Texto Gustavo de Sá

Fotos Renan Senra

Rápidos e eficientes, Civic , Cruze e Jetta fazem parte da nova geração de sedãs médios com motores turbo. Qual entrega o melhor conjunto na versão de topo?

A chegada dos motores turbo ao segmento dos sedãs médios aconteceu de forma discreta, sempre em versões de topo ou com apelo esportivo. Foi assim com Volkswagen Jetta 2.0 TSI (2011), Peugeot 408 THP (2012), Renault Fluence GT (2012) e Citroën C4 Lounge THP (2013). Os modelos da PSA, aliás, foram os primeiros a inaugurar o downsizing na categoria, com a substituição de um motor aspirado (2.0) por um de menor capacidade volumétrica (1.6). Àquela época, os tradicionais consumidores deste segmento ainda tinham um pé atrás em relação a desempenho ou durabilidade dos motores turbo.

Atualmente, a tecnologia aperfeiçoou-se e os clientes passaram a entender, gradativamente, que levar para casa um modelo com motor turbo não significa gastar mais com combustível ou perder performance – ocorre justamente o contrário.

Para mostrar isso na prática, reunimos aqui os três sedãs médios com motores sobrealimentados mais vendidos do Brasil em 2018: Honda Civic, Chevrolet Cruze e Volkswagen Jetta. A segunda geração do Cruze estreou por aqui em 2016, em duas versões, sempre com motor turbo. Foi naquele mesmo ano que a Honda atualizou o Civic, agora em sua décima geração e com sobrealimentação restrita à versão de topo. A terceira geração (no Brasil) do Jetta chegou às concessionárias em setembro passado, atualizando para flex o motor 1.4 TSI do antecessor. Vale lembrar que, conforme adiantamos na edição 299, em “A nova cara dos sedãs”, Cruze e Civic serão reestilizados em 2019 para enfrentar o novo Corolla, que estreará como o primeiro híbrido flex do mundo.

Para este comparativo, consideramos as versões topo de linha dos três sedãs: LTZ (R$ 109.790), do Cruze, Touring (R$ 127.600), do Civic, e R-Line (R$ 119.990), do Jetta. Vale alertar que a unidade fotografada do Chevrolet é da série especial Black Bow Tie (R$ 98.790). Entretanto, toda avaliação do teste e notas finais baseiam-se nas citadas versões.

Todos trazem itens esperados para a faixa de preço, como ar-condicionado digital automático, controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de saída em rampas, câmera de ré, rodas de 17 polegadas, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, seis airbags (frontais, laterais e de cortina), luz de rodagem diurna em LED, botão de partida, bancos em couro, central multimídia com tela tátil, chave presencial e botão de partida.

Para equiparar o Cruze LTZ em preço aos rivais, é preciso acrescentar um pacote opcional de R$ 8.600. Ele adiciona alerta de colisão frontal com indicador de distância do veículo à frente, aviso de pontos cegos, assistente de permanência em faixa, farol alto adaptativo, carregador de celular por indução, sistema de estacionamento automático e banco do motorista com ajustes elétricos. Com o pacote e a pintura metálica, o Cruze vai a R$ 119.890 – ainda assim, mais barato que os rivais. No Jetta R-Line, o único equipamento pago à parte é o teto solar elétrico, por R$ 4.990.

Exclusivos do Chevrolet são o indicador do tempo de vida do óleo, tecnologia de serviços por assinatura OnStar (grátis nos seis primeiros meses) e retrovisores com aquecimento, além dos já citados carregador por indução, aviso de pontos cegos e sistema de estacionamento automático. Porém, o Cruze fica atrás dos rivais ao não oferecer faróis full LED, ar-condicionado com duas zonas de temperatura e freio de estacionamento com acionamento elétrico.

Somente o Civic traz faróis de neblina em LED, câmera no retrovisor direito e entrada de vídeo e áudio HDMI. O Jetta, por sua vez, é o único a contar com controle de cruzeiro adaptativo (ACC) e manual cognitivo com tecnologia da IBM (o carro responde a dúvidas do motorista por meio da fala). O Volkswagen também emprega uma série de recursos de segurança indisponíveis nos oponentes, como detector de fadiga do motorista, bloqueio eletrônico do diferencial, sistema de frenagem pós-colisão (aciona os freios para evitar segundo impacto) e em manobras (freia se sensores detectarem colisão iminente ao estacionar).

Pelo preço de partida acima dos R$ 100 mil, os três sedãs poderiam oferecer recursos como saídas traseiras de ar-condicionado e porta-luvas refrigerado – curiosamente, a geração anterior do Jetta dispunha destes itens. Outra ausência inexplicável no Volkswagen é a do ajuste elétrico do banco do motorista. Cruze e Civic trazem sistema de partida remota do motor, útil para ligar o ar-condicionado antes de entrar no carro.

Na cabine, Jetta e Civic transmitem uma atmosfera mais tecnológica e voltada ao motorista, enquanto o Cruze aposta em um ambiente mais clássico. Nos dois primeiros, o interior é totalmente escuro, enquanto o Cruze traz bancos e painel em tom claro na versão LTZ considerada.

No Civic, a sensação de esportividade é maior, com bancos de bom apoio lateral, alavanca de câmbio mais próxima da mão, volante com ótima ergonomia e borboletas para trocas virtuais de marcha. Todos têm acabamento satisfatório, com uso de plásticos emborrachados e material que simula couro em boa parte do painel e portas.

Nos três, as centrais multimídia trazem navegação GPS integrada, recurso útil para viagens onde não há sinal de internet para celulares. O destaque do interior do Jetta é o quadro de instrumentos digital, com tela de 10,2 polegadas e múltiplas configurações. Ela pode exibir em destaque desde conta-giros e velocímetro em arranjo analógico ou digital até o mapa da navegação por quase toda a tela. O Volkswagen traz ainda iluminação ambiente em LED com 10 diferentes cores. Embora também conte com quadro de instrumentos digital, o Civic traz tela menor (de 7 pol.) e com menos opções de recursos gráficos.

No Jetta, faltam retenção automática dos freios em paradas (presente só no Civic) e luzes-espia no quadro de instrumentos para informar sobre iluminação – só há a indicação quando a luz traseira de neblina é ligada. No Honda, o ajuste de intensidade da ventilação é feito somente por meio de comandos na central multimídia, o que toma mais tempo da atenção do motorista.

Já o Cruze peca por não oferecer ajuste de altura para os cintos de segurança dianteiros e a possibilidade de desativar o sistema start/stop por meio de botão (isso ocorre somente ao colocar o câmbio em modo manual). Ao menos o Chevrolet é o único a permitir o rebatimento dos bancos traseiros pelo lado de dentro – nos rivais, somente pela parte externa, com a tampa traseira aberta. Além disso, a ancoragem superior do cinto de segurança central é no próprio encosto, o que permite deixar a área livre para cargas ao rebater os bancos.

Em espaço interno, o Civic destaca-se pela maior área para os joelhos no banco de trás, embora a queda mais acentuada da linha do teto reduza o lugar para a cabeça (neste ponto, o Jetta é melhor). No Cruze, a acomodação do quinto ocupante é benefi ciada pela maior largura da cabine e pelo mais baixo e estreito túnel central. É do Honda o maior porta-malas, com 519 litros declarados, seguido do Volkswagen (510 l) e Chevrolet (440 l).

Rápidos e eficientes

O trio aqui reunido traz motores de concepção moderna, com turbo e injeção direta de combustível. No Cruze, o 1.4 produz 153 cv de potência e 24,5 kgfm de torque com etanol. Já o 1.4 flex do Jetta gera 150 cv e 25,5 kgfm com qualquer um dos combustíveis. No Civic, o 1.5 aceita apenas gasolina, mas é o mais potente do grupo, com 173 cv e 22,4 kgfm. Chevrolet e Volkswagen adotam câmbio automático tradicional, com conversor de torque e seis marchas. Já a Honda optou pela caixa continuamente variável (CVT), que traz simulação de sete marchas.

Com a melhor relação peso-potência do grupo (7,6kg/cv, ante 8,6 kg/cv do Cruze e 8,8 kg/cv do Jetta), o Civic foi superior em desempenho. Na aceleração de zero a 100 km/h, o Honda levou apenas 7s7, enquanto Cruze e Jetta fizeram o mesmo em, respectivamente, 8s4 e 8s9. Nas retomadas, os rivais diminuíram a diferença, mas não conseguiram ficar à frente do sedã produzido em Sumaré (SP).

Vale lembrar que, por padrão, os testes de veículos flex são realizados com 100% de etanol no tanque. Na hora de parar, o Honda também manteve vantagem sobre Cruze e Jetta. O Civic percorreu 37,4 metros ao estancar completamente vindo a 100 km/h, enquanto os rivais pararam, na ordem, 1,6 m e 2,3 m depois. Todos passaram sem ressalvas pelo teste que avalia a resistência ao superaquecimento dos freios e assalvas pelo teste que avalia a resistência ao superaquecimento dos freios e apresentaram níveis semelhantes de ruído interno.

Em consumo de etanol, o Jetta garantiu melhores médias sobre o Cruze, com 8,4 km/l na cidade e 12,1 km/l na estrada – o rival registrou nos respectivos ciclos as marcas de 6,9 km/l e 9,8 km/l. Somente a gasolina, o Civic Touring fez as médias de 11,5 km/l em ambiente urbano e 16 km/l no trecho rodoviário. Para efeito de comparação, neste comparativo também medimos o consumo do Chevrolet e do Volkswagen com gasolina (veja tabela ao final da matéria).

Não é só nos números de pista que o Civic impressiona. O Honda entrega dirigibilidade mais afinada graças à suspensão multibraço na traseira (enquanto os rivais adotam eixo de torção), que permite contorno de curvas de alta com maior precisão e contato constante dos pneus com o solo. Mais rápidas e diretas, as respostas da direção do japonês também agradam quem aprecia condução mais esportiva.

Cruze e Jetta, por sua vez, têm ajustes de suspensão e direção notadamente voltados ao conforto, talvez de olho no público mais tradicional do Toyota Corolla, líder isolado do segmento de sedãs médios. No Volkswagen, até mesmo as borboletas no volante e o pedal do acelerador que pivota no assoalho (como nos BMW) da antiga geração foram abandonados.

Na hora de calcular os custos após a compra, os valores de seguro são semelhantes quando analisada a proporção em relação ao preço do carro completo. Já em valores de manutenção, o Jetta vence os rivais de lavada: nele, as três primeiras paradas (até 30 mil km ou três anos de uso) são gratuitas. Ainda assim, Cruze e Civic têm valores baixos para a categoria, de R$ 1.316 e 1.380, respectivamente.

Na soma das análises técnica e de mercado, o Civic vence os rivais, com 310 pontos, seguido de Jetta (301) e Cruze (291). O Volkswagen impressiona pelo pacote tecnológico de série, mas decepciona pelo retrocesso em alguns pontos na mudança de geração. O Cruze, por sua vez, agrada pelo conforto e preço inicial menor, mas deve consumo de combustível mais comedido. Embora seja o mais caro do trio, o Civic sai vitorioso pela eficiência proporcionada pelo conjunto mecânico, já que ele entrega o melhor desempenho com o menor consumo de combustível. Só poderia ser flex.

 

Confira detalhes de cada sedãs médios com motores turbo:

Veja a tabela de teste com os números de pista do comparativo Chevrolet Cruze LTZ x Honda Civic Touring x VW Jetta R-Line:

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