Já houve um tempo — e nem faz tanto tempo assim — em que os salões de automóvel pelo mundo eram vistos como vitrines tecnológicas e de ostentação para as fabricantes exibirem não só o que têm de mais sofisticado e avançado em seus portfólios, mas também carros-conceito que dificilmente se tornariam realidade, ou mesmo que teriam apenas itens aproveitados em veículos de produção em série.
Isso, porém, parece cada vez mais ter se tornado história. É o que se constata ao visitar o Mondial de L’Automobile, mais conhecido como Salão de Paris, um dos eventos automotivos mais importantes do mundo ao lado do Salão de Frankfurt (Alemanha) e que abriu suas portas à imprensa especializada nesta quinta-feira (29).
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Em vez de modelos futuristas com aparência irreal ou de automóveis requintados, o que chama a atenção na edição deste ano do evento é a quantidade de veículos “reais” e acessíveis. No estande da Volkswagen, por exemplo, a atração foi o conceito batizado de ID, que estreia a nova plataforma de elétricos do grupo.
De acordo com a empresa, esse veículo terá grande autonomia (podendo atingir 600 km), recarga muito rápida — em aproximadamente meia hora, as baterias terão cerca de 85% de sua capacidade — e será acessível. A intenção é que ele esteja à venda em 2020 pelo mesmo preço de um Golf a diesel atual. O visual do ID, aliás, lembra muito o do hatch campeão de vendas da marca, sem grandes firulas ou soluções futuristas.
Outra novidade, ainda exibida como conceito, foi o e-Golf Touch. Apesar do nome, a versão elétrica tem na central multimídia a sua principal novidade: ela é acionada por comando de gestos, uma aposta da marca em termos de conectividade. A Volkswagen não exibiu nenhuma atração prevista para chegar ao mercado brasileiro, mas o subcompacto up! com dianteira e interior reestilizados, já à venda no Velho Continente, é uma aposta que pode desembarcar em breve no país.
Ainda entre os compactos, a Nissan exibiu a nova geração do March (Micra aqui na Europa), que ganhou visual muito mais jovem e ousado, em nada lembrando o do antecessor. Se a marca japonesa investir nessa remodelação para o mercado nacional, a tendência é de que o perfil de seus consumidores mude radicalmente, assim como o estilo do carro, que deixou o aspecto “simples e simpático” para apostar na esportividade. De maneira geral, a reação de quem viu o March de perto foi bastante positiva.
A outra empresa da aliança franco-japonesa, a Renault, mostrou pela primeira vez na Europa a sua futura picape Alaskan, que será produzida em parceira com a Nissan e a Mercedes-Benz e que vai chegar ao mercado brasileiro em 2018, importada da Argentina. Já o Mégane Sedan, que retornou ao catálogo da empresa e substituirá o Fluence em alguns mercados, não tem previsão de ser vendido em nosso país. Em compensação, o SUV grande Koleos (cuja avaliação você já conferiu aqui) foi exibido e chamou a atenção dos jornalistas.
A notícia não muito agradável veio por parte da Citroën, cujos executivos garantem que a terceira geração do C3, exibido pela primeira vez em público, não será oferecido no Brasil. Com estilo totalmente distinto do atual e visual mais “masculino”, o compacto manteve a base e conjuntos mecânicos da geração anterior. Mesmo assim, a Citroën do Brasil vai adotar outra estratégia comercial, “apostando na evolução de seus produtos e na adaptação para o gosto dos consumidores brasileiros”, segundo uma fonte ligada à empresa. Sobre o C4 Cactus, até o momento não há confirmação a respeito de seu futuro no Brasil.
Mas, se a marca do duplo chevron mostrou-se tímida, a Peugeot (que também faz parte do grupo PSA) foi bastante ousada em Paris e exibiu a nova geração do 3008 (agora muito mais próximo de um SUV do que antes), com o quadro de instrumentos i-Cockpit totalmente digital e customizável como grande atração. Já o 5008, que até então era visto como uma minivan familiar, mudou completamente de personalidade, passando a se exibir como um autêntico SUV, o “irmão maior” do 3008. Mas, se o primeiro tem tudo para chegar ao Brasil no ano que vem (sendo, possivelmente, uma das atrações do próximo Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro), o segundo está totalmente descartado,
Como não poderia deixar de ser, o estande da Ferrari é um dos mais visitados no Paris Expo, o centro de convenções ao sul de Paris que sedia o salão. E, para celebrar seus 70 anos (que serão completados em 2017), a marca de Maranello apresentou quatro séries especiais baseadas em modelos já existentes.
São elas a F12 berlinetta “The Stirling”, inspirada na 250GT Berlinetta SWB, vencedora do Tourist Trophy de 1961 com Sir Stirling Moss ao volante; a 488 GTB “The Schumacher”, homenagem à F2003 GA de F1 com a qual o alemão Michael Schumacher e a Ferrari venceram o Mundial de Pilotos e o de Construtores em 2003; a California T “The Steve McQueen”, inspirada na 250 GT Berlinetta Lusso de 1963, considerada uma das mais belas máquinas de Maranello já construídas; e a 488 Spider “The Green Jewel”, cuja cor homenageia o time do britânico David Piper, um conhecido piloto privado que levou a sua Ferrari à vitória nas Nove Horas de Kyalami em 1965 e 1966.
A principal estrela, porém, foi a GTC4LussoT, o primeiro modelo de quatro lugares da casa italiana com motor V8 turbo. De acordo com a Ferrari, seu motor 3.9 entrega 610 cv e 77,5 kgfm. Com relação peso-potência de 158 cv/litro, é o maior da categoria e pode levar o modelo a mais de 320 km/h e a acelerar de 0 a 100 km/h em 3s5. Também se destacou a versão conversível da LaFerrari, apelidada de Aperta (“aberta” em italiano) e já esgotada.
REALIDADE E FUTURO ELÉTRICO
Um tema que chamou a atenção nas apresentações no primeiro dia dedicado à imprensa no Salão de Paris foi a disputa para ver quem oferece a maior autonomia para seus carros elétricos. E, nessa guerra, a Renault saiu na frente com seu compacto Zoe, que já é capaz de rodar até 400 km sem necessidade de recarregar.
Outras marcas, como a Mercedes-Benz, que exibiu o conceito EQ, prometem superar essa marca alcançando 500 km com um modelo maior e mais espaçoso — mas que, por enquanto, é apenas conceitual. Da mesma forma, a Volkswagen com o já citado ID (até 600 km).
O presidente da VW do Brasil, David Powels, está em Paris e durante uma rápida conversa disse que vê o Brasil como um importante mercado para a estratégia do grupo (que pretende atingir o seu primeiro milhão de veículos elétricos vendidos no mundo em 2025), mas com uma participação modesta em relação à China, Europa e Estados Unidos. Questionado sobre a chegada do Golf elétrico ao mercado nacional, Powels afirmou que, se o mercado quiser, a fabricante pode colocá-lo à venda.
Viagem a convite da Anfavea