As marcas de automóveis sabem que utilitários esportivos, crossovers e modelos com apelo esportivo e aventureiro fazem sucesso no mercado brasileiro. De olho nesse público, a Mercedes-Benz acaba de lançar o GLA, modelo que inicia a sua trajetória em território nacional como importado, mas que passará a ser produzido em Iracemápolis, no interior paulista, a partir de 2016. Aproveitamos a chegada do novo Mercedes para compará-lo com um dos seus principais concorrentes: o Audi Q3. Antes de darmos início a batalha, porém, vamos conhecer melhor a novidade.
Além de utilizar a mesma plataforma (e também apresentar traços parecidos) do Classe A, o GLA 200 também herda o conjunto motriz do hatch, e é equipado com o motor M 270 (que fez sua estreia em 2012), um 1.6 16V equipado com turbo, injeção direta de combustível, e comando de válvulas variável Camtronic (que, além de variar o momento de abertura das válvulas de admissão, também pode alterar o curso delas, a fim de auxiliar no melhor preenchimento dos cilindros com mistura ar-combustível). Esse conjunto gera 156 cv a 5.300 rpm e 25,5 mkgf de torque máximo entre 1.250 rpm e 4.000 rpm, rendimento enviado para as rodas dianteiras por meio do câmbio robotizado de dupla embreagem 7G DCT, com 7 marchas.
Ao menos inicialmente, o GLA será oferecido no Brasil em três versões: a 200 Advance (R$ 132.900), a 200 Vision (R$ 149.900) e a 200 Vision Black Edition (R$ 152.900). A configuração de entrada é equipada com sistema start-stop, faróis bixenônio, ar-condicionado automático Thermatic, rodas de liga leve aro 18”, cinco airbags, borboletas para troca de marcha, monitor de pressão dos pneus, controlador de velocidade de cruzeiro e controle de tração e de estabilidade, entre outros. O modelo intermediário recebe rodas de 18” com desenho diferenciado, teto solar panorâmico, banco do motorista com ajustes elétricos e ar-condicionado Thermotronic de duas zonas. A versão topo de linha, por sua vez, traz rodas de 18” com desenho exclusivo.
A Mercedes classifica o GLA como um utilitário esportivo — definição que parece um tanto exagerada, por conta das dimensões modestas, da capacidade de carga reduzida e da tração dianteira. Talvez fosse melhor considerá-lo um crossover, mas isso não importa muito. A grande questão é: como o GLA Vision se sai quando comparado à versão correspondente do Audi Q3, a Ambiente, que parte de R$ 147.900?
Cara a cara
Colocados lado a lado, fica evidente que GLA 200 Vision e Audi Q3 Ambiente seguem escolas distintas para agradar seus clientes. Longe de cometer exageros, o Mercedes-Benz chama a atenção não apenas pelo estilo agressivo, mas pela quantidade de cores utilizadas em sua carroceria. São quatro: preto, prata, vermelho e cromado, uma combinação destinada a torná-lo mais agresivo.
Lançado em 2011, o Audi Q3 também possui um visual agradável e moderno, mas que preza pela discrição. E embora seja ligeiramente mais curto e estreito que o GLA, os 11 cm a mais que possui na altura em relação ao rival o ajudam a não passar despercebido pelas ruas.
O mesmo padrão de design aplicado na carroceria também foi utilizado no interior de cada um dos modelos e surpreende no caso do GLA. Não se trata apenas de um belo conjunto — cujo destaque vai para a alavanca de câmbio na coluna da direção — recurso que proporciona melhor aproveitamento de espaço no console —, que parece pertencer à uma categoria superior, mas também do acabamento impecável. O Q3, por sua vez, oferece desenho muito mais simples, embora o acabamento seja impecável.
A lista de itens de série do Q3 Ambiente também é bem equilibrada. Ela contempla bancos de couro com ajustes elétricos, teto solar panorâmico, ar-condicionado de duas zonas, espelho retrovisor eletrocrômico, tração integral quattro, rodas de liga leve de 18”, seis airbags, controle de tração e estabilidade, faróis bixenônio, entre outros. Mas a grande diferença entre os modelos surge na utilização diária.
Juntamente com a plataforma herdada do novo Classe A, o GLA herdou também o problema crônico de acesso ao banco traseiro, onde o passageiro precisa baixar a cabeça para se acomodar. Por um lado, na soma das medidas internas, o GLA mostrou que a sua cabine é menor que a do Classe A, tornando-o menos versátil que o desejado. Por outro lado, o interior menos espaçoso é compensado, em partes, pelo porta-malas de 421 litros — 41 litros a mais que no hatch.
A vida é consideravelmente mais fácil no Q3. Embora seu porta-malas de 460 litros não seja notavelmente maior que o do Mercedes, o formato do compartimento, como pode ser observado nas imagens da próxima página, permite um melhor aproveitamento do espaço na acomodação de bagagens. Da mesma maneira, o acesso ao banco traseiro é feito sem qualquer empecilho, e o Audi acomoda até três ocupantes ali com muito mais folga que o Mercedes GLA.
Questão de dinâmica
Embora o peso do Q3 seja de 1.510 kg, contra 1.435 kg do GLA, o modelo da marca de Ingolstadt apresentou desempenho notavelmente superior em todas as provas de aceleração e de retomada: ele precisou de apenas 7s6 para atingir os 100 km/h, contra 9s6 do Mercedes — uma diferença expressiva. E não se trata apenas de números. Ao exigir desempenho da novidade da Mercedes, a sensação é de que o tempo de aceleração é ainda maior, uma vez que o condutor não é surpreendido com um pico de potência: o motor M 270 é linear, embora não surpreenda pela força, em todas as faixas de rotação.
Parte da eficiência se deve ao sistema de controle de largada presente no Q3 (inexistente no GLA), e também do ótimo sistema de tração integral quattro, que auxilia na hora de tracionar.
Apesar da ajuda na arrancada, a configuração do sistema de tração quattro do Q3 é voltado para a segurança na condução, e não para a esportividade. Por esse motivo, o sistema nunca direciona mais do que um terço do torque do motor para as rodas traseiras. Na prática, isso significa que o crossover da Audi é capaz de praticamente “se agarrar ao piso” nas curvas, mesmo em terrenos de baixa aderência, mas começa a sair de frente no limite, antes dos controles de tração e de estabilidade entrarem em ação.
Outro componente importante para o bom desempenho do Q3 é o motor 2.0 TFSI de nome-código CCZC, equipado com cabeçote 16V, turbo, injeção direta de combustível e comando de válvulas variável, que gera 170 cv entre 4.300 rpm e 6.200 rpm, e ótimos 28,5 mkgf de torque de 1.700 rpm a 4.200 rpm.
No entanto, o bom rendimento na pista, mesmo com maior peso, cobra o seu preço no consumo de combustível. Em nossos testes, o Q3 registrou consumo médio de 7,5 km/l em ciclo urbano e 13,5 km/l em rodovias, enquanto o GLA 200, equipado com sistema start-stop, obteve médias de 9,0 km/l e 15,3 km/l, respectivamente.
Além do melhor consumo de combustível, o GLA também exibiu um sistema de freios mais eficiente em termos de espaço até a imobilidade (veja a tabela da página 76), enquanto o Q3 deu o troco ao apresentar menores variações nos espaços de frenagem quando submetido ao teste de fading (no qual o veículo é carregado com 200 kg de lastro e é submetido a dez frenagens consecutivas vindo a 100 km/h, para avaliar o rendimento do sistema quando submetido a altas temperaturas — comuns, por exemplo, em descidas de serra).
Na hora de trafegar em vias urbanas, a suspensão do Q3 Ambiente também se mostrou capaz de filtrar ligeiramente melhor as imperfeições do asfalto que o GLA. Agradou também no Audi a maior amplitude da regulagem de altura do banco do motorista — permitindo que o condutor consiga ter uma posição de dirigir similar a de um hatch médio ou de um SUV. Em compensação, a assistência elétrica da direção do Mercedes-Benz é muito eficiente, principalmente em baixas velocidades, o que facilita consideravelmente as manobras de estacionamento.
No fim das contas
O GLA 200 Vision certamente auxiliará a Mercedes-Benz a conquistar um público mais jovem, mas o modelo acabou ficando aquém do desejado no somatório de características. Seus pontos fortes são a ampla lista de itens de série, o estilo moderno e o seu interior aconchegante e luxuoso. Mas o Q3 acaba se mostrando um veículo muito mais versátil e completo para todas as situações. Embora não tenha o apelo de ser novidade no mercado (característica que faz a diferença para alguns consumidores), o Q3 Ambition é mais espaçoso, tem porta-malas maior, é bem equipado, tem maior capacidade de carga, oferece mais desempenho e prazer ao dirigir, segurança na direção em função da tração integral, é moderno e ainda custa um pouco menos. É a melhor escolha entre os dois.
Classificação técnica
1º Audi Q3 TFSI Ambiente: 212,5 pontos
2º Mercedes-Benz GLA 200 Vision
Classificação de mercado:
1º Mercedes-Benz GLA 200 Vision: 48 pontos
2º Audi Q3 TFSI Ambiente: 46 pontos
CONCLUSÃO
O Audi Q3 Ambiente não mostrou o melhor desempenho em nossa análise mercadológica, mas sua vitória com grande vantagem na avaliação técnica faz dele a melhor escolha desse comparativo com pouquíssimas ressalvas. O sistema multimídia do Q3 merece uma tela com melhor resolução, e seu interior não é tão vistoso quanto o do GLA 200 Vision — embora ele seja muito bem acabado. Como benefícios, por R$ 2.090 a menos, o Audi oferece melhor desempenho e dirigibilidade, mais espaço interno e porta-malas, carga máxima superior e design atraente. A Mercedes-Benz foi muito feliz com o novo design jovial e marcante do GLA, com a lista de itens de série da versão Vision e o baixo consumo de combustível. Porém, seu conjunto não é o mais vantajoso.
Outras opiniões
Por Leonardo Barboza | Editor de testes: Quando falamos em SUV, pensamos em um veículo com amplo espaço interno e porta-malas, além de tração integral para situações fora de estrada. Por esse olhar, o GLA deixou a desejar e está mais para um hatch encorpado. Por se aproximar mais dessa versatilidade de SUV, fico com o Q3.
Por Vinícius Montoia | Repórter: Gostei muito do design e do interior do GLA 200 Vision, embora o Q3 Ambition não deixe a desejar nesses quesitos. Mas o Audi valoriza mais o dinheiro do consumidor ao oferecer boa lista de itens de série, ótimo desempenho e dirigibilidade, além de melhor espaço interno. É a minha escolha.