entre as duas foi de meros 1s2 (13s1 para a Montana e 11s84 para a Saveiro). Na retomada de 60 a 120 km/h em quarta marcha, a distância entre elas foi maior, e desta vez em favor da Montana: 4s4. 

Em consumo houve praticamente um empate técnico em percurso combinado entre cidade e estrada. A Chevrolet percorreu 8,2 km/l abastecida com etanol, enquanto a Volks rodou 8,1 km/l com o mesmo combustível. 

Caçamba da Montana tem capacidade volumétrica de 1.152 litros

RESULTADO PREVISÍVEL
Talvez a única maneira de a Montana se sobressair ante à Saveiro neste comparativo seja a de imaginar um consumidor que não tem a menor preocupação quanto a qualidade e conforto de rodar com um carro todos os dias, tampouco enxerga o automóvel como um “investimento”. Com o final da vida se aproximando, maior desvalorização e custos de pós-venda equiparados aos da Saveiro, não há atributos da Montana que a Saveiro não consiga compensar.

O calcanhar de Aquiles da Volkswagen é justamente o nível de equipamentos, que, de fato, é econômico demais na configuração padrão. Mas o projeto atualizado e desempenho mais agradável, sobretudo na cidade, são vantagens que a Montana não consegue superar. 

Volkswagen Saveiro é melhor negócio diante da Chevrolet Montana

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