Existem ocasiões nas quais as palavras parecem ser insuficientes para descrever as coisas como elas deveriam. É o que ocorre com a mais recente cria da Casa de Sant’Agata Bolognese, o Lamborghini Huracán. Afinal, dizer que ele é o novo modelo de entrada da marca não condiz exatamente com a realidade, já que estamos acostumados a associar a definição “de entrada” com automóveis despojados ou com acabamento simples.

Mas, para a Lamborghini, um carro de entrada significa motor de 10 cilindros, 610 cv, 57,1 mkgf de torque, tração integral, câmbio robotizado de dupla embreagem, entre outros detalhes. Muitas fabricantes certamente ficariam felizes em ter um carro desses no portfólio. E, certamente, ele não seria o modelo de entrada delas.

Seja como for, o Huracán tem a difícil missão de suceder o Gallardo, que foi nada menos que o Lamborghini mais bem-sucedido de todos os tempos, com 14.022 unidades comercializadas ao redor do planeta. Para tanto, ele deverá conseguir acelerar mais rápido, mas conciliando economia e baixas emissões, além de exibir um padrão de acabamento mais refinado.

Tudo bem, esses são os objetivos do modelo (pelo menos, os que imaginamos). Mas é melhor ir logo ao que interessa: o primeiro contato já impressiona. O Huracán é muito elegante, a despeito de exibir um estilo extremamente esportivo, cheio de cantos vivos mesclados com curvas discretas. É impossível deixar de notá-lo, ainda mais pela cor amarela nem um pouco discreta.

Basta pressionar uma tecla — onde se localizaria a maçaneta nos carros convencionais — para abrir a porta (convencional, nada de estilo tesoura ou asa de gaivota). É preciso fazer um pouco de ginástica para subir a bordo, mas uma vez acomodado, o Huracán surpreende pela ergonomia perfeita. Pena que os bancos esportivos sejam oferecidos apenas como opcionais.

Com o motor acionado, o conhecido rugido do V10 soa como uma sinfonia aos ouvidos dos aficionados. O câmbio robotizado de dupla embreagem trabalha de forma incrivelmente suave no modo automático, assim como a suspensão adaptativa (que não está incluída no preço). Saio para a estrada e — surpresa! — não se percebe qualquer ruído anormal. Nem um rangido, um estalo ou vibração, nada! Já houve época em que modelos pré-série eram sinônimo de sacolejos e barulhos indesejáveis.

“Corpo” de alumínio e compósito
Uma das explicações para esse bom comportamento é a carroceria feita de alumínio e compósito de fibra de carbono, combinação que proporcionou uma estrutura não apenas 50% mais rígida, como também 10% mais leve. O melhor é que essa leveza também se refletiu em desempenho. Aliás, o V10 de 5,2 litros que equipa o Huracán faz questão de nos lembrar por que um motor de grande cilindrada sempre será insuperável em termos de acústica. Principalmente quando se acelera sem dó até 8.000 rpm, 8.500 rpm.

Falando em rotação, o novo Lamborghini conta ainda com um quadro de instrumentos digital, sem instrumentos convencionais. É bonito e muito futurista, mas, sinceramente, em esportivos deste naipe acho que nada supera um bem dimensionado conta-giros analógico no centro do quadro. O funcionamento do sistema, ao menos, é perfeito, com o ponteiro virtual respondendo imediatamente às acelerações.

Na parte inferior central do painel, junto ao console, outros três indicadores  virtuais fornecem as informações necessárias para o motorista. Logo abaixo, há uma série de botões e comandos das demais funções (ar-condicionado, navegador, iluminação etc.). O volante, com base achatada, traz comandos incorporados e ergonomia perfeita, como já é padrão.
Com o Huracán em ação, além da já citada ausência de ruídos inconvenientes, chama a atenção a agilidade e a facilidade com que o carro muda de trajetória sem causar sustos, mérito do excelente sistema de tração integral e também da distribuição de peso. É preciso acelerar de maneira quase irresponsável para que o controle eletrônico de estabilidade entre em ação. Mesmo assim, o ESP atua de maneira suave.

Mas o modelo também consegue proporcionar prazer para os motoristas mais experientes, pois os controles de estabilidade e de tração podem ser desligados. Nessa condição, a diversão é garantida. A sinfonia metálica do V10 é a trilha sonora para o balé encenado pelo Huracán nas curvas do autódromo reservado para a nossa avaliação. O trabalho de controlar o carro exige concentração e muito esforço físico, mas é impossível controlar o sorriso de satisfação estampado no meu rosto.

Ainda é cedo para garantir, mas, pelo que pudemos constatar, o Lamborghini Huracán tem todas as condições para superar o seu antecessor e se tornar o mais vendido da história. Ao menos por conta da tecnologia, ele já pode ser considerado um dos melhores — se não o melhor — de todos os tempos. Agora resta imaginar (e aguardar) as séries especiais do Huracán, que certamente serão lançadas futuramente.

Ficha técnica Lamborghini Huracán LP 610-4

Motor V10, central-traseiro,  longitudinal, gasolina; Cilindrada • 5.204 cm³; Potência 610 cv a 8.250 rpm; Torque 57,1 mkgf a 6.500 rpm; Câmbio • robotizado, dupla embreagem, 7 marchas, tração integral; Suspensão dianteira independente; Suspensão traseira multibraço; Pneus • 245/30 R20 – 305/30 R20; Carroceria • cupê, dois lugares; Dimensões (CxLxA) • 4,46 m, 1,92 m, 1,16 m; Entreeixos • 2,62; Peso • 1.422 kg.

Desempenho
0 a 100 km/h • 3s2

Velocidade máxima 325 km/h

Preço básico • 201.705 euros

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