Parece que estamos em uma viagem no tempo, de volta aos anos 1950. Em cada esquina, garotas com lábios vermelhos desfilam usando vestidos estampados com bolinhas. Rapazes de suspensórios listrados e boinas conversam sobre automóveis com as mãos sujas de óleo e graxa enquanto executam alguns reparos em seus velhos modelos Chevrolet, Oldsmobile e Ford. Para completar, a trilha sonora é um autêntico rock‘n’roll que soa do rádio de algum carro. Por algum tempo, esquece-se que estamos em 2015 e que não estamos nos Estados Unidos, mas sim em Bergring Teterow, próxima a Rostock, na Alemanha.
O Rust‘n’Dusty Jalopy é um dos poucos eventos alemães na linha dirt-track vintage que segue o modelo americano dos anos 1940 e 1950. Realizado pela sétima vez consecutiva, o evento não tem como principal atração conferir qual é o modelo mais rápido no circuito oval, mas sim reunir aficionados, apaixonados e curiosos por esse estilo de automobilismo.
“Acima de tudo, é sobre diversão e apenas por isso que estamos aqui”, explica Thomas, um fã da Ford, enquanto ele ajusta o seu Modelo A 1928. O carro parou no meio da corrida na noite anterior, mas ele não se importa. O que interessa é saber se o motor de quatro cilindros com novos pistões e carburador Holley ainda funciona corretamente. “Acabou o combustível”, diz, encolhendo os ombros. “Talvez eu pudesse subir ao pódio”, afirma Thomas, sorrindo. Enquanto isso, seu irmão se prepara para outra prova.
Mas o Rust‘n’Dust não é feito apenas de carros “comuns”. Lá é possível encontrar alguns modelos especiais, como um Buick Coupé 1937. “Na sua época, ele era o carro mais rápido que havia, mas, ao mesmo tempo, era muito silencioso”, conta Ralf, que cuida da preciosidade há 20 anos. “Por esse motivo, era um dos carros preferidos de gângsteres como Al Capone”, diz. “Enquanto os cofres dos bancos eram esvaziados, o motorista esperava na porta tranquilamente, com o motor ligado, sem chamar a atenção”, explica o homem vestido com um macacão de corrida branco, com um sorriso maroto.
Hoje, o seu belo Buick destaca-se nas exposições, mas nem tanto pela carroceria — que ainda mantém muitas partes originais —, mas principalmente pelo motor V8 de quase sete litros que, de acordo com Ralf, entrega 380 cv. As corridas são disputadas num oval de terra com 1,8 km de extensão e curvas inclinadas, que permitem manter altas velocidades na maior parte do tempo.
Quando a buzina soa, o som infernal dos motores em aceleração plena provoca arrepios. A atmosfera é inebriante, um delírio para os fãs de automóveis. A soma dos urros dos motores V8 e seis cilindros com o som da plateia resulta em algo como uma ópera. Para completar, ainda tem os motociclistas com suas clássicas de dois e de quatro tempos, compondo a trilha sonora.
Só que, como já foi mencionado, o resultado é o que menos importa. O Rust‘n’Dusty Jalopy é um grande encontro de aficionados por rock, Hot Rods e o estilo dos anos 1940 e 1950. Não é à toa que existam diversos quiosques vendendo de tudo. De hambúrgueres a roupas, passando por acessórios dos mais diversos tipos. Um cabeleireiro levou seu estúdio para o local e criava topetes e outros penteados com muito gel. Ao lado, um tatuador oferecia diversas opções de desenhos. Para coroar, no fim da tarde um festival reuniu dezenas de bandas (locais e até internacionais) de rockabilly e outros estilos vintage.
“Faz cinco anos que venho a Teterow”, conta Michael, de Berlim (distante cerca de 200 km), que viaja sempre acompanhado da mulher. “É muito bom estar aqui, é como uma grande reunião familiar, com a diferença que, a cada ano, a família fica cada vez maior”, diz, sorrindo. Ele tem razão: na edição deste ano, aproximadamente 2.500 pessoas compareceram ao evento e a previsão é de que no ano que vem esse número aumente para 3.000 visitantes, pelo menos.
O planejamento já começou.