40% é a desvalorização média de um automóvel nos dois primeiros anos de uso

Você já viu alguém entrar no shopping, comprar algumas roupas e sair de lá achando que vai ganhar dinheiro revendendo as peças? De jeito nenhum, não é? Então saiba que, ainda que uma ou outra pessoa diga que carro é um investimento, isso não é verdade. Carro é um bem de consumo e, como tal, desvaloriza, ao contrário do que acontece com um imóvel, que normalmente terá seu valor sempre aumentando.

Mas quais critérios balizam essa desvalorização? São diversos e variam de acordo com marca, modelo e configuração. “A gente entende desvalorização como um percentual. Quanto mais alto o valor do carro, mais ele perde valor”, explica Samy Dana, Ph.D em Business e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialista em finanças e apaixonado por temas ligados a consumo e automóvel.

“Existem modelos populares com depreciação bem menor, até porque seu mercado é maior. Outra coisa: há marcas que depreciam mais do que outras. Os automóveis de origem francesa sempre perdem mais. Os coreanos desvalorizam bastante, mas agora esse fenômeno diminuiu. A reputação do fabricante conta muito”, afirma Dana. A desvalorização de um automóvel é decrescente. Ao sair da loja, um carro desvaloriza entre 20% e 30%. Essa desvalorização se mantém elevada de dois a cinco anos, quando a queda passa a ser bem mais moderada.

Curiosamente é quando termina a garantia. Hoje, até mesmo alguns compactos têm garantia de três anos e teoricamente gasta-se mais para mantê-los quando a desvalorização estaciona. Mas chega a ser infame o valor oferecido pelo automóvel que você suou tanto para comprar. Um Citroën C3 1.4 adquirido em 2006 por R$ 40.000 hoje recebe propostas de R$ 12.000 de concessionárias, que vão tentar revendê-lo por algo entre R$ 18.000 e R$ 20.000.

A carroceria interfere
Com o aumento da renda, do crédito e dos prazos para a aquisição de 0 km, muita gente que não quer comprar um usado desembolsa R$ 20.000 na entrada e paga o restante em parcelas. Segundo a Anef, associação que reúne os bancos de montadoras, o prazo máximo para a compra no mercado é de 60 meses. A média, no entanto, é de 41 meses.

Outro fator de desvalorização é o tipo de carroceria. Um utilitário esportivo tende a perder mais do que um hatch compacto. São duas explicações: o mercado é mais restrito e teoricamente seu uso no dia a dia é muito mais severo, embora todo mundo saiba que a maioria compra SUV para rodar na cidade ou, no máximo, em chão de terra batida.

Outra coisa: acessórios e itens de personalização não valorizam o carro na revenda. Ao contrário: quanto mais personalizado, menos ele valerá, pois o gosto do comprador possivelmente não baterá com o do vendedor. Assim, não adianta investir R$ 10.000 em itens de personalização, mesmo na concessionária.

A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), ligada ao Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), mantém uma das mais respeitadas tabelas de usados do setor. Mas ela não calcula desvalorização a partir de percentuais, e sim colhe dados no mercado. Como o mercado (leia-se os proprietátrios dos carros) tende a valorizar o seu bem, o resultado é uma tabela supervalorizada. “Você não consegue vender um automóvel pelo valor que aparece na Fipe”, revela Samy Dana. De toda forma, não deixa de ser um parâmetro.

Mas será que há um momento em que o carro desvalorizou tanto que não compensará vendê-lo? Se você não for um consumidor que se apega ao carro, sempre será uma boa passá-lo adiante. “Isso porque você já perdeu dinheiro na compra e sempre é possível recuperar alguma coisa”, diz o professor. O mais importante de tudo é saber que o veículo é um bem para satisfazê-lo, jamais um investimento. Assim como a roupa comprada no shopping.

Carro a gasolina desvaloriza mais

  • O tipo de combustível também conta na desvalorização de um carro. Os automóveis movidos a gasolina foram os que sofreram maior depreciação entre maio de 2013 e maio deste ano. A categoria apresentou, durante o período analisado, baixa de 8,1%. O declínio está relacionado à preferência do comprador pelos modelos flex.
  • O Volvo XC60 3.0 turbo 2011 está entre os automóveis com motor a gasolina que obtiveram as maiores desvalorizações. O preço do SUV caiu 23%, de R$ 140.765 para R$ 108.343.
  • Em segundo lugar no ranking estão os veículos a diesel, com queda de 6,9%. Nesse segmento, o carro que mais perdeu no período foi o SsangYong Korando 2.0 turbo 2012, com queda de 20,6%, (de R$ 111.877 para R$ 88.835). O fato de a maioria dos veículos a diesel ser importado e ter alto custo no pós-venda ajuda a explicar o declínio acentuado.
  • Os veículos bicombustíveis tiveram baixa de 6,5%. O Citroën Aircross 1.6 16V 2013 com câmbio manual é um exemplo dos que mais desvalorizaram, com 19,1%. Em 2013, o modelo era comercializado por R$ 60.575, enquanto neste ano seu preço desabou para R$ 49.012.
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