A Fiat mantém suspensa desde meados de junho a produção de três modelos no Brasil: Bravo, Linea e Idea. A montadora diz que se trata meramente de uma reacomodação interna (leia nota oficial no final desta reportagem), mas CARRO ONLINE foi checar a informação (publicada inicialmente no site Autos Segredos) com representantes do sindicato dos metalúrgicos da região de Betim (MG), cidade-sede da fábrica. Segundo eles, além da pausa na produção, os funcionários da chamada “linha 4” já foram transferidos para outras funções.
Consultores de vendas de concessionárias Fiat de grande porte em São Paulo e Rio de Janeiro, procurados pela reportagem, disseram que há unidades de Bravo e Linea somente em estoque (e não em showroom), e que o fornecimento já foi interrompido e o rumor é de fim de linha mesmo. Já o Idea parece mais resiliente e ainda é exibido aos clientes em alguns pontos de venda.
Os emplacamentos registrados pelo Renavam/Fenabrave deixam claro que Bravo e Linea foram abandonados, e que o Idea, embora com números mais robustos, também está em descenso.
O hatch médio Bravo apareceu pela última vez no resumo de vendas em fevereiro, com 90 emplacamentos em todo o Brasil. Depois, sumiu. Em 2015, vendeu 2.795 unidades; líder do segmento no ano passado, o Ford Focus vendeu 12.910. O Bravo foi lançado no final de 2010 como competidor de Focus e Volkswagen Golf; o Chevrolet Cruze hatch chegou somente em 2012. Fez parte da tentativa da Fiat de se dar bem onde nunca conseguiu: carros maiores e mais caros.
Essa estratégia havia começado em 2008, quando a marca apresentou o sedã médio (na verdade, compacto-médio) Linea como se fosse um produto sofisticado. De origem turca e claramente uma variação três-volumes do Punto, logo virou táxi — e quase nada mais que isso.
Em 2014, passou por uma espécie de relançamento, durante o qual a Fiat fez uma coisa rara: admitiu que errou. O Linea foi reposicionado numa faixa de preço mais modesta, mas o fato é que desde o lançamento do Grand Siena em 2012 seu destino já estava selado. No mês passado, segundo o Renavam/Fenabrave, foram vendidos apenas 79 Linea novos em todo o Brasil; em junho de 2015 foram 371.
Na Turquia, o Linea já foi aposentado pelo Aegea, nome local do novo Tipo global.
FOI BEM
Dos três carros descontinuados pela Fiat, o monovolume Idea foi o de maior sucesso. Apresentado em 2005, defendeu a marca italiana contra o aguerrido Chevrolet Meriva (que saiu de linha em 2012) e, ainda que não diretamente, ajudou a conter o ímpeto do “altinho” VW Fox e também do Honda Fiat. Sua variação cross, Idea Adventure, foi uma das mais competentes do sub-segmento. E os taxistas também curtiram o Idea.
Mesmo na reta final, dependendo apenas de unidades de estoque, o Idea ainda é muito procurado: foram 165 emplacamentos em junho — ante 657 um ano atrás. Ao longo de 11 anos, foram quase 249 mil unidades do Idea vendidas no Brasil.
Tudo isso indica que a Fiat segue firme na segunda etapa da renovação de seu portfólio, iniciada este ano com a picape compacta-média Toro e o subcompacto Mobi. O próximo passo é o projeto X6, que inclui hatch, sedã e picape. O primeiro (conhecido por X6H e já flagrado em teste de rua) vai matar também o Punto.
Quanto à suspensão dos três modelos em Betim, a Fiat enviou a CARRO ONLINE a seguinte nota oficial:
A Fiat Chrysler Automobiles (FCA) reestruturou o fluxo produtivo da fábrica de Betim, otimizando a organização dos modelos em três linhas de montagem. A nova logística industrial faz parte do processo de modernização da fábrica, proporcionando melhor escala e eficiência à produção, além de abrir espaço para a implantação de novos processos e equipamentos na manufatura. Essa estratégia não resultará no fim de produção de nenhum modelo. Priorizamos a transferência imediata para as outras linhas de montagem dos modelos com maior demanda de mercado. É o caso do Doblò e do Punto, que mantêm produção normal nas outras linhas. Já os modelos com menor volume de vendas (Linea, Bravo e Idea), a estratégia foi otimizar a produção nos meses anteriores para aumentar o estoque, garantindo o fornecimento normal ao mercado até a organização das linhas de produção.