É verão na Itália, mas não espere que eu faça alguma menção à canção “Un’Estate Italiana” (“Verão italiano”), composta por Giorgio Moroder para a Copa do Mundo de 1990 e que fez muito sucesso nas rádios europeias durante algum tempo. Para os alemães, a lembrança é muito agradável, já que a seleção germânica conquistou aquele título, mas vamos deixar isso de lado.

Estamos na época mais quente do ano e, como é natural nessa época, pode chover à noite. O fotógrafo quer sair bem cedo no dia seguinte para garantir a melhor luz ao nascer do sol, e como temos um Fiat 124 Spider vermelho à disposição, concordo e vamos dormir. Para variar, a intuição do meu colega não falha, as nuvens se afastam durante a noite e o sol surge esplendoroso.

Fiat 124 Spider transmite elegância em qualquer ângulo

A cor do conversível é Rosso Passione, e custa 400 euros. Para quem não quiser desembolsar o valor adicional, a opção é Bianco Gelato, Azzurro Italia ou tons de prata/cinza absolutamente sem graça, algo totalmente contraditório em um carro como este. Resumindo, o “vermelho-paixão” é a única cor que podemos escolher. 

A essa altura, você pode até estranhar a presença deste pequeno Fiat nesta seção da revista. Afinal, mesmo sendo um conversível, o Spider está longe de ser um superesportivo. Mas não se afobe, você vai entender em seguida. Apesar de ser um Fiat, o 124 Spider não é produzido apenas na Itália. Os motores saem daqui para a fábrica da Mazda em Hiroshima, no Japão, onde são montados nos carros e de lá são exportados para o mundo. 

Duas versões estão disponíveis, ambas com motor 1.4 MultiAir, uma com 140 cv e outra com 170 cv. A mais potente é a Abarth. A nossa é a configuração mais “calma”, mas isso está longe de ser algo negativo.

Motor MultiAir turbo entrega 140 cv e 24,5 kgfm

O desempenho, de acordo com os dados da fabricante, é muito bom e está longe de decepcionar: aceleração de 0 a 100 km/h em 7s5 e velocidade máxima de 215 km/h. Mas esses números não são suficientes para traduzir o que esse carro tem de melhor: a dirigibilidade.

Isso não acontece por acaso, já que o Fiat é construído sobre a base do Mazda MX-5, famoso pelo prazer ao dirigir. Dos japoneses também foi herdada a opção pela simplicidade, e, assim, o teto é de tecido e sua operação é manual, simples, prática e rápida. E o melhor: dispensa mecanismos complexos – e pesados. A capota é tão fácil de manusear que pode ser aberta ou fechada até mesmo durante a parada em um semáforo! 

Localizado no norte da Itália, o lago de Garda é o maior do país e se caracteriza por duas correntes de ventos durante o dia: um gelado, proveniente das montanhas ao norte, pela manhã e outro quente, vindo sul, à tarde. Agora é hora do vento do sul, e a imagem das águas do lago parecem convidativas a um banho.

Por dentro o acabamento é caprichado, mas sem exageros

Seguimos adiante pela estrada sinuosa, repleta de túneis e penhascos com vista deslumbrante do lago, em direção à pequena Malcesine, conhecida pelo imponente Monte Baldo e seu teleférico, que permite atingir o cume, a 1.190 metros. A vista panorâmica é de tirar o fôlego. É hora, então, de saborear um cappuccino e um lanche leve em um quiosque, aproveitando a sombra das árvores, e nos preparar para o resto da viagem.

A partir daqui, passamos a descer pela estradinha cheia de curvas, o que nos permite não só desfrutar da direção leve e precisa do roadster ítalo-japonês (ou nipo-italiano), mas também da ótima caixa de câmbio manual de seis marchas. A tração traseira é outro fator que contribui para a ótima sensação a bordo, mas a suspensão independente nas quatro rodas aliada à ótima distribuição de peso são cruciais para o elogiado comportamento desse conversível.

Motor dianteiro e tração traseira resultou em ótima distribuição de peso

Mas não se pode falar em desempenho sem mencionar o belo motor 1.4 MultiAir turbo, que entrega 140 cv e 24,5 mkgf de maneira uniforme, mesmo nas rotações mais baixas. Nesse aspecto, vale lembrar que o Fiat consegue se sair bem melhor que o seu “primo” Mazda MX-s com seu motor de aspiração natural. 

Outro aspecto que vale ser mencionado: apesar de pequeno e da ligação com o histórico homônimo lançado há 50 anos, o 124 Spider atual não tem nada de simples. O carro é equipado com o que há de mais moderno em tecnologia, como ESC e controle de tração, luzes diurnas e faróis de LED, sistema de proteção para pedestres no capô, monitor de pressão dos pneus e, claro, estrutura reforçada para proteção em caso de colisões e capotagens. 

DADOS DE FÁBRICA Fiat 124 Spider
Motor 4L, turbo, dianteiro, longitudinal, gasolina
Cilindrada 1.368 cm³
Potência 140 cv a 5.000 rpm
Torque 24,5 kgfm a 2.250 rpm
Câmbio Manual, 6 marchas
Tração Traseira
Rodas Liga leve, 16”
Suspensão dianteira Triângulos superpostos
Suspensão traseira Multibraço
Velocidade máxima 215 km/h
Aceleração (0 a 100 km/h) 7s5

O fim da viagem se aproxima enquanto o sol se põe no horizonte. Algumas nuvens ameaçadoras surgem, mas não há problema. A chuva no verão italiano é sempre bem-vinda.

Adaptação de Wilson Toume, da Motorpress, em São Paulo (SP)

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