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Em março, o empresário Marcel Visconde assumiu a presidência da recém-criada Abeifa (Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores), entidade com 30 filiados que sucedeu a antiga Abeiva para uma atuação ainda mais abrangente, conforme ele revelou nesta entrevista à CARRO.

"As marcas chinesas vencerão  o preconceito. Elas já produzem carros muito bons, estão investindo em mão de obra e design. Vão comer pelas beiradas"

Carro  •  O trabalho da Abeifa é mais amplo do que era o da antiga Abeiva? 
Marcel Visconde  •  Ficou mais abrangente. Nos últimos 10 anos, a Abeiva abrigou importadores clássicos, de nicho, de perfil de baixa venda, mas com perspectiva de crescimento. Lidamos com marcas que deixaram de ser fabricantes para ser importadores e vice-versa. Essa heterogenia já existia. O que ficou  evidente é que fomos incitados a conhecer as bases regulatórias do Inovar-Auto, tornando nossa atuação junto ao governo mais forte. Agora, temos serviços a serem prestados aos associados que extrapolam a visão do importador. Mudamos a metodologia de trabalho, a estrutura jurídica e governamental.

Carro  •  Como está 2014 para os importadores?
Visconde • A análise de 2014 está ainda mais “limpa”. Quando houve a inclusão dos 30 pontos percentuais de IPI, muitas marcas estavam com os estoques repletos, o que as blindou durante três ou quatro meses. Confiança e expectativa são fundamentais para o consumo. E, hoje, o nível de confiança não está alto, o consumidor não se arrisca.

Carro  •  O que a Abeifa está fazendo para minimizar esse cenário?
Visconde  •  Não há soluções de curto prazo. É preciso pensar mais à frente, dialogar com o governo, sensibilizá-lo. Governo federal e entidades devem ser criativos para fisgar o consumidor novamente. Mesmo que seja definido um IPI de 10%, não vai adiantar. Falta de confiança do consumidor não se resolve em três meses. Não é uma coisa só que está inibindo o consumo. Estamos falando de inflação alta, crescimento fraco, baixa confiança e de uma expectativa eleitoral. O governo tem de rever sua forma de entender a questão de cotas de importação. Estamos nivelados em um teto de 4.800 carros por ano. Até quando precisamos passar por isso?

Carro  •  Como o governo vem reagindo sobre esse assunto?
Visconde  •  Em 2012, trabalhamos muito para sensibilizar o governo, dizendo: “Estão acabando com o nosso setor e somos uma base importante da economia”. Bem, conseguimos a cota, mas é preciso agora flexibilizá-la. O Inovar-Auto também requer alguns ajustes. As vendas dos associados da Abeifa são insipientes, porém importantes. No começo do ano, conversamos com Mauro Borges, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Ele entende a situação e nosso trabalho é continuar martelando nossas reivindicações.

Carro  •  Uma marca que chega ao Brasil recebe todo o amparo da Abeifa?
Visconde  •  Damos todo o suporte, temos à disposição uma comissão jurídica, informações fiscais, tributárias. E quando ela precisa de um contato que transcenda o que podemos oferecer, fazemos a ponte. Temos pessoas em Brasília para nos ajudar.

Carro  •  O senhor teme uma debandada da Abeifa quando algumas marcas começarem a fabricar no Brasil?
Visconde  •  Caberá a elas a decisão. Vivemos em um mundo de livre escolha e não há da nossa parte veto a empresas que venham da outra entidade. Aliás, uma marca até pode ficar em ambas.

Carro  •  Como tem sido o relacionamento com a Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores)?
Visconde  •  Converso vez ou outra por telefone com o presidente Luiz Moan e existem situações que podemos estabelecer mais sinergia. O relacionamento é amistoso, mas há condições de ser mais denso.

Carro  •  Como o senhor vê a questão dos carros elétricos?
Visconde  •  A pauta do Inovar-Auto deveria incluir carros híbridos e elétricos. Se eles terão market share importante daqui a dez anos é outra conversa, mas é preciso ter um pé nessa história, porque o mundo está se movimentando para subsidiar os elétricos, mais eficientes e com menos emissão.

Carro  •  Qual é a previsão de vendas de importados deste ano em comparação a 2013?
Visconde  •  No ano passado, vendemos 112.000 unidades, sendo que Kia, JAC e BMW representam 50% desse valor. Neste ano, deveremos ficar entre 100.000, 105.000 unidades.

Carro  •  Diante de um cenário pouco favorável, ainda não é um bom número?
Visconde  •  Foram muitos feriados no primeiro semestre, teremos a Copa do Mundo, eleições em outubro… São menos dias efetivos de vendas. Se não bastasse, há a desconfiança no consumidor. Por outro lado, o país continua atraindo capital, apresenta indicadores satisfatórios e os lançamentos continuam. As marcas precisam de criatividade e qualidade, porque o consumidor é exigente e informado. Em 2012, fui falar com o interlocutor do governo sobre os 30 pontos percentuais de IPI e ele disse: “Repasse para o preço dos carros que seu consumidor compra”. Não, ele não compra.

Carro  •  O pós-venda ainda é um ponto crítico?
Visconde  •  Pós-venda é uma área espinhosa que caminha com competência e incompetência ao mesmo tempo. É tão importante quanto um processo de venda, porque o pós-venda fideliza o cliente. Mas as empresas estão melhorando nesse aspecto.

Carro  •  Como é presidir uma entidade que reúne marcas premium e montadoras chinesas que ainda sofrem preconceito? 
Visconde  •  Esse estigma é o mesmo que os carros sul-coreanos sofreram. Acho que os chineses vão chegar lá. É uma questão de tempo. O preconceito está em declínio, porque a gente já vê carros chineses muito bons. Estão investindo em mão de obra qualificada, em equipes de design. Eles querem entrar, querem enfrentar esse maremoto liberatório e vão comendo pelas beiradas. Mas é preciso dar chance mercadológica para isso.
Carro  •  Qual seria a cotação ideal do dólar para os importados?
Visconde  •  O ideal é que estacione em um patamar. O que não pode é estar a R$ 2,10 num dia e RS 2,40 no outro. A variação cambial faz o consumidor perder a confiança.

Carro  •  Qual é a projeção da Abeifa para 2015?
Visconde  •  Posso responder no segundo semestre? A gente deve comer os bifes de 2014 e depois ver o que acontecerá em 2015. Somos balizadores de tecnologia, design, desempenho, qualidade. E é bom que possamos enxergar importadoras que possam se converter em fábricas no futuro.

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