Em páreo duro, HB20 1.0 gasta menos que Uno 1.4

Você viu aqui no CARRO ONLINE que a Hyundai está crescendo no mercado brasileiro em meio a tempos difíceis para a indústria automotiva. Assim como as outras — poucas — marcas que também colhem bons resultados em 2015, a estratégia da sul-coreana é baseada em, praticamente, um único produto: o HB20.

O compacto começou em quarto lugar entre os mais vendidos do Brasil neste ano e, em março, entrou no pódio em terceiro e não saiu mais de lá. Após a sua reestilização em setembro (que forçou promoções para acabar o estoque do visual antigo), o HB20 teve ainda mais fôlego para fazer a Hyundai ultrapassar a Ford como quarta maior fabricante de veículos do país em outubro.

Após a atualização, a gama do Hyundai passou a ostentar a nova identidade visual da marca, com a grade trapezoidal mais robusta à frente, conjunto óptico com projetores mais destacados e lanternas redesenhadas; no trem-de-força, um novo câmbio manual e automático de seis marchas. O pacote completo, no entanto, restringiu-se apenas à versão 1.6. O modelo de entrada tricilíndrico só ganhou a nova grade.

Mas, em seu lançamento, a fabricante insistiu que o motor Kappa 1.0 recebeu melhorias pontuais para ficar mais econômico. Portanto, decidimos colocá-lo lado a lado com outro compacto cujo mote também é a eficiência energética: o Fiat Uno Evolution 1.4, o único do segmento equipado com a tecnologia start-stop.

Apesar de ter passado por um facelift (bem sutil) no ano passado, quando foi lançada essa versão Evolution, o visual do Uno precisa de uma renovação mais profunda — é o mesmo desde 2010. Neste aspecto, o HB20 já parte com uma vantagem no comparativo, ainda que a Hyundai tenha sido bem econômica nas alterações no modelo de entrada.

MELHORA COMPROVADA
Em relação à economia de combustível, os SUL-coreanos de fato tinham razão. Em nossos testes, o HB20 2016 está mais parcimonioso com o etanol do que o modelo anterior. A diferença é pequena, mas ao rodar na cidade ele obteve média de 9,2 km/l, ante aos 9 km/l do antecessor. Na média ponderada entre cidade e estrada, a vantagem se manteve a mesma, de 0,2 km/l (10,7 km/l e 10,5 km/l).

Quando comparado ao rival de Betim (MG), o novo HB20 também mostra superioridade. O benefício da tecnologia start-stop (que desliga o motor ao parar em semáforos ou no trânsito) e o indicador de marchas do computador de bordo fazem o Uno Evolution ser mais econômico na cidade, como se poderia imaginar. Na estrada, porém, ainda que ele tenha um motor maior e mais potente (são 88 cv contra 80 cv do HB20), o que faz supor menor esforço, e portanto menos combustível gasto em velocidades mais altas, o Fiat foi significativamente mais beberrão, a ponto de deixar o concorrente à frente na média ponderada.

Em números, tivemos o seguinte: com o start-stop ligado, o Uno Evolution roda 9,6 km/l na cidade (desligado, são 8,8 km/l); já na estrada são 11,2 km/l (ante 12,6 km/l do HB20). Na média, o resultado é de 10,3 km/l para o Uno e 10,7 km/l para o HB20, sempre com etanol. Com isso, a autonomia do Fiat é de 494 km com um tanque cheio, e a do HB20, 535 km.

EQUIPAMENTOS PODEM PESAR
Se a disputa pela eficiência energética é acirrada, o nível de equipamentos dos dois pode pender a balança para o carro mineiro. A versão intermediária do HB20, a Comfort Plus, parte de R$ 39.995. Neste preço estão inclusos ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, banco do motorista com ajuste de altura, volante multifuncional e rádio com entrada USB. É uma lista interessante, mas que fica devendo na comparação com o rival.

Por R$ 41.870, o Uno Evolution oferece, além dos mesmos itens citados, faróis de neblina e volante com ajuste de altura. O computador de bordo dele também é muito mais atraente e mais completo que o do HB20. Trata-se de uma tela de LCD no quadro de instrumentos, cujas funções são acionadas por botões no volante, trazendo além das informações básicas sobre a viagem (consumo, autonomia etc.) um velocímetro digital e outras funções personalizáveis.

Ambos têm preços parecidos para a manutenção básica. O pacote de filtros, pastilhas de freio dianteiras e velas sai por R$ 303 para o Fiat e R$ 338,74 para o HB20. A Hyundai compensa no plano de revisões programadas: as três primeiras totalizam R$ 992, enquanto na Fiat o custo é de R$ 1.088.

NÚMEROS x PRAZER
Os dois modelos têm o mesmo peso: 990 kg. A partir disso, não é muito difícil prever um desempenho melhor do Uno na pista, uma vez que o motor 1.4 Evo gera 88 cv de potência e 12,5 kgfm de torque, enquanto o Kappa 1.0 de três cilindros produz 80 cv de pico e 10,2 kgfm de torque. A diferença na aceleração foi grande, de quase 2s5 (15s71 contra 13s26).

Nas frenagens, houve mais equilíbrio, mas o HB20 levou a melhor quando carregado. Vazio e frio, dos 100 km/h a zero, a distância percorrida pelos dois foi exatamente a mesma: 40 m. Carregado com 200 kg no bagageiro e em temperatura normal de funcionamento do motor, o Uno precisou de quase 4 m a mais para a parar.

Ao volante, o HB20 transmite mais prazer. A dirigibilidade do Hyundai é mais precisa que a do Fiat, muito por conta do comportamento da suspensão, mais justa, mas que não prejudica o conforto ao superar obstáculos na via. O câmbio da Hyundai é outro trunfo, com engates curtos e fáceis. Além disso, o motor tricilíndrico possui uma curva de distribuição de torque generosa em baixas rotações, proporcionando mais agilidade ao HB20 em comparação ao Uno.

O Uno também tem esperteza e fôlego para rodar na cidade e estrada, mas a sensação de segurança em curvas, por exemplo, é menor, pois o motorista se sente menos conectado ao piso e a carroceria tende a inclinar mais que a do rival. E o manejo do câmbio é exatamente o oposto do HB20: longo e impreciso.

O contra-ataque do Uno vem com o espaço interno. Numa categoria em que esse quesito é comumente o menos importante, qualquer solução mais confortável pode fazer a diferença para o consumidor. Neste caso, são 10 cm a mais na soma das medidas internas do Fiat. Há mais espaço tanto para as pernas como ­– e principalmente – para a cabeça. Isso não significa, contudo, que acomodar três adultos nos bancos de trás dele seja uma boa ideia em viagens mais longas. Para dois, o trajeto será mais confortável.

DECISÃO DIVIDIDA
A rigor, a disputa entre Hyundai HB20 e Fiat Uno Evolution com base no sistema de notas usado pela revista CARRO e por CARRO ONLINE na análise técnica dos carros terminou praticamente em empate. O resultado, portanto, pode ser mais comemorado pela Hyundai do que pela Fiat, uma vez que o HB20 é mais barato e conta com um motor menor e menos potente.

O que pode definir a escolha do consumidor é a margem de negociação que cada concessionária terá na hora da venda ao cliente; como produtos, HB20 e Uno têm qualidades, cada um a seu modo.

Se o perfil do interessado estiver mais ligado à experiência de dirigir e a sensação de estar num veículo mais bem-acabado, a decisão será, definitivamente, pelo HB20. Com essa escolha, o consumidor ainda terá os 5 anos de garantia oferecidos pela Hyundai, e a bordo de um carro atualizado e em ascensão no mercado.

Mas se a idéia for a funcionalidade e um conforto levemente superior (além dos equipamentos a mais) para o dia-a-dia, o Fiat Uno pode ser mais interessante.