Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, relembramos o feito histórico de Bertha Benz e suas conquistas que perduram até hoje

 

Você provavelmente já ouviu que Bertha Benz fez a primeira viagem de carro de longa distância na história. Mas você tem ideia de como foi essa viagem e os problemas que ela enfrentou até chegar ao destino? Para celebrar este 8 de março, Dia Internacional da Mulher, vamos relembrar esse dia histórico na indústria automotiva.

Primeiro, quem foi Bertha Benz?

 

Bertha Ringer nasceu em 1849 e recebeu o sobrenome Benz após se casar com o engenheiro Carl Benz, em 1872. Nessa época poucas mulheres tinham acesso à educação, mas ela vinha de uma família rica, o que lhe permitiu contrariar os costumes. Bertha se interessava por mecânica e desde cedo demonstrou curiosidade em saber mais também sobre engenharia, mecanismos diversos e ciências. E foi assim que logo se interessou pela invenção de seu pretendente, Carl, uma carruagem sem cavalos, quando eles se conheceram em 1870.

Bertha BenzApós o casamento, Carl usou o dote de Bertha para investir em sua empresa, a Benz & Cie, concluindo o projeto inovador em 1886. Porém, havia muita relutância das pessoas na época em aceitar ou investir nesse veículo, que parecia perigoso e desnecessário.

Muito além de ser apenas a esposa de Carl Benz, Bertha era determinada e estava pronta para fazer algo inusitado para provar a utilidade do Motorwagen. Assim, ela se tornou pioneira e lembrada até hoje por seus feitos e melhorias no que viria a ser a indústria automotiva.

E como foi a viagem?

Sem autorização ou mesmo conhecimento prévio do marido do que pretendia fazer, Bertha acordou bem cedo naquele dia, 5 de agosto de 1888, pegou os dois filhos e empurrou o Motorwagen até se afastar o suficiente da casa para ligar o motor sem despertar Carl, que ainda dormia. Deixou para ele um bilhete dizendo que passaria uns dias com sua mãe, para que não se preocupasse.

Assim que foi possível, ligou o motor e deu início à jornada rumo à casa de sua mãe. O objetivo era percorrer os cerca de 100 km que separava as cidades de Mannheim e Pforzheim. Ela seguiu acompanhada dos dois filhos: Richard e Eugen, de 13 e 15 anos de idade. Bertha tinha então 39 anos.

É importante destacar que, naquela época, não havia estradas asfaltadas nem sinalizações. Por isso, Bertha seguiu o caminho marcado no solo pelas carruagens e cavalos para não se perder.

Ela se preparou e planejou a viagem por muitos dias. Mesmo assim, surgiram vários problemas ao longo do caminho que exigiram o conhecimento prévio de Bertha em mecânica. Aliás, ela acompanhou o marido desde os primeiros test-drives do modelo, de modo que sabia as falhas mais comuns e como resolvê-las.

 

Quais foram os problemas encarados?

viagem de Bertha BenzEla precisou, por exemplo, limpar o cano de combustível, usando para isso o alfinete de seu chapéu. Também foi necessário utilizar uma de suas cinta-liga como material isolante no fio de ignição. Mas ela sempre consertava o veículo sozinha.

Uma das modificações mais significativas, contudo, é a melhoria no sistema de freios. Ao longo do percurso, Bertha notou que era difícil frear o veículo, especialmente em descidas, pois não havia atrito o suficiente. Basicamente, tratava-se de uma barra de madeira em contato com as rodas.

Ou seja, ela precisava antecipar os pontos de frenagem para evitar um acidente. Por isso, em uma cidade no meio do caminho, ela procurou um sapateiro e solicitou que fizesse duas correias de couro para cobrir a barra que fazia contato com as rodas. Nascia aí a lona de freio.

Outro problema era o combustível. O tanque do veículo tinha capacidade para 4,5 litros, o que permitiria rodar não mais do que 50 km. Quando o veículo enfim parou por falta de combustível, Bertha e os filhos empurraram o modelo até a vila mais próxima.

Lá, ela comprou ligroína na farmácia, pois a gasolina que conhecemos não era comum e nem existiam postos de combustível. Naquela época, os derivados de petróleo eram encontrados em produtos químicos, à venda em boticários.

E para completar a lista de problemas, Bertha teve que fazer paradas para recolher água em rios, fontes públicas ou qualquer lugar que fosse possível ao longo de todo o caminho para abastecer regularmente o sistema de refrigeração do motor. E ainda assim encarou casos de superaquecimento.

O modelo também não era muito potente, tinha um cilindro, apenas 2,5 cv e só duas marchas, chegando à velocidade máxima de 40 km/h. Por isso, muitas vezes os filhos precisaram descer e empurrar o veículo ladeira acima ou mesmo em estradas mais íngremes, porque ele não conseguia superar a subida por si só.

O fim da viagem

mapa da viagem de Bertha BenzApós 12 horas de viagem e muitas paradas para reparos, Bertha e seus dois filhos chegaram ao destino antes do pôr do sol. Ela então enviou um telegrama ao marido contando da viagem. Mesmo com os percalços, ela provou que a invenção não só era viável, como poderia ser utilizada por qualquer um. Afinal, fora guiada por uma mulher.

A família fez a viagem de volta mais uma vez dirigindo o modelo dias depois, por uma rota diferente. E dessa vez acompanhados por muitos jornalistas que esperavam ao longo do caminho para registrar a incrível invenção. Ao todo, foram mais de 180 km entre ida e volta. Logo, Bertha e a invenção de seu marido ficaram famosos em todo o mundo. Em uma grande ação de marketing, Bertha tornou o automóvel conhecido e levou Carl a fechar a venda de diversas unidades do Motorwagen.

Aliás, Benz Patent-Motorwagen, na verdade, batiza uma série de protótipos feitos por Carl Benz. O modelo usado por Bertha na lendária viagem era o terceiro feito por seu marido e que acabou se tornando o primeiro a ser produzido e vendido, ainda que em pequena escala. A patente original do automóvel de três rodas é de 1886.

Bertha e Carl Benz

Bertha e seu marido Carl Benz em um Benz-Viktoria de 1894

 

 

Fotos: Divulgação

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