Koenigsegg Jesko tem motor V8 ambicombustível de 1.600 cv e é novo candidato a ser o carro de produção mais rápido do mundo
Em setembro, a Bugatti anunciou a quebra da barreira das 300 milhas por hora para um veículo de produção. Um Chiron preparado com ajuda da Dallara e da Michelin chegou a 304,8 mph – ou, para o nosso uso, 490,5 km/h – na pista de testes alemã de Ehra-Lessien, pertencente à Volkswagen. Uma velocidade surreal, mas, ao que parece, já tem data para ser superada.
O Koenigsegg Jesko é o sucessor do Agera RS, hiperesportivo que até então detinha o recorde anterior de velocidade para automóveis de linha, de 447 km/h. Ao contrário da tendência atual dos hipercarros, o Jesko não é elétrico nem híbrido, mas é flex: debaixo do capô, que sustenta um enorme aerofólio, há um motor 5.0 biturbo “flat” V8 (abertura de 180°) derivado de seu antecessor. Mas com diferenças consideráveis, a começar pelo combustível: ele funciona tanto com gasolina quanto com E85 – mistura de 85% de etanol anidro com 15% de gasolina pura. Potência? Nada menos que 1.279 cv com gasolina e 1.600 cv (!) com E85. Torque? “Apenas” 153 kgfm.
Números como esses não vêm sem uma dose pesadíssima de alta engenharia. Segundo a fabricante, o virabrequim deste motor é feito a partir de uma única peça de aço e pesa apenas 12,5 kg. Já as bielas pesam apenas 540 grama cada e os pistões, 290 gramas. Para diminuir o atraso dos dois turbos (o famoso “lag”), há um pequeno compressor de ar que injeta 20 bar de pressão diretamente no rotor do lado “quente” para impulsioná-lo nos momentos em que os gases de escapamento ainda não encheram a carcaça da turbina.
O sistema de injeção é um caso a parte. Este é o primeiro motor de produção do mundo a ter três injetores por cilindro. São dois injetores diretos e um indireto, este com a função de controlar a temperatura do cilindro para melhorar a combustão.
Mas talvez o motor não seja o feito de engenharia mais impressionante do Jesko. A Koenigsegg resolveu projetar e construir o câmbio dentro de casa e criou um sistema de 9 marchas com sete embreagens internas que a fabricante chama de “transmissão na velocidade da luz” (LST). As embreagens trabalham de forma simultânea e não linear, gerenciadas por um sistema que calcula qual é a marcha correta a ser engatada, independentemente da marcha que está engatada naquele momento.
A fabricante explica que se você estiver em 7ª marcha e o sistema entender que a marcha ideal para aceleração máxima é a 4ª, o gerenciamento pula as 6ª e 5ª marchas e vai direto para a 4ª, como se fossem sequenciais. As mudanças podem ser feitas pelas borboletas atrás do volante ou pela alavanca no console central, criada para dar a sensação de um câmbio sequencial de competição.
A suspensão do Jesko aproveita o conceito de suspensão “triplex” do Agera RS, com amortecedores adicionais os quais evitam que a traseira abaixe na arrancada. No novo modelo, a novidade é que o sistema também está na dianteira. As rodas traseiras são esterçantes e os freios, de carbono. Os pneus são os Michelin Pilot Sport Cup2 de medida 265/35R20 na frente e 325/30R21, atrás.
O Jesko terá 125 unidades fabricadas, sendo que algumas delas terão um pacote aerodinâmico especial para altíssima velocidade – a versão normal pode gerar até 1.000 kg de downforce a 275 km/h, enquanto a versão “aliviada” terá 500 kg a menos para aumentar a velocidade final. Em simulações de computador, a fabricante garante que ultrapassou os 500 km/h.
Na vida real, a expectativa é pelo menos exceder as 300 milhas, ou 482 km/h. Mas a Koenigsegg não vai precisar se preocupar com a concorrência da Bugatti por futuros recordes. Logo após sua mais recente façanha, a fabricante francesa do Grupo VW declarou aposentadoria da competição pelo carro mais rápido do mundo. Terreno livre para o Jesko brilhar.
Esse Jesko e o Bugattti Chiron são duas orgias capitalistas. Pra que um ser humano precisa de um carro que chega a 490, 500 km/h? Que utilidade isso tem? Levando-se em conta o número de cilindros do motor de cada um, o Koenigsegg leva nítida vantagem em tecnologia, posto que seu propulsor possui “apenas” oito cilindros, enquanto o do Bugatti possui 16 “bocas” e consome apenas 5 litros de gasolina por km rodado. Interessante que a União Europeia vivia pegando no pé da Porsche, alegando que os esportivos desta causavam muita poluição, mas fechava os olhos para o Veyron e os modelos anteriores da marca sueca.