Vou poupar seu tempo. Você busca uma parceira com estilo requintado, cuja presença traga certo status e proporcione um convívio suave e confortável? A lady inglesa de Hinckley, a Triumph Bonneville, foi feita para você. Ah, você prefere uma moça menos aristocrática, mais condescendente e que sempre vai fazer exatamente aquilo que você espera? Uma gueixa japonesa pode ser a sua companheira. Agora, se você quer uma parceira mais original, rebelde, que lança a moda (e não a copia) e que combina muito mais com um jeans sujo, tatuagens e uma jaqueta de couro surrada do que com cromados brilhando e um sapato italiano apoiado nas pedaleiras. Vamos em frente…Vou apresentar a você a Harley-Davidson 883 Iron.
Ela é uma daquelas motos que você, obrigatoriamente, tem de conhecer antes de comprar. Ela tem personalidade forte e não está nem aí para o que você pensa dela. “Sou assim, e ponto.” É o que ela diria. Estamos falando de um modelo que, na essência, segue a mesma receita utilizada pela família Sportster nas últimas décadas, ou seja, preserva a simplicidade mecânica e a maneabilidade que fazem desta gama a porta de entrada para o mundo Harley.
Rodando com a Iron, não temos a sensação de estar sobre uma moto moderna e cheia de tecnologia, pretensão que esta moto efetivamente não tem. E quer saber? É justamente aí que está seu grande atrativo.
Encontramos uma posição de pilotagem nada forçada, com guidão na distância e na altura corretas e comandos ergonômicos. O estilo minimalista se extende ao painel, que se resume apenas ao velocímetro. O piloto pode escolher o que quer visualizar na pequena tela digital entre hodômetro total, um dos dois parciais, relógio e uma interessante opção que mostra a marcha engatada e a rotação do motor. Não pense que por ser o menor motor fabricado pela marca falta disposição ao conhecido 883. Pelo contrário, o V2 entrega um desempenho mais que suficiente, mostrando ótimo torque já em baixas rotações e tirando os 255 kg da moto mais o peso do piloto da imobilidade com facilidade. Com força de sobra, podemos trabalhar o acelerador com suavidade e, assim, curtir a pulsação típica do V2 trabalhando entre nossas pernas. A vibração é notada em marcha lenta — o que é proposital, mesmo sendo o motor montado em coxins de borracha —, e quando superamos os 4.000 giros.
As melhores sensações vêm quando trocamos as marchas entre 3000 e 3500 rpm, momento em que o motor Evolution trabalha com suavidade e já oferece um desempenho excelente. O câmbio não é suave e muito menos silencioso, mas é muito preciso e é isso que importa.
O forte “clunck” quando engatamos a primeira marcha é item de série no modelo, assim como a dificuldade em encontrar o neutro em alguns momentos. Não somos a favor de rodar por aí com um escape aberto que faz vidraças trepidar e alarmes disparar, mas não dá para negar que alguns decibéis a mais no escape fariam muito bem para a Iron. O consumo médio foi apenas razoável: 16,1 km/l.
Com dimensões compactas e um assento bem baixo, a Iron tira de letra deslocamentos urbanos e pode ser usada perfeitamente como transporte no dia a dia. Estreita, acompanha sem dificuldade motos bem menores nos inevitáveis “corredores”. Sim, ela esterça pouco, o que muitas vezes não permite que encaixemos a moto naquela pequena brecha que se abriu no engarrafamento.
A suspensão traseira melhorou com relação a das 883 de anos anteriores, mas ainda é dura e seca. Como o asfalto nas maioria das nossas cidades varia entre bizarro e péssimo, e os amortecedores traseiros têm apenas 41 mm de curso (uma Vulcan 900 tem 100 mm), não há milagre que possa ser feito. O desconforto é ressaltado pelo assento do piloto, que definitivamente não é bom e seria a primeira coisa que trocaria na “minha” Iron. O problema não é seu tamanho ou ergonomia, mas, sim, a falta de “recheio”.
Garupa? Não há espaço para ele…E é melhor assim. Ah, as pedaleiras. Elas seriam minha segunda alteração. Muito centralizadas em relação à moto, constantemente enroscamos a barra da calça ou damos uma canelada nelas quando temos de apoiar os dois pés no chão, seja em uma simples parada no semáforo ou em manobras para estacionar. Seriam perfeitas alguns centímetros mais adiantadas.
Na estrada a Iron também não desaponta. Suas qualidades dinâmicas proporcionam boa estabilidade e segurança. Estável nas retas, também é previsível nas curvas, mas, se nos empolgarmos, logo os limitadores das pedaleiras entram em ação para nos lembrar que, apesar da agilidade que a moto tem, não estamos em uma naked. Para viagens mais longas fique atento à pequena autonomia do tanque de apenas 12,5 litros. Com uma extensa lista de modificações, o sistema de freios está muito melhor na geração 2014 da Sportster. Potência, tato e progressividade evoluíram consideravelmente. O ABS é bem-vindo, mas o adotado na 883 não é dos mais modernos. Em pisos irregulares, o sistema atua cedo demais e com pouca suavidade. A 883 Iron é uma moto obviamente com certas limitações, mas que, por outro lado, transmite excelentes sensações. E “sensações” é das qualidades mais importantes nesse segmento. Esta versão Iron, em especial, agrada muito pelo estilo, acabamento e aquela soma de detalhes que faz toda a diferença. Você conhece o caráter de uma 883 e gosta disso? Então escolha a cor e leve uma para casa. Nesta categoria, poucos
modelos proporcionam um prazer ao pilotar e envolvem você em uma atmosfera tão entusiasmante como a Iron.
Motor OHV, 2 válvulas por cilindro com sistema de autoajuste hidráulico. Sistema elétrico integrado, H-D Smart Security System, novos pistões de freio com 34 mm, flexíveis de freio com malha de aço e cilindro mestre de alumínio, ABS. Luzes traseiras integradas, guidão drag-style. Garantia de 2 anos.
Pastilha de freio dianteira R$ 320,00
Farol R$ 1 570,00
Filtro de ar R$ 115,00
Manete de freio R$ 150,00
Retrovisor direito R$ 190,00
Filtro de óleo R$ 40,00