Lançada em 2012, a sexta geração do BMW Série 3 já não é novidade no Brasil, mas o sedã acaba de incorporar um grande avanço tecnológico: o motor 2.0 16V da versão 320i passa a ser flex. Agora chamado 320i Active Flex, o sedã utiliza o primeiro propulsor turbo e com injeção direta de combustível do mundo capaz de utilizar gasolina, etanol ou a mistura dos dois em qualquer proporção. Trata-se de uma grande inovação e que, sem dúvida, oferece benefícios em termos de emissão de poluentes, mas que cobra seu preço em determinados aspectos.
Antes de falarmos do modelo equipado com o novo sistema, é necessário voltar alguns meses no tempo para contextualizar melhor a história. Em abril de 2013, o BMW 320i movido a gasolina nos impressionou na pista de testes: acelerou de 0 a 100 km/h em 7s9, de 0 a 140 km/h em 14s7, e necessitou de 5s5 para retomar de 80 km/h a 120 km/h.
E quando conduzido normalmente, ele ainda obteve consumo de 10,8 km/l em ciclo urbano e 15,7 km/l em estrada. Os ótimos números de desempenho eram frutos, principalmente, do câmbio automático de 8 marchas e do motor 2.0 de 184 cv a 5.000 rpm e 27,5 mkgf a 1.250 rpm.
Para preservar o consumo de combustível com a nova tecnologia, de acordo com a BMW, o rendimento do 320i Active Flex não foi alterado em relação à aposentada versão 2.0 movida a gasolina — independentemente de ser abastecido com etanol ou gasolina.
Mas, na pista de testes, os resultados apontaram para uma realidade diferente da anunciada: com gasolina, o modelo arrancou de 0 a 100 km/h em 7s4, atingiu os 140 km/h em 13s8 e necessitou de 6s1 na retomada de 80 km/h a 120 km/h, uma melhoria significativa em relação ao modelo anterior. E, quando abastecido com etanol, o desempenho foi ainda melhor: 7s1, 13s2 e 5s5, nas mesmas provas, respectivamente.
É importante ressaltar que tanto o modelo a gasolina quanto o Active Flex foram testados sob as mesmas condições, na mesma pista e com o mesmo equipamento de aferição. A única diferença entre os modelos avaliados foram os pneus: Dunlop na versão a gasolina de 2013 e Bridgestone no flex, ambos com a medida 225/50 R17.
Apesar da diferença notável no desempenho, Luiz Estrozi, gerente-técnico da BMW do Brasil, explicou que a variação nos números é reflexo apenas das diferentes curvas de torque e de potência geradas com cada combustível, e não do rendimento máximo. “Gasolina e etanol se comportam de modo muito diferente, portanto os parâmetros de funcionamento do motor variam entre os dois. No caso do etanol, a central eletrônica adianta o ponto de ignição (ou seja, antecipa o momento em que a vela de ignição realiza a combustão) para obter a melhor queima, e também trabalha com a pressão do overboost (pico de pressão da turbina, que ocorre quando o motorista exige o desempenho máximo) ligeiramente maior do que o aplicado com a gasolina, antecipando a força máxima”, contou Estrazi. “Mas os rendimentos máximos são os mesmos com os dois combustíveis, e essa diferença de tempo não é notável em uma condição normal de uso”, afirmou o técnico.
Notável em uma condução diária ou não, as variações nos testes de desempenho apontam para uma clara elevação no rendimento do motor 2.0 quando abastecido com etanol, uma vez que o tempo reduzido, sem alterações no peso do veículo, significa maior potência e torque.
O editor-técnico da Carro, Bob Sharp, partilha da mesma certeza. “Se o motor trabalha com ponto de ignição mais adiantado e maior pressão na turbina, o rendimento obviamente será maior, ou seja, supera os valores anunciados. E os testes realizados não deixam dúvidas quanto a isso”, ponderou Sharp.
O alto desempenho oferecido pelo compacto motor 2.0, no entanto, só não mostrou-se mais brilhante em função do consumo menos atraente — um dos destaques da versão anterior. Com etanol, por exemplo, as médias foram de 5,3 km/l em ciclo urbano e 8,7 km/l em rodovia (números similares ao de um Citroën C4 Lounge 2.0 16V com gasolina, porém com desempenho consideravelmente mais elevado).
Curiosamente, o sistema start-stop é automaticamente desativado quando o carro é abastecido com etanol. Segundo o gerente-técnico Luiz Estrozi, o motivo é a emissão de poluentes. “Com etanol, o motor precisa de muito mais combustível para ser acionado, e isso gera uma quantidade de gases poluentes consideravelmente maior do que a gasolina, especialmente na fase fria”, justificou Estrozi. “Por essa questão ambiental, consideramos como melhor medida desativar o sistema start-stop quando o veículo está abastecido com 100% de etanol”, completou.
Quando está apenas com gasolina no tanque, o 320i registrou consumo médio de 8,5 km/l em trecho urbano e 14,2 km/l na estrada, médias boas, mas inferiores aos 10,8 km/l e 15,7 km/l obtidos pela versão 2.0 testada anteriormente em cidade e rodovia, respectivamente. A justificativa para esse resultado, segundo Luiz Estrozi, está no fato de que esse motor demora entre 8.000 km e 10.000 km para oferecer o seu melhor consumo de combustível, e que o seu gerenciamento eletrônico possui memória com valores adaptativos. “Nesse caso, a central eletrônica oferecerá mais desempenho ou maior economia de combustível, seguindo o modo como o veículo é conduzido”, contou o técnico.
A tecnologia Active Flex do 320i é uma exclusividade no mercado nacional e oferece ao consumidor a possibilidade de utilizar um combustível renovável e menos poluente, caso não esteja preocupado com a autonomia. Parte do consumo de combustível foi comprometida pelo desempenho elevado, mas consumir menos talvez não seja a principal preocupação de quem pode desembolsar R$ 133.950 por um modelo desses. Questão de prioridades.
Start-Stop
O Start-Stop (que desliga o motor toda vez que o veículo encontra-se parado, para economizar combustível) é desativado quando o 320i está com 100% de etanol no tanque. Segundo o gerente-técnico da BMW, Luiz Estrozi, o etanol emite mais poluentes que a gasolina durante a partida. “Por essa questão ambiental, consideramos como melhor medida desativar o sistema quando o veículo estiver abastecido com 100% de etanol”, diz.
Active Flex 2.0
O motor 4 cilindros 2.0 16V turbo com injeção direta de combustível do 320i recebeu poucas modificações em relação à versão a gasolina. Segundo Luiz Estrozi, gerente técnico da BMW, além da nova central eletrônica, ele conta com nova bomba de combustível, sensores e atuadores. Mecanicamente, ele permaneceu inalterado.
Conclusão: 8,2
O BMW 320i Active Flex oferece uma tecnologia única em seu segmento, além de desempenho surpreendente para um modelo de entrada — e seu consumo de combustível não pode ser considerado ruim. É um bom veículo na categoria.
Seu bolso
Preço (carro testado) R$ 143.950
Desvalorização (1 ano) 11,1%
Garantia 2 anos
Financiamento (taxa mensal) 0,9
Parcela (50% de entrada + saldo em 36x) R$ 2.384,80
IPVA (4%) R$ 5.358
Seguro R$ 5 729
1ª revisão R$.700
Versão básica R$ 133.950
Dados da fabricante
Motor 4 cil. em linha, dianteiro, longitudinal; Cilindrada 1.997 cm3; Potência 184 cv a 5.000 rpm; Torque 27,5 mkgf a 1.250 rpm; Câmbio automático, 8 marchas; Tração traseira; Comprimento 4,62 m; Largura 1,80 m; Altura 1,42 m; Entre–eixos: 2,81 m; Porta–malas 480 litros; Peso 1.474 kg.