Jac J3 Turin 2013/2014

Os carros chineses ainda sofrem muita resistência no mercado. Apesar da notável evolução entre a primeira leva destes importados e os modelos que são comercializados hoje (especialmente das marcas Jac e Chery ­– esta última já produz no Brasil), o consumidor não enxerga o carro chinês como um produto confiável, sobretudo mecanicamente.

Para avaliar como um carro chinês se comporta após quase dois anos de uso, CARRO ONLINE teve a oportunidade de guiar um Jac J3 Turin 2013, ano-modelo 2014 (ou seja, já com o facelift de meia-vida do sedã). O veículo pertence à Jac Motors do Brasil, mas foi adquirido de um proprietário particular após tê-lo usado por 70.000 km. Quando rodamos com ele, o hodômetro já marcava pouco menos de 86.000 km.

Unidade já rodou mais de 86 mil km

À primeira vista, o J3 Turin pareceu bem conservado. Não havia arranhões ou amassados na lataria, o que poderia prenunciar o bom estado do veículo. Por dentro, alguns poucos defeitos caracterizavam o uso avançado do carro, como pequenos riscos e rasgos na costura do couro dos bancos (que fora um acessório instalado pelo proprietário) e um rangido ou outro proveniente do banco de trás, mas nada que chegasse a incomodar os ocupantes ou destoasse de falhas comuns a carros com esta quilometragem.

Volante é um dos que mais entregam a "idade" do modelo

O acabamento também sobreviveu bem ao longo destes quase dois anos, não havendo nenhuma rebarba ou defeito de montagem. As peças não rangem tampouco há riscos nos plásticos do painel ou das portas. O que mais pode denunciar a “idade” do carro é a embreagem, levemente mais dura para trocar as marchas e o revestimento do volante desgastado. O câmbio do J3 Turin é ruidoso e pouco preciso de fábrica, portanto não precisa ser considerado como um problema pelo uso.

AMACIADO
Uma das vantagens do carro usado é o comportamento mais amaciado do motor, fazendo com que as respostas do bloco 1.3 de 108 cv de potência e 14,1 kgfm de torque que equipa o J3 Turin estejam mais ágeis. Isso ocorre devido ao menor nível de atrito das peças internas, suavizando o trabalho do propulsor (obviamente quando respeitada as datas de troca de óleo).

J3 usado apresentou números melhores do que o 0 km nos testes

Na pista de testes a esperteza se concretizou nas provas de aceleração. De 0 a 100 km/h, por exemplo, o J3 Turin usado precisou de 12s08 para cumpri-la, enquanto que um novo alcança a meta em 12s38. A maior diferença entre um e outro, de quase um segundo, foi na retomada de 80 km/h a 120 km/h em quarta marcha.

O teste de fadiga dos freios também evidenciou uma discrepância significativa entre os dois modelos. O J3 rodado obteve uma diferença de quatro metros entre a melhor e a pior frenagem, enquanto o 0 km expôs uma de 7,9 m, quase o dobro.

Reparador André Kenji aprovou o estado do J3 Turin

AVALIAÇÃO DO REPARADOR
Além da maior agilidade, o conjunto de suspensões surpreendeu positivamente. O comportamento mais mole, característico do J3 Turin, manteve-se muito próximo ao de uma unidade 0 km e não havia barulhos incomuns provenientes do amortecedor ou buchas. De qualquer maneira, levamos o carro para uma oficina, a fim de avaliar o estado mecânico do chinês.

Foto 1: coxim central do escapamento foi trocado

Conforme constatou o reparador André Kenji, funcionário da Gigio’s Eletric Car (oficina autorizada da Bosch), poucos serviços foram realizados fora do plano de manutenção do J3 Turin.

Foto 2: cárter passou por processo de colagem

Além dos pneus, a troca do coxim central do escapamento (foto 1), por exemplo, é um deles, bem como a colagem do cárter (foto 2), possivelmente devido a um vazamento de óleo no local. Bateria, discos e pastilhas de freio (cujas substituições não constam na revisão programada) também foram trocados, no mínimo uma vez.

Coifa do câmbio apresenta pequeno vazamento de graxa

O único defeito que Kenji encontrou foi um pequeno vazamento de graxa na coifa do câmbio, como mostra a foto acima. Segundo o plano de manutenção, os semieixos são verificados regularmente, portanto é possível que a falha seja reparada no próximo agendamento.

Troca de discos e pastilhas de freios não é inclusa na revisão

REVENDA DESVALORIZADA
A aprovação do J3 Turin na análise da oficina contrariaria a impressão frágil que o mercado atribui aos chineses (ou, ao menos, aos carros da Jac). Todavia, ainda existe um longo caminho para que eles construam uma reputação valorizada na hora da revenda.

Nós levamos a unidade testada à concessionária Ventuno, da Fiat, na zona sul da capital paulista, para simular oferecê-lo em uma troca por um Fiat Grand Siena Attractive 1.4. Com base na avaliação feita pelo consultor da loja, o valor do J3 Turin 2013/2014 é de apenas R$ 24.000. Para ter uma ideia, o montante é 28% mais barato do que o valor que a tabela Fipe atribui ao sedã (R$ 33.308).

Concessionária da Fiat avaliou o Jac J3 Turin 2013/2014 em R$ 24.000

Vale ressaltar que a principal alegação do vendedor foi a alta quilometragem do veículo. De fato, quase 86 mil km rodados em pouco menos de dois anos é muito acima da média nacional de dirigir 15 mil km em 12 meses. As desvantagens do baixo volume de emplacamentos e ser pouco aceito no mercado só agravam a situação do J3 Turin.

CONCLUSÃO
O consumidor de um Jac J3 Turin pode ficar satisfeito com o produto, especialmente com o modelo pós facelift. Trata-se de um carro que proporciona o mesmo nível razoável de conforto ao longo de mais de 80 mil km e não dá sinais de problemas graves ou estruturais, mecânicos ou de acabamento.

Ainda que o veículo sofra algum dano imprevisto ao longo do uso, a garantia de seis anos de fábrica é uma boa salvaguarda para os interessados, pois reduz bastante os gastos com manutenção.

O lado ruim é o que a imprensa especializada frisa nas avaliações de carros chineses: a revenda. Como pudemos perceber, o valor de mercado destes carros deprecia muito além da tabela Fipe, tornando-o uma moeda de troca com pouco poder de barganha na hora de adquirir um novo automóvel.  

No geral, o J3 foi bem avaliado após os 85 mil km rodados

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