Durante o lançamento do Ka Concept, Carro Online entrevistou Oswaldo Ramos, diretor de marketing da Ford do Brasil, que contou um pouco sobre o lançamento do compacto, o Fiesta Rocam e a parceria existente entre os mercados brasileiro e russo.
Carro Online: O Ka é a solução europeia para o mercado brasileiro?
Ramos: A solução europeia não é a mesma para os mercados emergentes. Por outro lado, o Brasil é um polo de desenvolvimento do segmento B. Veja o exemplo da concorrência, que trouxe da Ásia um carro que não foi feliz em design. Aí você pergunta para o asiático: ‘Esse carro é bonito no seu mercado?’ e o sujeito responde: ‘não’. Ou seja, carro bonito deve ser bonito no mundo inteiro. O Brasil se projetou como um polo de carros bonitos, compactos e com preço popular. Por isso, desenvolvemos aqui o projeto do Ka. O carro à la EcoSport está, também, sendo bem recebido em clínicas ao redor do mundo. Vem preencher um espaço muito grande que há entre o Fiesta Rocam e o New Fiesta.
Carro Online: Mas o Fiesta Rocam não vai sair de linha?
Ramos: O Rocam pode continuar a ser o carro de entrada da Ford, é só uma questão de demanda e espaço na fábrica. Estamos apenas apresentando o conceito do Ka. Ainda está longe para pensarmos em posicionamento. O Rocam foi preparado, agora, para ter airbag e ABS, conforme manda a nova legislação. No mercado já existem apenas versões com vidro e travas elétricas e ar-condicionado. A partir de dezembro, o Fiesta Rocam terá somente dois catálogos: 1.0 e 1.6 completos.
Carro Online: O Ka Concept terá nova motorização?
Ramos: Estamos investindo pesado não só na plataforma do carro, mas na linha de motores e transmissão para buscar a liderança no que se refere à consumo de combustível associado à melhor performance da categoria. Quem lança, hoje, um carro com aparência nova com o motor da geração passada vai ter problemas seríssimos de competitividade nesse segmento.
Carro Online: Você está sugerindo que a Ford está planejando um motor tricilíndrico para aliar menor consumo com melhor potência?
Ramos: É uma das soluções de engenharia para chegar lá (risos). O desafio é produzir soluções na faixa de preço que queremos trabalhar. Turbo é uma tendência? É. Mas em que banda de preço?
Carro Online: Então o Ka vai atingir outro público e outros concorrentes?
Ramos: Ele é um carro do porte do Gol e Onix. Não é um veículo para competir com o novo Uno. É feito para atender o consumidor que precisa de espaço. Não pretendemos ser a solução mais barata do mercado. Quando você cresce em altas taxas percentuais ano a ano, significa que muita gente está comprando carro 0 km pela primeira vez. Assim você pode classificar esse consumidor como “emergente”: aquele que tem o sonho de ter um carro 0 km, mesmo que ele abra mão de uma série de equipamentos. O mercado brasileiro não está mais nessa fase, está numa tendência à maturidade. Muita gente já tem um carro usado para dar em troca. Depois se dá o primeiro passo, não há como voltar atrás. Ou seja, se o seu seminovo tinha direção hidráulica e ar-condicionado, você não vai comprar um 0 km sem esses itens. O brasileiro tem uma postura diferente: “Quero ter um carro melhor do que eu tenho hoje”.
Carro Online: O Ka virá recheado de tecnologia?
Ramos: Essa plataforma só tem direção elétrica. Vamos trazer para o segmento de entrada tecnologias que ninguém trouxe ainda. E principalmente segurança. Esse segmento é o mais sensível à variação de preço. Então, o preço do Ka será competitivo. Fizemos uma pesquisa com outro produto da marca, na qual estudamos o pacote de opcionais. Para nossa surpresa, o Controle Eletrônico de Estabilidade (ESP) apareceu em primeiro lugar e fomos os primeiros a trazer tecnologia para carros daquele segmento. E isso seria imaginável há cinco anos. É impressionante a conscientização sobre itens de segurança. Quando o consumidor tem acesso às informações e consegue distinguir quais são elas, esses itens passam a ser preponderantes.
Carro Online: Essa pesquisa foi feita com o EcoSport?
Ramos: Não posso te falar (risos). A partir do momento em que se cria uma escala para esses itens de segurança, pagamos o investimento e aí é fácil de colocá-los nos carros. Eu brinco que o mercado global é uma grande prateleira de doces e somos as crianças. Você pode chegar lá e escolher o que quiser para o mercado nacional. Então, tudo o que ganha escala está lá, disponível na prateleira. Se você chegar lá sozinho, como mercado, é muito difícil ganhar um doce. Mas, por exemplo, o motor flex, que é uma tecnologia nossa, mesmo não sendo global, é um requerimento do mercado nacional. Por isso investimos nele. Muitos dos itens disponíveis exigem que a montadora nacional se una a duas ou três de outros países para ganhar escala e compensar o investimento e desenvolvimento. Parceiros são sempre necessários para ganhar escala. E é preciso entender quais mercados têm afinidade com o seu. Mais do que a Índia, a Rússia tem uma afinidade muito grande com o Brasil. A Rússia consome produto europeu, possui uma classe emergente com alto poder aquisitivo e o EcoSport, por exemplo, é um sucesso lá.