A partir de novembro, a Mercedes voltará a oferecer carros blindados de fábrica em suas concessionárias. O primeiro lote vira com 20 unidades de Classe E 250, cujo preço deverá ficar 30% acima da versão normal. A partir dai, serão aceitas encomendas, cujo tempo de espera para a produção e entrega deverá levar em torno de seis meses. Essa operação havia sido temporariamente encerrada pela marca, devido a alta carga de impostos, que resultou em um preço final muito elevado para o consumidor.

O Classe S também é blindado, mas o modelo que chegará ao Brasil é o Classe E

Agora, utilizando a sua cota do acordo comercial entre os dois países, a Mercedes trará os modelos da fábrica de blindados que possui no México, com preços mais atrativos. No Brasil, o mercado de blindados esta em torno de 10.000 unidades por ano, segundo a Mercedes. Por enquanto, trata-se de uma operação pequena, mas com grande potencial, afirmou um dos executivos especializados em blindagem, na Alemanha.

A marca tem três indústrias de “armored cars”, ou carros blindados, no mundo: Áustria, Alemanha e México. Tivemos oportunidade de visitar a fábrica de Sindelfingen, próxima a Sttutgart, Alemanha. Há 80 anos, a marca produz blindados radicais, procurados por governos, policias, exércitos e particulares interessados por proteção, no mundo todo. 

Os modelos trabalhados são Classe S, Classe E, o SUV ML, o jipao G e uma limosine derivada do Classe S. Os carros chegam a ganhar o dobro do peso, por conta dos vários recursos de blindagem, que vão desde o nível 5 até o 10, o mais completo. O Classe S, por exemplo, tem proteção total do nível 10, resistente à mais dramática das situações. 

Assistimos a um vídeo com uma bomba explodindo debaixo de um Classe E convencional e a mesma situação com um blindado. Do comum, não sobrou quase nada e os passageiros teriam morrido. O blindado resistiu ao impacto, apagou o fogo com um sistema anti-incêndio e protegeu os passageiros. Mesmo que as pessoas possam se machucar, elas estarão a salvo.

Os sistemas de proteção reforçam basicamente o habitáculo, pois o motor consegue resistir, durante algum tempo, a um ataque a balas. O importante, segundo os especialistas, é dirigir apenas até tirar os passageiros da área do ataque. Os freios são sólidos, e não ventilados, feitos com compostos que conseguem parar com segurança um carro com todo esse peso extra. Eles são imensos e possuem uma pinça maior, no lugar de duas, na parte de trás do disco e mais eficiente para refrigerar o sistema. Precisam apenas de um metro a mais para frear o carro por completo.

Com a blindagem, os carros ganham praticamente o dobro do peso normal

Os pneus Michelin também são especiais, com uma cinta por dentro, e com mais reforços de aço nas rodas, para que rodem mesmo furado por balas. A velocidade com os pneus murchos pode ser de até 80 km/h, o suficiente para fugir do local. Fizemos um teste de slalon na pista da Mercedes com os pneus normais, para sentir a agilidade e a estabilidade do carro. Realmente, apesar do peso, o Classe E avaliado saiu-se muito bem! Depois, um pneu dianteiro foi esvaziado, para simular uma situação de ataque. O carro continuou com ótima estabilidade e apenas numa freada mais radical puxava um pouco para a lateral.

A Mercedes recomenda que os motoristas desses carros sejam treinados em cursos especiais que a marca oferece. Isso porque existem muitos recursos extras, alguns acionados manualmente. Aulas de direção defensiva e de como escapar desse tipo de emergência também são importantes.

Os vidros das portas e do para-brisa são feitos com várias camadas para resistir aos impactos mais fortes. Os tiros podem ser disparados no mesmo local, mesmo de perto, mas as balas não perfuram a carroceriaAlém dos componentes de aço, a Mercedes utiliza Aramida, um material composto de fibra de carbono patenteado pela Dupont, bem mais leve que o aço e muito resistente.

Entre os recursos utilizados há também suspensões especiais, reforçadas, para resistirem a todas as situações perigosas e radicais. Até o sistema de refrigeração especial entra em ação, após um ataque, para refrigerar o habitáculo e levar ar de fora para dentro: nesse momento, as portas são travadas automaticamente. São abertas manualmente, passado o perigo. A comunicado também e feita por intermédio de um sistema de som, com alto-falantes.

Por fora, não da para perceber que o carro é totalmente protegido, exceto pelos vidros mais grossos e pelos pneus que parecem maiores. O sigilo e a discrição, segundo os especialistas, são fundamentais como parte da proteção. Talvez por isso, 99% das encomendas são de carros pretos.

A preparação do carro não compromete o espaço interno

A Mercedes não divulga os números de vendas por razão de segurança. Mas a placa da fábrica informava que, naquele dia, seriam produzidos 16 veículos. Não existem estatísticas sobre quantas vidas foram salvas em função da blindagem. Mas o especialista que nos recebeu explicou que chegam agradecimentos do mundo todo. Quando acontece um ataque, se possível, eles recebem os carros de volta para análise. Se precisarem somente de reparo, os modelos são sempre enviados para um centro específico. 

Quando um carro desses é abordado por criminosos, entra em ação um sistema de alarme, com som muito alto, e as luzes começam a piscar. Um comprador esqueceu a chave no contato, bateu a porta e ela travou. Imediatamente os alarmes dispararam. A única solução foi esperar uma nova chave, que chegou em 48 horas.

A Mercedes também tem um grande mercado de comercialização de blindados usados, que talvez represente uma venda até maior que a de novos. Antes de voltarem para as ruas, esses usados passam por revisões completas e só são ofertados quando estiverem 100% seguros.

Também é possível alugar um blindado. De acordo com a região, pode sair em torno de 500 euros por dia. Mas isso depende bastante do risco do lugar e do tempo nos quais o carro será alugado. Apesar de todos os aparatos e reforços, o espaço interno dos carros manteve-se pouco alterado, ocupando apenas 2 cm. Os modelos que virão para o Brasil terão proteção 5, a básica já utilizada por aqui. Afinal, por enquanto, ainda não temos guerras e esse nível de blindagem já seria suficiente para proteger contra os nossos inúmeros criminosos.

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