O primeiro veículo que ela testou foi o Bandeirante, aquele jipe da Toyota produziu aqui entre 1962 e 2001 e que deixou muita saudade nela e entre os chacareiros (especialmente os da colônia japonesa) do interior de São Paulo. Depois veio a picape Hilux, da mesma marca, que ganhou nova geração recentemente.

Ela testa os modelos e reporta suas impressões para fábrica. Mas por que a bióloga Neiva Guedes, doutora em biologia, foi virar “piloto de testes” de fora-de-estrada da marca oriental?

Arara azul: de 500 em 1989 a 1.500 hoje
Simples: ela é apaixonada pela arara azul e a Toyota, por intermédio de uma fundação, decidiu apoiá-la no seu trabalho para evitar a extinção da espécie, ameaçada pela ação do homem, seu maior predador.

Neiva é presidente do Instituto Arara Azul, com sede no Pantanal (MS), a qual criou depois de se apaixonar pela espécie que contava apenas 500 indivíduos no Brasil em 1989. Hoje, graças a um trabalho movido por sua paixão pela ave e com o apoio da montadora, elas já são 5.000 — e saíram da lista dos animais em extinção. Ao mencionar isso, o brilho nos olhos da bióloga mostra seu amor pela arara azul, um sentimento que foi desviado dos mamíferos, seu alvo inicial.

Era neles que Neiva pensava quando foi visitar o Pantanal, mas acabou conhecendo a mais “humana” das espécies de arara (existem também a vermelha e a canindé, de plumagem tricolor), a azul. A comparação, conforme explica a bióloga, é pela maneira como a arara azul forma a família, tratando com carinho dos filhotes, ato em que se revezam macho e fêmea, que permanecem juntos por toda a vida.

A bióloga Neiva Guedes, nos tempos do saudoso Toyota Bandeirante
O casal é capaz de procriar entre os dez e os 20 anos de vida  mas, o que dificulta a sua proliferação é que, mesmo gerando dois ovos por ano, apenas um filhote sobrevive. Os dois outros tipos de araras têm maior poder de procriação, com até seis filhotes por ano, que vingam com maior facilidade que as azuis. Além disso, a arara azul é extremamente frágil. Em 2015, por exemplo, 100 delas morreram sem que se tenha descoberto a razão.

Recentemente, uma empresa austríaca presenteou o Instituto Arara Azul com transmissores, que fariam rastreamento das aves. Os aparelhos, muito caros, não duraram 15 dias nos pescoços das  aves. “Elas arrancam umas das outras”, conta Neiva, com um sorriso de mãe que perdoa a travessura dos seus filhos.

Tráfico de aves é o 2º maiorMas o risco à arara azul, que vive até 60 anos em cativeiro e entre 35 e 40 na natureza, não está no aparelho espião, mas sim na ação predadora do homem — atraído pelo seu alto valor no tráfico de aves, o segundo maior no mercado negro, perdendo apenas para o de drogas.

Em compensação, hoje a população do Pantanal e outras regiões onde se encontra a arara azul (que se alimenta apenas de duas espécies de castanha, curi e bocaiuva) mudou seu comportamento em relação às aves e ajuda em sua proteção e preservação, diminuindo a interferência dos contrabandistas de animais.

O Instituto Arara Azul tem sede em Campo Grande (MS). Uma das ações é a campanha “Adote um Ninho”, da qual qualquer pessoa pode participar. Por meio do site é possível ter como colegas padrinhos, grande empresas e personalidades como Ziraldo, Michel Teló, Chitãozinho e Xororó, Munhoz e Mariano, Luan Santana e muitos outros famosos, num total de 45 ninhos. A campanha está em sua segunda edição e a arrecadação e a sua renda proporciona recursos e o fortalecimento do projeto.

O Centro de Sustentabilidade, criado em 2013 com o patrocínio da Toyota, tem por finalidade garantir que as ações da entidade sejam perenes e que ela possa, em alguns anos, se tornar autossustentável economicamente. O centro criou um programa de turismo de informação e observação das araras na cidade e no Pantanal, especialmente em seu período de reprodução. O espaço vem recebendo estudantes e pesquisadores, brasileiros e estrangeiros que fazem estágio e treinamento realizados pelo Instituto Arara Azul.

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