É uma experiência diferente, que começa logo na hora de entrar no veículo. Devido às laterais muito largas e às portas estilo tesoura (que abrem para cima), se acomodar ou sair do BMW i8 exige um certo exercício. Nem o tradicional método usado em carros de competição (entrar primeiro com o corpo, puxando as pernas depois) funciona. Contorcionismo à parte, uma vez lá dentro, a ergonomia se mostra perfeita. Nem os mais altos devem ter problema para encontrar a melhor posição de dirigir.

A avaliação do primeiro esportivo híbrido do tipo plug-in construído pela BMW foi feita em Miami, nos Estados Unidos, onde se deparar com supermáquinas do calibre de Ferrari, Lamborghini ou Mercedes-AMG (para citar apenas algumas) é corriqueiro. Mesmo assim, o i8 foi alvo constante da curiosidade de outros motoristas e transeuntes. Mas, pudera, com seu visual de nave espacial, é praticamente impossível o cupê passar despercebido.

A estrutura do carro, aliás, também é revolucionária. A célula principal, por exemplo, é feita de plástico reforçado com fibra de carbono, incluindo as portas (que também possuem partes de alumínio). O mesmo metal também é usado na base do veículo. Por fim, a carroceria do esportivo é totalmente feita de termoplástico, material que, de acordo com a fabricante alemã, pesa 50% menos que chapas de aço convencionais.

O resultado desse investimento, como se pode imaginar, é uma estrutura bastante leve e eficiente. Assim, mesmo com as baterias de íons de lítio, o peso total do i8 é 1.485 kg. Nada mau para um cupê que mede 4,69 m de comprimento, 1,94 m de largura, 1,30 m de altura e tem 2,80 m de entre-eixos. Falando em dimensões, não se pode esquecer que o i8 é um cupê 2+2, ou seja, oferece acomodação para dois adultos na dianteira e, no máximo, duas crianças na traseira. O porta-malas, pequeno, abriga apenas 154 litros de bagagem.

Voltando à avaliação, na hora de partir, basta acionar o sistema de partida sem chave, checar o painel (no modo elétrico, não há ruídos, lembre-se) e liberar o freio de estacionamento eletrônico. Apesar de baixo e largo, a visibilidade é perfeita, mesmo nas manobras. Mas, para quem ainda sinta algum receio, o carro oferece um sistema de auxílio com sensores e câmeras, incluindo a de visão aérea, na qual se vê o carro de cima.

Nas ruas de Miami Beach, utilizo o modo elétrico e o i8 segue célere, sem produzir qualquer barulho. Mesmo o conhecido “zumbido” típico dos elétricos é mal percebido, assim como o som dos pneus ou do vento passando junto aos retrovisores. Curioso, abro as janelas e descubro: o isolamento acústico do cupê é excelente. Com os vidros abertos, a “trilha sonora” se torna perceptível.

Ao chegar em um trecho rodoviário, é hora de pisar mais fundo no acelerador e o i8 responde prontamente. O sistema elétrico entrega 131 cv às rodas dianteiras, o que já se mostra suficiente para proporcionar agilidade ao veículo, mas ao se realizar o kickdown, o conjunto traseiro entra em ação. O motor tricilíndrico com tecnologia Twin Power Turbo garante excelentes 231 cv ao cupê. O i8, aliás, é o primeiro automóvel da marca a ser impulsionado por um propulsor de 3 cilindros. E, como não poderia ser diferente, essa unidade traz todos os avanços da fabricante, como injeção direta de gasolina, comando de válvulas variável (Valvetronic), entre outros. O câmbio é automático de 6 marchas.

Existem quatro modos de condução: Comfort, Eco Pro, Sport e eDrive. No primeiro, indicado para rodar no trânsito, o carro deve estar com as baterias carregadas e prioriza o modo elétrico. Assim, até 60 km/h, o i8 trafega apenas no modo “limpo”. O segundo, como o nome indica, é voltado para a máxima eficiência elétrica e inclui o gerenciamento do ar-condicionado. Não é indicado, portanto, para dias muito quentes. O motor a gasolina só entra em funcionamento quando as baterias atingem o nível mínimo de carga. No modo Sport, o propulsor a combustão trata de fornecer energia às baterias, além de proporcionar toda a potência para o conjunto (362 cv). Além disso, nessa opção, a regeneração de energia nas reduções e nas frenagens é usada no modo máximo. Por fim, ao se pressionar o botão eDrive no console – possível apenas nos modos Comfort e Eco Pro – o i8 passa a operar apenas no modo elétrico e a velocidade é limitada a 120 km/h.

Mas o detalhe que chamou a atenção foi o som produzido pelo carro no modo Sport. Com o motor tricilíndrico em ação, percebe-se um ronco muito agradável e empolgante que chega a causar surpresa, afinal, como pode um motor 1.5 de 3 cilindros provocar tudo isso? Será que um sistema de válvulas no escapamento consegue produzir essa “música”?

A resposta é não. Como descobri mais tarde, trata-se de um efeito tecnológico, produzido de maneira artificial pelo sistema de áudio do carro. Mas, pelo menos, o truque não se limita ao interior. O i8 possui um alto-falante externo, com o qual se pode impressionar também quem estiver na rua. Tem mais: em condução mais ousada, durante as reduções, o carro chega até a produzir o som típico de um aumento de giro do motor, como no punta tacco. Os engenheiros alemães pensaram em tudo, mesmo. É sensacional e o efeito é inebriante. Mas é falso.

Ainda no modo Sport, o i8 permite que as trocas de marcha do câmbio automático possam ser feitas por meio das borboletas no volante que – ainda bem! – seguem o padrão “esquerda para baixo, direita para cima”. Já o painel passa a exibir os giros e a velocidade, além de adotar uma iluminação vermelha-alaranjada, em vez da azulada do modo elétrico.

De acordo com a BMW, combinando-se os sistemas a combustão e elétrico, é possível alcançar uma autonomia de até 600 km, mas não conseguimos aferir o consumo durante a nossa avaliação. Além disso, devido à topografia da cidade, infelizmente também não conseguimos analisar o comportamento do esportivo em curvas ou trechos sinuosos. A fabricante, porém, promete que o modelo entrega um comportamento irrepreensível, graças a uma distribuição de peso perfeita (50% para cada eixo) e à presença de diversos sistemas de assistência, como controles de estabilidade e de tração, assistente de frenagem, diferencial ativo etc.

A BMW do Brasil já está oferecendo o i8 no país, sob encomenda. Quem adquiri-lo também terá de levar um aparelho de recarga rápida (wallbox), que permite ao modelo ter suas baterias prontas para o uso em cerca de 2 horas. Trata-se, porém, de um acessório vendido pela BMW por R$ 7.450 (incluindo a instalação). A garantia das baterias é de 10 anos ou aproximadamente 100.000 km.

Não há dúvida de que o BMW i8 representa um marco no desenvolvimento dos automóveis. Com esse modelo, a fabricante de Munique prova que é possível oferecer um automóvel “limpo”, mas capaz de proporcionar muito prazer ao dirigir. O preço no Brasil, contudo (R$ 799.950) ainda o torna proibitivo, embora a empresa diga que o primeiro modelo já foi vendido log após seu lançamento e que já existe uma relação de interessados pelas próximas unidades, que chegarão nos próximos meses.

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