Quando a Jeep anunciou que ofereceria a opção do motor turbodiesel em todas as versões do Renegade durante sua apresentação no Salão do Automóvel de 2014, a estratégia teve boa receptividade. Afinal, seria uma novidade em relação aos rivais. Só dependeria de quanto a fabricante iria cobrar pela nova opção de motorização. E a Jeep não conseguiu nenhum “milagre”.
A versão intermediária do Renegade, a Longitude, parte de R$ 80.900 equipada com motor 1.8 E.torQ flex e câmbio automático de 6 marchas. Ela já vem bem equipada de série, com destaque para o sistema de áudio Uconnect com tela tátil de 5″, ar-condicionado de duas zonas, freio de estacionamento elétrico, sensor traseiro com câmera de ré, controle de estabilidade e de cruzeiro, e rodas de liga leve de 17″.
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A mesma configuração, mas com motor 2.0 turbodiesel Multijet e câmbio automático de 9 marchas (o único disponível), custa R$ 29.000 a mais. Com ela, o Renegade também ganha tração 4×4 com seletor de modo de condução, reduzida e bloqueio de diferencial.
Para compensar tamanha diferença de preços, o Renegade a diesel obteve consumo 27% melhor que o flex (em um percurso misto cidade e estrada), utilizando gasolina. Com etanol, a vantagem aumentou para 67%. Mas, apesar de a superioridade do diesel parecer clara, na ponta do lápis o resultado foi diferente.
Em nossas medições, as médias de consumo ponderadas (isto é, 55% de trecho urbano e 45% de trecho rodoviário) obtidas pelo Renegade flex foram: 7,6 km/l com etanol e 10 km/l com gasolina, enquanto o movido a diesel registrou 12,7 km/l. Segundo a Agência Nacional do Petróelo (ANP), o preço médio desses combustíveis no Brasil é de R$ 2,12, R$ 3,30 e R$ 2,95, respectivamente. Assim, o custo por quilômetro rodado foi de R$ 0,278, R$ 0,33 e R$ 0,232, seguindo a mesma ordem.
Tomando como base a média de 15.000 km rodados por ano do consumidor brasileiro, o proprietário do Renegade que abastecer apenas com etanol desembolsará R$ 4.170 durante esse período. Se preferir usar gasolina, o custo subirá para R$ 4.950. Já no caso do diesel, serão R$ 3.480 deixados nos postos de abastecimento após doze meses.
Considerando a diferença de preços entre os dois modelos, a economia de 16,6% (no mínimo) do Renegade a diesel não dará o retorno tão cedo ao proprietário. A vantagem do diesel no gasto anual, comparando com o etanol, por exemplo, é de apenas R$ 690.
Dividindo este valor pelos R$ 29.000 a mais da versão 4×4, o proprietário só compensaria o investimento após 42 anos (ou depois de rodar 630.434 km). Se a comparação for feita com gasolina, o cenário fica ligeiramente animador: serão precisos pouco menos de 20 anos ou 295.918 km).
Utilizando apenas as médias de consumo rodoviário, onde, teoricamente, o proprietário de um modelo a diesel passa a maior parte do tempo, a situação é ainda pior. Vai demorar 49 anos para o investimento extra compensar na comparação com etanol, e 25 anos com gasolina.
Um argumento que não pode faltar é o de que utilizamos a média nacional dos preços dos combustíveis, logo, o tempo de compensação pode variar de acordo com a localização. Mas, igualmente relevante seria adicionar os custos elevados que o dono do Renegade a diesel terá com seguro e manutenção.
O pacote de manutenção básica (filtros de ar, óleo e combustível, pastilhas de freio dianteiras e jogo de velas) do Jeep 1.8 custa R$ 717, enquanto o do diesel (que não tem velas) sai por R$ 826. O seguro do primeiro custa R$ 4.661 e o do turbodiesel é R$ 5.785. Nas revisões até 60.000 km, o diesel é R$ 681 mais barato.
Portanto, para quem se preocupa apenas com o consumo, é bom fazer os cálculos, pois o benefício do diesel pode não valer a pena. Mas se fatores subjetivos influenciarem a decisão, como a disposição à incursões fora-de-estrada e desempenho mais agradável, o diesel é mais indicado.
Preço do Renegade a diesel é o obstáculo
Você já viu no CARRO ONLINE que o desempenho do Renegade flex não encanta. O motor 1.8, apesar de potente, parece inadequado para o SUV compacto. Já a versão turbodiesel entrega um desempenho mais coerente com a proposta do SUV. Contudo, devido às peculiaridades do mercado nacional e ao fato do motor a diesel ser importado, a versão 4×4 não pôde ser posicionada em um patamar mais acessível, e custa R$ 29.000 a mais em qualquer versão.
Com uma diferença tão grande, os argumentos favoráveis à sua aquisição perdem impacto, já que o retorno do investimento é muito demorado e apenas os aventureiros costumam utilizar as vantagens da tração 4×4. Do ponto de vista financeiro, adquirir o flex faz mais sentido.