Você está cansado de ouvir que o dono de um utilitário esportivo no Brasil não põe seu carro em uma trilha pesada para não danificá-lo. É uma ladainha tão antiga quanto a própria existência de SUVs no país. Mas quem gosta de uma aventura off-road deve deixar esse falatório de lado se estiver no comando do Land Rover Discovery Sport. A não ser que a ideia seja colocá-lo numa daquelas peripécias do Planeta Extremo, ele aguenta o tranco.
Aguentou na avaliação da CARRO nas estradas cobertas de neve da Islândia, durante quase 400 km no rigoroso inverno europeu, em janeiro. Experiência própria. Sem familiaridade com esse tipo de terreno, perdi o controle do carro ao passar sobre uma fina camada de gelo, mais traiçoeira do que a neve em si. O SUV saiu da pista, deslizou de lado metros abaixo em um barranco e parou a poucos centímetros de um paredão.
Fim da linha na avaliação? De jeito nenhum. A equipe de resgate até foi acionada, mas não foi preciso. O pneu traseiro direito ficou preso numa pedra. Engatei a ré do câmbio automático de 9 marchas e, lentamente, movimentei o Discovery com o cuidado de não encostar na parede. Em seguida, com o sistema Terrain Response acionado no modo Neve, pisei fundo no acelerador, controlei o volante para o carro não “sambar” tanto e escalei a pirambeira até retornar à estrada. O saldo: apenas alguns riscos na roda.
Essa foi uma das ciladas que o jovem britânico enfrentou. Importado da Inglaterra, o modelo chega ao Brasil ainda neste semestre a partir de R$ 179.900. A boa notícia é que, em 2016, começa a ser produzido na futura fábrica da Jaguar Land Rover, em Itatiaia, RJ. Com 4,59 m de comprimento e entre-eixos de 2,74 m, o SUV sucede o Freelander 2 e inaugura uma nova linhagem da família Discovery, que certamente renderá outros filhotes. O visual do Discovery Sport está alinhado com a tendência atual, mas há quem desaprove a despedida do Freelander, dono de linhas mais conservadoras.
Avaliamos a versão com motor 2.0 16V turbo, movido a gasolina, que desenvolve 240 cv a 5.800 rpm. Em um segundo momento, a Land Rover trará a versão 2.4 turbodiesel, com 190 cv. Ele também será vendido no mercado brasileiro na configuração 5+2, ou seja, contará com uma terceira fileira de bancos que acomoda mais duas pessoas. Quando não forem utilizados, os bancos podem ser recolhidos, ampliando o espaço para a bagagem.
Os cenários de cartão-postal da Islândia foram uma ótima oportunidade de o Discovery Sport exibir sua valentia, respaldado pelo pacotaço tecnológico que ele tem. Encontrar a tração ideal para o piso coberto de neve é uma das funções do Terrain Response do SUV, que pode trabalhar também sobre grama, cascalho, lama e areia. Ou seja, não há o que temer ao colocá-lo à prova nesses tipos de terreno no Brasil.
SOBRE AS ÁGUAS
Depois de superar o inesperado barranco, o Discovery Sport encarou um desafio que estava no “script”: cruzar um rio de aproximadamente meio metro de profundidade. A fabricante afirma que o carro pode vencer trechos alagados de até 60 cm. Com ângulo de ataque de 25º, o SUV entrou incólume nas águas, apesar do baque em uma pedra na parte de baixo. Chegou até a outra margem, 50 metros adiante, sem nenhuma ameaça de pane. Para não correr o risco de encalhar no aguaceiro, o motorista conta com o Wade Sensing, que indica a profundidade do rio na tela tátil de 8” e também com um aviso sonoro. Quanto mais fundo, mais estridente o alerta.
O Discovery Sport é confortável e tem comandos fáceis de manejar — inclusive no volante. Mas tecnologias como o Terrain Response e o Wade Sensing, que fazem parte da lista de equipamentos, deixam a vida a bordo ainda mais agradável. “Os recursos inteligentes dão muita versatilidade ao carro, que ainda conta com um desenho diferenciado”, diz Gerry McGovern, diretor de design da fabricante.
O Efficient Driveline é um deles. Ele aumenta a aderência em todas as superfícies, dividindo o torque entre as rodas dianteiras e traseiras. Segundo a Land Rover, esse diferencial é 4 kg mais leve que o convencional, além de ser controlado eletronicamente, respondendo mais rapidamente em condições de falta de tração.
Quer outros dois bons motivos para encarar uma trilha sem sustos? Em uma descida íngreme, basta acionar o Hill Descent Control para manter a velocidade do carro, sem que ele desembeste ladeira abaixo. Já o Roll Stability Control detecta quando a carroceria começa perder o controle. Quando isso acontece, ele freia as rodas do lado interno, colocando o SUV de novo no prumo.
Há muito mais, como airbag para pedestre, Park Assist e o Autonomous Emergency Braking. Como o nome pomposo anuncia, é um sistema pioneiro de freios de emergência autônomo, que ajuda a evitar colisões em velocidades inferiores a 50 km/h. Acima disso, ele interfere reduzindo a força da batida. O dispositivo emprega câmeras instaladas na frente do retrovisor interno, que detectam o perigo à frente. Tomara que tanta tecnologia esteja disponível no modelo vendido no Brasil. Se não, a trilha fica comprometida.
DADOS DE FÁBRICA
Motor: 4 cilindros em linha, 16V, turbo, injeção direta de gasolina
Cilindrada: 1.999 cm³
Potência: 240 cv a 5.800 rpm
Torque: 34,6 mkgf a 1.750 rpm
Câmbio: automático, 9 marchas
Tração: integral
Suspensão dianteira: independente
Suspensão traseira: triângulos duplos
Carroceria: SUV, sete lugares
Dimensões (CxLxA): 4,59 m, 2,06 m, 1,72 m
Entre-eixos: 2,74 m
Peso: 1.841 kg
Desempenho 0 a 100 km/h: 8s2
Velocidade máxima: 200 km/h
Consumo: 12,5 km/l
Preço básico: R$ 179.900