Se você fosse um artista milionário, qual carro teria para driblar os paparazzi ou outros bisbilhoteiros? Uma boa alternativa é o McLaren P1, a supermáquina híbrida que temos o prazer de apresentar agora.

Mas, para isso, tivemos de ir à Inglaterra, mais precisamente a Woking, cidadezinha a cerca de 50 km de Londres e a meio caminho de lugar nenhum. Essa ideia, aliás, agradou, já que, a bordo de um carro como o P1, me imaginar preso no congestionamento não é nada recomendável. 

McLaren P1 é superesportivo rival de Porsche 918 Spyder e LaFerrari

Para piorar, temos um carro com o volante no lado esquerdo para rodar no trânsito de mão inglesa, o que complica qualquer ultrapassagem. Sem falar nas sebes, cercas e postes assustadoramente próximos dos limites do asfalto. A impressão é que estou no circuito de Nordschleife, mas com trânsito no sentido contrário! 

O asfalto não tem buracos ou imperfeições, mas é muito abrasivo e isso é facilmente percebido a bordo do carro, que não conta com revestimento acústico para filtrar o som produzido pelos pneus. Assim, quanto maior a velocidade, mais intenso é o ruído a bordo. Mas esse é o preço a se pagar em um superesportivo.

Asa traseira pode ser acionada por botão no volante, como um F1

Na primeira — e breve — parte de nossa viagem, vamos a um posto de serviços abastecer o carro. Em seguida, partimos para Goodwood, o local que sedia o tradicional encontro de clássicos, que inclui uma pista de corridas. Ao chegar, noto alguns Renault Clio e Porsche 911 disputando uma animada prova. A tentação é grande, mas permaneço fora e sigo em direção ao restaurante. “Mantenha a calma e tome um chá”, me aconselha um dos profissionais da McLaren, que me acompanha na viagem.

Pouco depois, vamos a um campo de pouso que existe na parte interna do complexo. Tendo um antigo Spitfire T9 como testemunha, posso, finalmente, acelerar com gosto. Seleciono o modo Race e o que ocorre a seguir é curioso: o motor inicialmente soa como um quatro cilindros nervoso. Depois, o som parece o de um Nissan GT-R. Então, por fim, o ronco do V8 3.8 enche o ar.  

Para um superesportivo, P1 faz um estilo mais discreto

A experiência em Goodwood agrada, mas ainda existe algo melhor reservado. Vamos para a pista de testes de Chobham, ao lado dos famosos estúdios Longcross, onde várias cenas de perseguição foram gravadas. 
Em algumas voltas no local, podemos usar o botão azul no volante. Trata-se do DRS, que, como na F1, altera a posição do aerofólio traseiro, melhorando a aerodinâmica em altas velocidades ou proporcionando mais pressão (downforce) nas curvas. O efeito é claramente perceptível.

Outro dispositivo que merece destaque é o controle de largada, com o qual é possível acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 2s8! E mais: em 6s8 o P1 atinge 200 km/h e em menos de 10s ele está a 300 km/h! Só lamentei não poder checar todos esses números pelo fato de a pista não ser suficientemente extensa. 

A cabine tem acabamento simples, com muitos detalhes em fibra de carbono

O melhor é que o P1 não se sai bem apenas em linha reta. Nas curvas o carro impressiona da mesma forma, por conta de seu torque absurdo (91,8 mkgf no total) que, graças ao sistema híbrido, pode ser usufruído com uma leve pressão no acelerador. O trecho interno do campo de provas permite avaliar o comportamento do P1 em curvas de diversos tipos, proporcionando diversão de sobra. Aqui a sensação é de rodar novamente em Nordschleife, mas sem trânsito algum, como se o famoso Inferno Verde estivesse inteiramente à minha disposição.  

A lembrança da experiência com a LaFerrari logo vem à mente: o coração acelerado, a tensão nas curvas, a adrenalina a toda e a preocupação em não perder os pontos de frenagem na pista de Fiorano. Agora tudo é diferente, o P1 avança tão rapidamente quanto a Ferrari, mas a sensação de tranquilidade é muito maior. A traseira do carro se mostra um pouco instável às vezes, mas é facilmente controlada — manobra auxiliada pelo asfalto bastante áspero.

Velocidade máxima do P1 é limitada em 350 km/h

O McLaren P1 transmite uma confiança inigualável ao seu condutor e isso também é explicado pela posição de dirigir. O motorista fica tão encaixado no fundo da cabine que mal percebe a ação da força g nas curvas. E ainda tem o comportamento do turbo, que “enche” o motor de forma gradual, sem provocar sustos. 

Não é à toa que esse super­esportivo é a melhor representação da cultura britânica: discreto, polido e até gentil quando se sabe lidar com ele. Mas estúpido, se necessário.

DADOS DE FÁBRICA McLaren P1
Motor: V8, turbo, gasolina, motor elétrico
Cilindrada: 3.799 cm³
Potência (combinada): 916 cv
Torque (combinada): 91,8 kgfm
Câmbio: Robotizado, 7 marchas
Tração: Traseira
Rodas: Liga leve, 19” (f), 20” (t)
Suspensão dianteira: Triângulos superpostos
Suspensão traseira: Triângulos superpostos
Velocidade máxima: 350 km/h
Aceleração (0 a 100 km/h): 2s8

Aerofólio, em conjunto com difusor, dá mais estabilidade

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