Você já conferiu aqui no CARRO ONLINE o primeiro comparativo envolvendo a nova geração do Mercedes-Benz Classe C com os concorrentes BMW Série 3, Volvo S60 T4 e Audi A4. Na mesma ocasião, no entanto, também realizamos outra avaliação que vai ao encontro do gosto do consumidor brasileiro: colocamos o novo Mercedes-Benz GLA frente a frente com BMW X1, MINI Cooper S Countryman e Audi Q3. Será que o crossover derivado do Classe A, cuja produção no Brasil começa a partir de 2016, oferece dinâmica superior à dos rivais?
Para responder a essa questão, foi selecionada para esse comparativo a configuração de entrada (movida a gasolina) de cada um dos modelos: GLA 200 (2.0 de 184 cv), BMW X1 sDrive 20i (2.0 de 184 cv), Audi Q3 1.4 TFSI (com 150 cv) e o MINI Cooper S Countryman (1.6 de 184 cv). Todos os modelos avaliados estavam equipados com câmbio manual de 6 marchas e, exceto o BMW (cuja tração é traseira), eram dotados de tração nas rodas dianteiras.
O comparativo com foco na dinâmica dos veículos foi realizado no mesmo local onde avaliamos os sedãs médios da edição de maio: um dos centros de testes da Bridgestone, complexo com pistas distintas e centros técnicos distribuídos em 150 hectares de área. Lá, pudemos avaliar os crossover em seis condições diferentes. A primeira situação consistia na realização de três voltas com cada veículo em um trajeto com pisos normais e mal pavimentados, além de curva em vias estreitas que simulam estradas secundárias europeias — condição adequada para analisar conforto, retomadas e estabilidade em mudanças de direção em velocidades normais.
A segunda avaliação foi feita em uma ampla área asfaltada com um trajeto travado, delimitado por cones, com um slalom em sua finalização — prova em que cada jornalista teve acesso ilimitado a cada automóvel e, nas mudanças bruscas de direção em baixa velocidade, pôde avaliar aderência dos pneus, equilíbrio do veículo, capacidade de tração, controles de estabilidade e de tração.
A terceira atividade do dia foi realizada em uma área com dois tipos de asfalto e concreto em péssimo estado de conservação. Nessa prova, na qual o motorista deveria trafegar com todos os veículos em velocidades semelhantes e constantes, era possível avaliar o isolamento acústico dos modelos. A quarta prova foi realizada em um circuito oval de 4 km, desenvolvido para atingir velocidade máxima. Nessa pista, cujas retas tinham até sete faixas de largura, era possível avaliar o comportamento da suspensão, da direção e a atuação dos controles de tração e estabilidade em mudanças bruscas de direção em velocidades de até 150 km/h.
Na sequência, a quinta atividade consistia em trafegar em velocidades variadas em uma pista circular molhada e com pisos de baixa aderência, para testar a estabilidade em pisos limitados. A sexta e última prova consistia em voltas também ilimitadas em um pequeno circuito do complexo de testes, onde era explorada principalmente a 3ª marcha dos modelos, o equilíbrio da carroceria, além de toda a potência e torque gerados pelo motor e capacidade de frenagem.
As diferenças entre os crossovers
Embora tenham portes parecidos, os crossovers desse comparativo não poderiam ter características mais distintas. O Audi Q3, por exemplo, oferece capacidade de carga de 522 kg e seu porta-malas comporta até 460 litros, ao passo que BMW X1 e GLA empatam com 476 kg e 420 litros no caso do BMW, e 471 kg e 320 litros no Mercedes. O MINI Cooper S Countryman fica como lanterna em termos de praticidade com a capacidade de carga de apenas 430 kg e porta-malas de 350 litros. Visivelmente dono das menores medidas internas, o exemplar da marca de origem inglesa é o modelo que recebe seus ocupantes de forma mais “unida e calorosa”, ao passo que a sensação de espaço no GLA é a melhor entre os rivais. Nesse quesito, X1 e Q3 passam sensação de espaço semelhante, como medianos.
O acabamento interno do GLA se destaca com grande vantagem em relação aos concorrentes: a novidade da Mercedes parece pertencer a um nível superior em função do encaixe justo entre as peças, do painel de instrumentos e das funções do computador de bordo. Embora não deixe a desejar em qualidade, o Audi Q3 tem o interior mais sóbrio e convencional, enquanto o BMW X1 conquista uma melhor relação entre bom acabamento e design moderno. O MINI, por sua vez, tem mais foco em formas do que função: sua cabine não é das mais organizadas, e o acabamento, embora não seja ruim, está abaixo da média dos concorrentes. O nível de ruído interno no Cooper S Countryman também é notavelmente o maior entre os concorrentes deste comparativo.
Na soma de características como espaço interno, acabamento, carga máxima, porta-malas, conforto oferecido pela suspensão, entre outras questões de versatilidade para o dia a dia, o Audi Q3 ofereceu o pacote mais equilibrado. Embora o Mercedes-Benz GLA surpreenda pelo design interno e ofereça espaço ligeiramente maior, seu porta-malas é menor, os bancos são menos confortáveis e a área para o porta-malas é apenas mediana, e, assim como no Classe A, o acesso para o banco traseiro deixa muito a desejar. Com as maiores dimensões do comparativo, o BMW X1 não surpreende no espaço interno ou na área de cargas, embora seja consideravelmente confortável. O MINI Cooper S Countryman, pela proposta mais despojada, é o menos atraente em termos de versatilidade.
Explorando limites
Em meio a um campo de testes com inúmeras possibilidades para avaliações dinâmicas, com configurações avaliadas que não são vendidas no Brasil (com câmbio manual), deixamos as questões mercadológicas de lado e nos concentramos no comportamento dos modelos.
Prazer ao dirigir tende a ser uma das características mais marcantes nos veículos da BMW, e, por esse motivo, o X1 sDrive 20i decepcionou. Ele oferece a típica posição de dirigir da marca (ou seja, beira a perfeição na hora de acomodar o motorista e oferece posição de dirigir que pode ser ajustada mais baixo), tem volante com boa espessura e que oferece respostas agradáveis, além de câmbio preciso. Todavia, para espanto geral, o crossover deixou a desejar na suspensão, na dirigibilidade e nos controles eletrônicos de tração e estabilidade. Nem mesmo a famosa tração traseira foi suficiente para torná-lo divertido ao volante.
O X1 oferece bom nível de conforto em situações normais, todavia, nas mudanças bruscas de direção e frenagens fortes, sua carroceria não apenas oscilou demasiadamente, mas também apresentou dinâmica notavelmente menos refinada que o sedã 320i, por exemplo. Como tal comportamento levava o veículo ao limite da aderência dos pneus com relativa facilidade, os controles de estabilidade e tração eram acionados com relativa facilidade. Embora os equipamentos de segurança mantivessem o BMW na trajetória, a atuação dos sistemas se mostrou notavelmente agressiva, freando as rodas bruscamente. E, à diferença do que estamos habituados com os modelos da marca, os controles permaneciam ativos mesmo quando desativados no painel.
O GLA tem comportamento dinâmico muito parecido com o X1: ele parece “pedir” uma condução mais calma em função da suspensão com o acerto voltado para o conforto e também o volante leve — embora direto. As reações do crossover na pista de testes revelaram, de modo geral, um veículo mais equilibrado que o BMW. Quando levado além do limite em mudanças de direção, o Mercedes Benz perde a tração das rodas dianteiras, mas a atuação dos controles de tração e estabilidade ocorre de modo mais delicado e discreto.
Na pista de testes, o Cooper S Countryman compensou a falta de versatilidade. Seu motor 1.6 produz os mesmos 184 cv disponíveis nos 2.0 do X1 e GLA. O torque do MINI também não deixa a desejar: são 26,5 mkgf de força a 1.600 rpm contra 25,5 mkgf no Mercedes e 27,5 mkgf no BMW, ambos a 1.250 rpm — o Audi Q3 segue em um patamar inferior, com 150 cv e 25,5 mkgf de força extraídos do seu 1.4 TFSI. E, com o bom rendimento somado com o menor peso entre os crossovers desse comparativo, o modelo da marca inglesa mostrou capacidade de aceleração exemplar. Mesmo com um pouco de dificuldade para tracionar ao despejar toda a sua potência na primeira marcha, o compacto ultrapassou todos os seus concorrentes na prova de aceleração: arrancou de 0 a 100 km/h em 7s9, enquanto X1, GLA e Q3 realizaram a mesma prova em 8s1, 9s0 e 9s0, respectivamente.
A diferença de desempenho é ainda maior em acelerações longas: o Cooper S Countryman necessitou de apenas 27s2 para partir da imobilidade e atingir 180 km/h. O BMW demorou 29s4, o Mercedes-Benz, 31s8, e o Q3, 32s5.
Para um veículo com foco no prazer ao dirigir, mais importante do que a aptidão de acelerar em retas é a capacidade para contornar curvas, e o MINI brilha nesse quesito também. Mesmo calçando os pneus mais finos do comparativo (205/55 R17), o crossover realizou todas as provas dinâmicas com maestria invejável: sua carroceria inclinou pouco nas curvas, a capacidade de tração agradou, e o volante comunicativo o tornam o modelo mais parecido com um hatch esportivo do comparativo.
O Audi Q3, por sua vez, não foi apenas a maior surpresa do evento, como o vencedor do comparativo — seguido pelo GLA 200 em segundo lugar, X1 sDrive 20i em terceiro e o Cooper S Countryman em quarto colocado. Sua posição de dirigir elevada não é a mais apreciada por quem busca conectividade com o automóvel, mas o somatório de características positivas levaram o crossover da Audi à primeira colocação. Ele não agrada apenas pela maior praticidade no dia a dia, mas pelo equilíbrio exemplar no comportamento dinâmico e pelo conforto oferecido.
Apesar do menor motor do comparativo, a alta tecnologia embarcada no 1.4 TFSI permitiu ao Audi desempenho consideravelmente próximo ao de seus concorrentes em termos de aceleração. Seu câmbio próximo ao volante torna as trocas de marcha mais ágeis, e os engates justos são agradáveis para quem aprecia conduzir.
Além do mais, embora o Q3 não possa ser equiparado ao MINI Cooper S Countryman em termos de esportividade, o modelo da montadora alemã não deixa a desejar na dirigibilidade com seu comportamento neutro, suspensão bem acertada e ótimo nível de conforto. O Audi Q3 não foi brilhante em nenhum quesito em especial, mas as boas notas obtidas em carroceria e dirigibilidade lhe destacaram entre os concorrentes. BMW X1 e MINI Countryman deixaram claro que precisam de melhorias, enquanto o Mercedes GLA, que será fabricado no Brasil em conjunto com a Classe C, surge como uma boa opção — mas que não é tão equilibrado quanto poderia.
Conclusão:
1º Audi Q3 1.4 TFSI: 182,5 pontos
Com o menor motor deste comparativo, o Audi Q3 1.4 TFSI mostrou características que apontam para um projeto muito bem resolvido do ponto de vista prático e dinâmico, que o levaram à primeira colocação. O crossover da Audi, por exemplo, oferece bom espaço interno e a melhor área de cargas do comparativo, tornando-o o mais versátil entre os modelos do comparativo. No espaço interno, além da boa área, o modelo agrada pelo acabamento no mesmo nível
do oferecido no Mercedes-Benz GLA e no BMW X1 — além de oferecer isolamento acústico muito eficiente.
E, mesmo com o desempenho mais contido do comparativo, o Q3 não pode ser considerado um veículo lento, tendo virtudes capazes de causar inveja nos concorrentes, como a agradável posição de dirigir e a alavanca do câmbio, próxima à direção, que ajuda na interatividade. Durante os testes, tornou-se notável que sua suspensão foi desenvolvida para oferecer conforto, sem abrir mão de esportividade quando exigida. Ele ainda é estável, tem bons freios e oferece visual moderno. O bom equilíbrio entre todas as características e nenhuma falta grave levaram o Q3 à primeira colocação do comparativo.
Dados da fabricante
Motor 4 cilindros, dianteiro, transversal, turbo; Cilindrada 1.395 cm3; Potência (G) 150 cv; Torque (G) 25,5 mkgf; Câmbio manual, 6 velocidades; Rodas liga leve, aro 17″; Comprimento 4,38 m; Largura 1,83 m; Altura 1,60 m; Entre-eixos 2,60 m; Suspensão dianteira triângulo transversal; Suspensão traseira multibraço; Porta-malas 460 litros; Peso 1.463 kg
2º Mercedes-Benz GLA 200: 176,5 pontos
O GLA 200 mostrou um projeto equilibrado, mas em um nível um pouco inferior ao esperado para um lançamento. Apesar do desempenho, do porta-malas dentro da média e do belo design interno, o crossover não passa a melhor sensação de espaço, e o acesso para o banco traseiro deixa a desejar. Nos testes dinâmicos, o crossover da Mercedes-Benz mostrou comportamento muito parecido com o BMW X1: embora agradável de dirigir em situações normais, mudanças bruscas de direção não são sua praia.
Dados da fabricante
Motor 4 cilindros, dianteiro, transversal, turbo; Cilindrada 1.595 cm3; Potência (G) 156 cv; Torque (G) 25,4 mkgf; Câmbio manual, 6 velocidades; Rodas liga leve, aro 18″; Comprimento 4,41 m; Largura 1,80 m; Altura 1,49 m; Entre-eixos 2,69 m; Suspensão dianteira triângulos transversais; Suspensão traseira multibraço; Porta-malas 421 litros; Peso 1.449 kg
3º BMW X1 sDrive 20i: 174,5 pontos
O BMW X1 sDrive 20i apresenta muitas qualidades: bom espaço e acabamento interno, ótimo desempenho vindo do motor 2.0, e porta-malas mediano. Porém, diferente do que normalmente encontramos nos veículos da marca, o X1 deixou a desejar no comportamento dinâmico: sua carroceria rola demasiadamente nas curvas, e os controles de tração e estabilidade, além de não se desativarem totalmente, entravam em ação muito cedo, “amarrando” o veículo em mudanças de direção. Ele é confortável e seguro, mas não divertido.
Dados da fabricante
Motor 4 cilindros, dianteiro, longitudinal, turbo de dupla voluta; Cilindrada 1.997 cm3; Potência (G) 184 cv; Torque (G) 27,5 mkgf; Câmbio manual, 6 velocidades; Rodas liga leve, aro 17″; Comprimento 4,47 m; Largura 1,79 m; Altura 1,54 m; Entre-eixos 2,76 m; Suspensão dianteira triângulos transversais; Suspensão traseira multibraço; Porta-malas 420 litros; Peso 1.559 kg
4º MINI Cooper Countryman: 168,5 pontos
O MINI Cooper S Countryman se mostrou, disparadamente, o mais divertido do comparativo. Seu motor 1.6 turbo surpreendeu em médias e altas rotações, a suspensão mantém a carroceria equilibrada mesmo nas mudanças de direção mais bruscas, e a direção é comunicativa. Por outro lado, ele é o menos espaçoso e tem o menor porta-malas, sua lista de itens de série é a mais enxuta, e a suspensão deixa a desejar no conforto. Seu compromisso é somente com a diversão, e não a versatilidade para o dia a dia.
Dados da fabricante
Motor 4 cilindros, dianteiro, transversal, turbo; Cilindrada 1.598 cm3; Potência (G) 184 cv; Torque (G) 26,5 mkgf; Câmbio manual, 6 velocidades; Rodas liga leve, aro 17″; Comprimento 4,11 m; Largura 1,78 m; Altura 1,56 m; Entre-eixos 2,59 m; Suspensão dianteira triângulos transversais; Suspensão traseira multibraço; Porta-malas 350 litros; Peso 1.390 kg
Outras opiniões
Gostei muito do GLA porque ele é dinâmico e ágil e faz tudo de modo relaxante. Também considero o design muito bonito. Xia Dong • China
Considero a posição de dirigir do Audi Q3 mais elevada do que deveria ser. O motor, apesar do deslocamento pequeno, tem rendimento agradável. Dusan Lukic • Eslovênia
Os controles de tração e estabilidade do BMW X1 são demasiadamente duros. Isso é bom para a segurança, mas não para o prazer ao dirigir. Philippe Lebrun • França
O GLA é consideravelmente preciso para um modelo com tração dianteira e é fácil de dirigir. A posição de dirigir também é muito confortável. Sandro Méda • Portugal
Experiência agregadora
Assim como no comparativo realizado entre o novo Mercedes-Benz C 200, Audi A4 1.8 TFSI, BMW 320i e Volvo S60 T4, o teste com os crossovers desta matéria foi realizado no centro de testes da Bridgestone em Aprilia, na Itália. E um pequeno fantasma assombrou minha mente no início da viagem: eu era o mais novo do grupo por uma boa margem de idade e ainda estava testando veículos na companhia de editores-chefes oriundos de países diferentes. Além dos meus companheiros terem muito mais bagagem jornalística do que eu, muitos deles já haviam tido a oportunidade de avaliar Porsches de todas as gerações, a linhagem completa do BMW M3, modelos AMG, todas as gerações do Golf GTI, entre outros modelos considerados referência em “experiência ao dirigir” mundo afora — veículos cujo acesso é basicamente impossível no Brasil.
Mas, conversador nato que sou, não demorou muito tempo pra me enturmar, começar a dividir opiniões com os demais especialistas e perceber que apesar das diferenças de experiência, as percepções e opiniões apresentavam variações mínimas entre toda a equipe. Sinal de um ótimo alinhamento do grupo com os veículos do mercado! – Márcio Murta