Atualmente, a palavra de ordem no mundo parece ser equilíbrio. Seja na alimentação, na moda ou até na música, tudo depende do equilíbrio. Com os automóveis não poderia ser diferente. Que digam os engenheiros da Alfa Romeo, que conseguiram desenvolver um verdadeiro carro de sonhos, o 4C, que pesa ínfimos 895 kg, graças a um regime baseado em fibras. No caso, plástico reforçado com fibra de carbono. Com o tanque cheio e o motorista, o cupê chega a 1.024 kg, de acordo com a nossa medição. Isso significa uma relação peso-potência de 4,3 kg/cv. Fantástico!
Para duelar com essa máquina belíssima, escalamos outro ícone, o Porsche Cayman S, que, até a chegada do 4C, representava o objeto de desejo em termos de esportivo compacto. Mas é preciso lembrar que o Alfa é bem mais barato que o Cayman S, que pertence à categoria dos Premium. Em compensação, enquanto o roadster de Stuttgart oferece um acabamento impecável, no Alfa o motorista praticamente se encaixa em uma caixa de fibra de carbono. Não há peças mal encaixadas ou material de má qualidade visível, mas, mesmo assim, não dá para comparar com o rival alemão. Mas, ao se girar a chave no contato, o ronco do motor 1.7 turbo lembra o dos saudosos modelos do Grupo B do Mundial de Rali. Isso sim é trilha sonora!
É hora de partir. Mas, onde está a alavanca do câmbio? Em vez disso, só há quatro teclas. Uma com as letras A/M, outra com o número 1, mais uma com a letra N e a última com R. Traduzindo, o primeiro botão aciona o modo de trocas (automático ou manual, por meio das borboletas junto ao volante) da caixa robotizada de dupla embreagem TCT. O segundo mantém o carro em 1ª marcha, enquanto o outro coloca o sistema em neutro. O último aciona a ré. Para mudar o padrão de trocas, há o comando do sistema DNA (idêntico ao usado em alguns modelos da Fiat no Brasil), com as posições Dinâmico, Normal e Autonomia.
Pode-se até estranhar, mas em um carro no qual cada grama conta, eliminar a alavanca e todo o sistema de engates faz sentido. De qualquer forma, as borboletas proporcionam trocas rápidas e funcionaram perfeitamente durante a avaliação. Além disso, o carro exibiu excelente equilíbrio e o máximo de tração. Tudo devidamente embalado pela já citada trilha sonora das duas saídas de escapamento, que chega ao auge quando o acelerador está pressionado ao máximo e é aplicada a pressão de 1,5 bar do turbo.
Turbo sem trancos
Você pode perguntar: “então existe um turbo lag?” Nada disso. Embora o torque de 35,7 mkgf esteja disponível a partir de 2.200 rpm, o 4C demonstra vigor e disposição em qualquer rotação. O melhor é que você sente o “empurrão” do motor de maneira progressiva, sem trancos ou sobressaltos. Mas, apesar do comportamento exemplar, o resultado da aceleração de 0 a 100 km/h ficou 0s5 abaixo do anunciado pela fabricante, mesmo com o sistema de controle de arrancadas.
Enquanto isso, o que o Porsche Cayman tem a oferecer? Logo ao primeiro contato, a diferença de espaço é notável. Além de conforto, essa característica proporciona uma posição de dirigir mais elevada e, consequentemente, visibilidade melhor – detalhe para o qual a maior área envidraçada também contribui significativamente. Mas o Cayman ainda oferece um nível de acabamento mais refinado, com direito a tapetes mais grossos e um quadro de instrumentos completo e de fácil leitura. E se o motor turbo do Alfa 4C encanta com o seu ronco intimidador, o do boxer 3.4 de
6 cilindros do Cayman não deixa por menos.
Motor ligado, é só deslocar a alavanca do câmbio PDK… Ops! O modelo que nos foi cedido para este comparativo estava equipado com caixa manual. Nada contra o sistema com alavanca no padrão H e pedal de embreagem, mas não se pode ignorar a crescente popularidade dos câmbios robotizados de dupla embreagem. Além disso, é normal imaginar que se estivesse equipado com o PDK (sigla de Porsche Doppelkupplung, ou Porsche de dupla embreagem, em alemão), o Cayman obteria uma marca ainda melhor na arrancada de 0 a 100 km/h. No entanto, não se pode negar o prazer que só um carro com a tradicional alavanca para as trocas manuais proporciona. É uma espécie de volta às origens.
A cada engate, o motorista pode usufruir do que o Porsche oferece de melhor, sem filtros ou controles eletrônicos para interferir. Pelo contrário: no modo Sport Plus, a eletrônica contribui para a sensação de esportividade, providenciando uma pequena aceleração entre as reduções, como nas manobras de punta-tacco. O motor ronca bonito, respondendo de forma instantânea a cada pressionada no acelerador e garantindo uma sinfonia metálica a cerca de 4.000 rpm. Assim o cupê alemão consegue acelerar de 0 a 100 km/h em 5s.
A vantagem do turbo
Embora a marca registrada pelo Porsche na aceleração de 0 a 100 km/h tenha sido igualada pelo Alfa, é preciso lembrar que se trata de um embate entre um motor 6 cilindros de 3,5 litros contra um 4 cilindros 1.7 turbo. Assim. Os resultados do cupê italiano na prova são merecedores de destaque, mesmo com o modelo tendo de ser levado ao limite para registrar esses números. E se são rápidos para acelerar, os dois modelos não deixam a desejar na hora de parar. E aqui o 4C conseguiu brilhar mais uma vez, graças não só ao seu peso reduzido como – novamente – ao seu equilíbrio.
Em trechos sinuosos, o Alfa 4C parece estar em seu habitat. Equipado com a suspensão esportiva opcional, o carrinho de menos de 4 metros de comprimento se mostra “colado” ao chão, mesmo nas mudanças rápidas de faixa. É preciso provocar bastante o italiano para ele começar a desgarrar e, mesmo assim, as correções são feitas facilmente.
Já o Porsche utiliza um controle mecânico, que atua combinado com o câmbio manual e que custa 1.309 euros adicionais. Apesar do maior peso e do centro de gravidade mais elevado em relação ao do 4C, o Cayman, de maneira geral, se mostra superior.
Faltou mencionar um detalhe importante. Um dos motivos pelo qual a direção do Alfa consegue ser tão comunicativa é que ela não possui assistência. Isso mesmo, o cupê de estilo belo e moderno não tem qualquer mecanismo para tornar a sua direção mais leve. O motivo, como você já deve ter concluído, é a necessidade de aliviar peso. Afinal, mesmo sendo um carro leve, os pneus 235/35 ZR20 dificultam as manobras.
Os mais radicais podem até alegar que o 4C é um esportivo feito para os amantes de velocidade, mas é difícil imaginar alguém que se disponha a pagar 53.150 euros por um modelo desses sofrendo para manobrar o carro em um estacionamento. O Porsche é mais caro, sem dúvida, mas oferece um padrão de qualidade impecável. Tem mais: a capacidade de carga do 4C pode ser definida como pífia. Afinal, 151 kg é quase nada. O Cayman, por sua vez, acomoda 150 litros de bagagem e pode transportar até 258 kg de carga.
O rádio do Alfa 4C: pequeno, mas muito funcional
Eu sei o que você está pensando: “se no 4C, o motor garante a trilha sonora, para que se preocupar com o rádio?” Tudo bem, mas não se pode esquecer que, hoje, o sistema de som tem outras funções. Assim, decidimos avaliar o equipamento do 4C que, apesar do formato simples, promete muito. Para tanto, providenciamos dois aparelhos celulares (um iPhone 5S e um Samsung Galaxy S5) para conferir seus recursos, como a rapidez no pareamento, na conexão Bluetooth e nas respostas dos comandos por voz.
A qualidade do som (rádio, viva-voz e arquivos MP3) foi bastante convincente, assim como a rapidez das respostas. Contudo, é preciso cuidado durante as pronúncias dos comandos por voz. É fácil o sistema não entender o que se deseja fazer, exigindo a repetição das solicitações. Os aplicativos funcionaram sem maiores problemas, mas alguns programas, como o navegador do sistema Android, por exemplo, só puderam ser comandados pela tela tátil do smartphone, e não do rádio. Já o grande comando giratório e os botões bem dimensionados facilitam o manuseio. Mas, no fim, a conclusão é que, mesmo moderno, o sistema do Alfa 4C ainda precisa evoluir para se equiparar aos maiores — e mais pesados. Conclusão: embora prometa muito, o sistema de infoentretenimento do Alfa 4C não se mostrou satisfatório. Além de ser complicado de operar, muitos aplicativos só puderam ser avaliados parcialmente. É melhor investir em um aparelho mais conhecido e confiável.
Conclusão:
1º Porsche Cayman S: 397 pontos
No fim das contas, o Porsche Cayman S se mostrou mais versátil, pois pode ser utilizado no dia a dia (mesmo no trânsito pesado) sem exigir qualquer esforço ou adaptação por parte do seu motorista. Aliás, chega a ser surpreendente que o cupê alemão não tenha vencido este comparativo por conta do seu equilíbrio — um de seus principais atributos.
Com relação ao seu novo rival, o Cayman ainda consegue oferecer mais espaço, nível de conforto e até requinte, mesmo sendo uma versão de entrada. Como se não bastasse, este Porsche ainda oferece um desempenho empolgante e muita diversão ao volante.O aspecto negativo, como se poderia imaginar, está relacionado com o preço. Afinal, investir 75.613 euros em um cupê compacto para dois ocupantes, capaz de acomodar apenas 150 litros de bagagem não é para qualquer um. Ainda mais levando em conta que seus custos de manutenção também são elevados. Mas para quem procura um automóvel para se divertir em viagens rápidas nos fins de semana e tem condições de bancar o investimento, o Porsche Cayman S é, sem dúvida, a melhor opção.
2º Alfa Romeo 4C: 337 pontos
Os aficionados por automóveis celebraram o lançamento do 4C como o retorno em grande estilo da tradicional marca italiana. Com um belo visual, equipado com motor turbo e um preço não muito assustador, o cupê foi visto como o grande rival do Cayman entre os esportivos compactos. Este comparativo, porém, deixou claro que ainda faltam atributos ao novo Alfa para que ele possa competir em condições de igualdade com o rival alemão. Sem falar nos pequenos pecados, como a direção sem assistência ou na sua pífia capacidade de carga.
Ficha técnica:
Alfa Romeo 4C
Motor disposição/número de válvulas: 4 cil. em linha, turbo
Cilindrada (cm³): 1.742
Potência (cv): 240 a 6.000 rpm
Torque (mkgf): 35,7 a 2.200 rpm
Câmbio: dup. embr, 6 marchas
Suspensão (dianteira/traseira): independente
Peso vazio/cap. máx. de carga (kg): 1.024/151
Dimensões em mm (comp./larg./altura): 3.999/1.868/1.186
Entre-eixos (mm): 2.380
Diâmetro de giro (m) (esq./dir.): 11,5/11,3
Porta-malas (litros): 110
Tanque de combustível (litros): 40
Pneus (veículo testado): 205/40 ZR18 (dianteira); 235/35 ZR19 (traseira)
Porsche Cayman S
Motor disposição/número de válvulas: 6 cil., boxer
Cilindrada (cm³): 3.436
Potência (cv): 325 a 7.400 rpm
Torque (mkgf): 37,7 a 4.500 rpm
Câmbio: manual, 6 marchas
Suspensão (dianteira/traseira): independente
Peso vazio/cap. máx. de carga (kg): 1.407/258
Dimensões em mm (comp./larg./altura): 4.380/1.801/1.295
Entre-eixos (mm): 2.475
Diâmetro de giro (m) (esq./dir.): 10,9/10,8
Porta-malas (litros): 150
Tanque de combustível (litros): 64
Pneus (veículo testado): 235/35 ZR20 (dianteira); 265/35 ZR20 (traseira)