Se para a maioria das empresas chegar ao primeiro centenário de vida é um feito e tanto, imagine superar essa marca e alcançar os 110 anos. Pois foi essa marca histórica que a Rolls-Royce atingiu no dia 4 de maio. Foi nesse dia, em 1904, que o aristocrático engenheiro e piloto Charles Stewart Rolls e Henry Royce, também engenheiro, se encontraram em um almoço, por sugestão de Claude Johnson, parceiro de Rolls em sua empresa, a C.S. Rolls and Co.3
A finalidade do encontro, ocorrido no Hotel Midlands, em Manchester, era que Rolls conhecesse o automóvel produzido por Royce, um veículo equipado com um motor de 10 cv. Como se tratavam de dois homens de origens totalmente distintas (Royce vinha de família humilde e havia investido muito para conseguir construir o protótipo), havia o temor que a reunião entre os dois não corresse muito bem.
Charles Rolls, porém, ficou tão impressionado com o automóvel que não só concordou em vender todas as unidades que Henry Royce conseguisse produzir, como saiu do encontro dizendo: “Eu conheci o maior engenheiro do mundo!” Também ficou acordado nessa reunião que os futuros modelos produzidos seriam conhecidos como “automóveis Rolls-Royce”.
Posteriormente, foi concebido o formato do radiador, que ajudaria a criar a identidade dos modelos da dupla, assim como o emblema com as duas primeiras letras do sobrenome de cada um dos sócios superpostas. E se Rolls admirara a engenhosidade de Royce, este, por sua vez, viu em seu futuro sócio não apenas um homem que entendia de automóveis, mas que também possuía as habilidades de um excelente vendedor.
Assim, já no primeiro semestre de 1905 os primeiros automóveis produzidos já com a marca do duplo R começaram a ser oferecidos no mercado inglês com opções de motores de 2, 3 e 4 cilindros, seguindo as especificações criadas por Royce. No mesmo ano, a dupla investiu em um modelo para competir na Tourist Trophy da Ilha de Man (que, logo depois, seria restrita a motos).
O resultado — a segunda colocação — encorajou os sócios e, devido à insistência de Claude Johnson, passaram a trabalhar no desenvolvimento de um motor com 6 cilindros em linha. No ano seguinte, com Rolls ao volante, o resultado não poderia ser melhor: vitória na prova da Ilha de Man e os primeiros reconhecimentos ao belo trabalho feito nos carros de Rolls e de Royce.
Em 1906, surgiu a primeira “versão de rua” do modelo criado para as corridas. E em vez do insosso nome 40/50 hp, o modelo foi batizado como Silver Ghost, outra ideia de Claude Johnson. A explicação do nome Silver era o prata da carroceria, enquanto Ghost (fantasma) se devia ao funcionamento extremamente suave e silencioso do motor, que permitia ao carro se aproximar de maneira tão imperceptível como um fantasma.
Em 1911 surgiu a Flying Lady, ou Spirit of Ecstasy, ornamento que se tornou um símbolo dos modelos RR. A primeira estatueta foi criada pelo artesão Charles Sykes, a pedido de John Walter, conhecido como Lord Montagu, que desejava homenagear sua amante, a atriz Eleanor Thornton. A peça, porém, exibia uma mulher pedindo silêncio, e foi batizada como The Whisper (O sussuro). Claude Johnson, porém, enxergando o potencial do ornamento, contratou Sykes e solicitou algumas alterações, que resultaram no Espírito do Êxtase.
Como se vê, a importância de Claude Johnson na história da Rolls-Royce foi tão grande que, segundo a lenda, ele é representado pelo hífen no nome da empresa, significando a união entre os dois fundadores. Por falar em lendas, outra diz que a cor original do duplo R, vermelha, foi alterada para preto em sinal de luto após a morte de Henry Royce, em 1933. Outra versão da história, porém, afirma que foi o próprio Royce que determinou a troca da cor, por considerar o preto mais elegante. Como a primeira história é mais “romântica”, foi a que se tornou mais conhecida.
Nos anos 1950, a Rolls-Royce passou a fornecer os carros para a família real britânica, substituindo a Daimler (empresa britânica de veículos de luxo, sem relação com a atual proprietária da Mercedes). Em 1971, a empresa foi dividida em duas: a Rolls-Royce Limited, destinada a cuidar de motores de aviões e a Rolls-Royce Motors, que seguiu com os automóveis.
Uma crise financeira, porém, resultou na estatização de ambas. Em seguida, o governo britânico vendeu a divisão automotiva para a Vickers, ironicamente, uma empresa ligada à aviação, famosa por produzir os antigos modelos Viscount.
Em 1998, a Vickers decidiu vender a Rolls-Royce, que se tornou alvo de uma grande disputa. A BMW fez uma oferta inicial, que foi coberta pela Volkswagen. Mas, devido a interesses comerciais, a Vickers preferiu negociar com a BMW. Contudo, graças a uma manobra surpreendente, a VW conseguiu adquirir os direitos de uso da estatueta Spirit of Ecstasy e do formato da grade frontal. O nome Rolls-Royce e o emblema do duplo R, porém, foram licenciados pela BMW.
A solução foi conciliadora. Em troca dos direitos da Flying Lady e da tradicional grade em favor da BMW, a Volkswagen ficou com a Bentley (marca que pertencia a Rolls-Royce desde os anos 1930) e com a fábrica de Crewe. O acordo, porém, só passou a valer a partir de 2003.
Consequentemente, a Rolls-Royce mudou de endereço e, desde o início dos anos 2000, está sediada em Goodwood, West Sussex, no sudeste da Inglaterra. E hoje, sob o comando da BMW, a empresa voltou a viver tempos de estabilidade. Seu modelo mais recente, o Wraith — um cupê de linhas inusitadas para um Rolls-Royce — vem obtendo boa aceitação em todo o mundo, e a marca está cogitando até o lançamento de um SUV (saiba mais na seção Segredos desta edição). Como se vê, a tradicional empresa britânica segue como referência em termos de luxo, requinte e mesmo ostentação, mas está se adaptando aos novos tempos, para seguir fazendo história.
Personagens
Conheça abaixo quatro personalidade que se tornaram fundamentais na história da Rolls-Royce:
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Celebridade
De reis e rainhas até atores famosos, passando por milionários e outras personalidades, os Rolls-Royce foram os automóveis preferidos por quem procura sofisticação, conforto e, claro, ostentação.